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    Lava Jato

    JBS só entregou novo áudio porque PF encontrou gravação similar

    BELA MEGALE
    CAMILA MATTOSO
    DE BRASÍLIA

    05/09/2017 13h38

    Divulgação/MPMG
    Ex-procurador da República Marcelo Miller
    Ex-procurador da República Marcelo Miller

    Representantes da J&F, controladora da JBS, decidiram entregar o áudio da conversa entre dois delatores citando o ex-procurador Marcello Miller depois de saberem que a Polícia Federal tinha uma gravação com conteúdo similar, segundo apurou a Folha.

    Conforme reportagem desta terça (5), a PF havia recuperado um áudio que já citava o ex-procurador em aparelhos entregues pelos delatores.

    Miller é o principal personagem da polêmica que se criou em torno da delação premiada da J&F. Desligado oficialmente da Procuradoria em abril, os áudios mostram que ele teria atuado na negociação da delação do grupo quando ainda estava vinculado ao órgão.

    O ex-procurador chegou a se reunir ao menos três vezes com o dono da J&F, Joesley Batista, para tratar do assunto, além de ter participado de reuniões no Ministério Público Federal em pelo menos três oportunidades.

    Dois envolvidos no caso afirmaram à Folha que diferentemente do que foi dito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não foi um acidente o envio da gravação. Eles disseram que o objetivo era o de minimizar damos aos benefícios concedidos aos delatores.

    Na segunda-feira (4), Janot afirmou que o arquivo teria ido para a Procuradoria de maneira acidental, no meio de novas gravações envolvendo políticos.

    A versão relatada pela J&F é que esse áudio foi feito após uma conversa entre o dono da empresa, Joesley Batista, e o lobista do gripo, Ricardo Saud, com o ex-senador e presidente do PP Ciro Nogueira.

    Representantes da empresa, porém, não responderam por qual motivo não entregaram um arquivo identificado com o nome de Marcello Miller mostrando que havia uma conversa suspeita envolvendo o ex-procurador.

    O novo áudio foi enviado na manhã desta terça (5) para o ministro Edson Fachin, que vai decidir sobre o sigilo do material.

    A gravação encontrada pela PF na perícia já está no Supremo desde o meio de junho e teve o seu sigilo decretado no dia 30 de agosto, pelo próprio Fachin.

    PERÍCIA

    Segundo relatos de quem ouviu a gravação encontrada pela PF, é possível identificar interação de ao menos três pessoas: Joesley, Ricardo Saud, outro colaborador da JBS, e Francisco de Assis e Silva, advogado e delator da JBS, esse último por telefone.

    A gravação integra grupo de sete mídias recuperadas nos aparelhos entregues pelos executivos para a perícia –todas foram enviadas em CD para o ministro Edson Fachin, relator da investigação, no final do mês de junho.

    Investigadores já suspeitavam que a entrega do novo áudio só acontecera pelo achado da perícia.

    Janot e outros procuradores já haviam escutado a primeira gravação, mas argumentam que ela não poderia ser levada em consideração por se tratar de um diálogo entre clientes e advogado (Francisco de Assis e Silva), o que é protegido por lei. Assis e Silva, além de advogado, também é delator da JBS.

    O presidente Michel Temer, denunciado após revelações feitas por Joesley, tentou em pelo menos duas oportunidades ter acesso aos arquivos recuperados.

    Só teve resposta exatos dois meses depois, quando Fachin decidiu, no último dia 30, pelo segredo de Justiça, com o mesmo argumento da Procuradoria, de conversa entre cliente e advogado.

    O tempo de demora para a decisão chamou a atenção de envolvidos no caso.

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