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    Grupo erudito voltado a repertório contemporâneo lança CD

    MANUEL DA COSTA PINTO
    COLUNISTA DA sãopaulo

    24/05/2012 09h00

    Depois de amigável discussão com um colega de trabalho, o jornalista Marcos Maciel, sobre a música eletrônica, vi-me na obrigação moral de conhecer melhor as atrações do Sónar, festival de "música avançada e new media art" que aconteceu em São Paulo no penúltimo fim de semana (e que vilipendiei de modo leviano).

    Ao ouvir atentamente alguns dos grupos mais incensados no folguedo techno, a conclusão é que existe um abismo terminológico: termos como vanguarda e experimentalismo são usados, ao lado de jargões como "synth pop" ou "drone", para designar gêneros em que o timbre digital introduz ruídos em harmonias convencionais (caso do veterano Ryuichi Sakamoto), alternando batidas frenéticas e pesadas massas sonoras (o "drum'n'bass" do Flying Lotus, o "ambient" do KTL).

    Divulgação
    Músicos do grupo Camerata Aberta, único estável do Brasil voltado à produção erudita contemporânea, tocarão no Sesc
    Músicos do grupo Camerata Aberta, único estável do Brasil voltado à produção erudita contemporânea, tocarão no Sesc

    A sensação é a de que tais intensidades e distorções se dirigem menos à estrutura musical do que à experiência corporal (com telões em 3D e acústica acachapante).

    Ocorre que arte é "una cosa mentale" (dizia Leonardo da Vinci) e é nessa direção que caminha a linhagem musical que estabeleceu as noções de vanguarda e experimentalismo.

    O lançamento de "Espelho d'Água", da Camerata Aberta, é uma rara oportunidade para conhecer a produção de "compositores especulativos da música nova", como escreve Flo Menezes no encarte desse primeiro CD da única formação brasileira voltada ao repertório contemporâneo.

    O disco traz obras do italiano Franco Donatoni (1927-2000) e de compositores atuais, como o português Miguel Azguime, o alemão Oliver Schneller e os brasileiros Silvio Ferraz e Sergio Kafejian (diretor artístico da Camerata).

    Sob regência de Guillaume Bourgogne, peças de Rodrigo Lima e Roberto Victorio parecem fazer uma ponte improvável entre o lirismo abrupto de Schoenberg ou Alban Berg e o choque de timbres promovido por Varèse. Tais aproximações servem para dar ideia do grau de complexidade dessas obras e de como valores estéticos antes excludentes (lógica rigorosa e efeito hiperbólico) podem se amalgamar numa linguagem mais estabilizada --cujas variações, para além de vanguardas e experimentalismos, são acompanhas pela espetacular Camerata Aberta.

    "ESPELHO D'ÁGUA"
    Artista: Camerata Aberta
    Gravadora: Selo Sesc (R$ 25)

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