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    Lava Jato

    Temer vê Janot mais fraco, mas avalia que segunda denúncia será inevitável

    MARINA DIAS
    DE BRASÍLIA

    04/09/2017 20h43 - Atualizado às 00h11

    Fred Dufour/AFP
    O presidente Michel Temer durante reunião com os presidentes do Brics nesta segunda (4)
    O presidente Michel Temer durante reunião com os presidentes do Brics nesta segunda (4)

    O presidente Michel Temer viu enfraquecimento político do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ameaçar o cancelamento da delação premiada da JBS. Mas avalia que as investidas da Procuradoria seguem e que a apresentação de uma segunda denúncia contra ele será inevitável.

    Foi por telefone que Temer soube da decisão de Janot de investigar indícios de omissão de informações sobre práticas de crimes no acordo da JBS.

    Em viagem à China para a reunião da cúpula dos Brics, o presidente recebeu às 6h desta terça (5) –19h de segunda (4) em Brasília– a ligação de um assessor que o informou sobre a fala pública do procurador. Em seguida, mais uma ligação do Palácio do Planalto repassou a Temer o resultado do pronunciamento.

    Segundo auxiliares, o presidente reforçou a tese de que a delação dos executivos da JBS é "mentirosa" e de que havia "omissão" de dados nos depoimentos prestados pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, que comprometem diretamente o peemedebista.

    Joesley afirma que, em conversa gravada no Palácio do Jaburu, relatou a Temer que pagava pelo silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entre outros crimes, e que recebeu o aval do presidente, que nega qualquer irregularidade.

    A assessores, Temer disse que "a verdade vai prevalecer", mas avaliou que é inevitável que Janot apresente a segunda denúncia contra ele, desta vez por obstrução de Justiça e formação de quadrilha, nos próximos dias, antes que o procurador-geral deixe o cargo, em 17 de setembro.

    REPERCUSSÃO

    O Planalto acredita que a repercussão da decisão de Janot sobre a delação da JBS é "ótima" para o governo, pois terá reflexo político direto entre os parlamentares que irão votar o prosseguimento da segunda denúncia contra o presidente na Câmara.

    Na opinião de ministros e assessores de Temer, Janot perdeu força e mostrou que a delação da JBS é frágil, o que fortalece os argumentos de Temer entre os deputados.

    A tese que será ecoada entre os políticos é a de que a apresentação de uma segunda denúncia contra o presidente é "incoerente" e "açodada", visto que estaria baseada em um acordo "questionável".

    Como acredita que Janot vai cumprir seu cronograma e apresentar a nova denúncia contra ele, Temer irá, mais uma vez, apostar no espírito de corpo entre os políticos e no discurso de desqualificar os delatores –reforçado, inclusive, pela decisão de Janot em investigar possíveis omissões dos executivos da JBS.

    Para o presidente, isso servirá de argumento para convencer os deputados a, pela segunda vez, barrar a nova acusação formal contra ele.

    O Planalto acredita que, após a apresentação da nova denúncia contra Temer, a Câmara deve levar até duas semanas para votá-la em plenário. Assim que o presidente retornar ao Brasil, na madrugada desta quarta (6), vai se dedicar às conversas com os parlamentares para implementar seu discurso de convencimento.

    ESTRATÉGIA JURÍDICA

    Após conversar com assessores políticos, Temer falou ao telefone com seu advogado, Antônio Cláudio Mariz, para discutir sua estratégia jurídica a partir de agora.

    O advogado disse que não é possível avançar sem ver a peça que será apresentada por Janot, mas consentiu a ideia de apostar na fragilidade da delação e da narrativa da JBS.

    O presidente afirmou que é preciso saber mais sobre os fatos que estão nos áudios, classificados como "gravíssimos" por Janot, antes de se fazer um diagnóstico mais preciso e questionar a validade das provas contra ele.

    O procurador-geral declarou que, mesmo que o acordo da JBS seja rescindido, as provas produzidas até aqui continuarão válidas –inclusive as que ele diz que existem contra Temer.

    *

    VAIVÉM DA DELAÇÃO
    Como foi fechado acordo da J&F e o que pode mudar

    7 delatores

    1.829 políticos citados

    Data do acordo
    3.mai.2017

    Período das irregularidades
    2002 a 2017

    Consequências políticas
    > Instaurou-se a maior crise política da gestão Temer
    > Rodrigo Rocha Loures e Aécio Neves foram afastados do Congresso

    ACORDO SOB SUSPEITA
    Investigação pedida pela PGR nesta segunda-feira (4)

    Origem
    Gravação de cerca de quatro horas de conversa entre os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud

    Suspeitas
    > Indícios de crimes cometidos por agentes da PGR e do STF (Supremo Tribunal Federal)
    > Indícios de omissão de informações

    PRÓXIMOS PASSOS
    > Os delatores Joesley, Saud e Francisco de Assis e o advogado Marcelo Miller terão que depor até sexta-feira (8) para esclarecer o áudio
    > O escritório Trench, Rossi e Watanabe terá que informar em cinco dias as causas da demissão de Miller e da advogada Esther Flesch, responsável por sua contratação

    CONSEQUÊNCIAS
    > Se ficar provada qualquer ilicitude, o acordo poderá ser revisto e até rescindido
    > A eventual rescisão da delação não invalida as provas, segundo Janot

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