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    'Nos anos 80, cachorro só tomava remédio de gente', diz pioneiro dos pet shops

    CLAUDIA JORDÃO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/05/2013 02h30

    Os pet shops surgiram em São Paulo no início dos anos 1980. Até então, os poucos produtos para cães e gatos, como ração, coleiras e comedouros, eram vendidos em aviculturas, que ainda existem na periferia e no interior.

    Uma das primeiras foi a Chic Dog, na Vila Pompeia, zona oeste. Fundada em 1981, ela funciona até hoje sob a administração de Toshikazu Okamoto, 65.

    ABAIXO, A ENTREVISTA COM TOSHIKAZU OKAMOTO:

    sãopaulo - Como era o mercado em 1981?
    Toshikazu Okamoto - A minha loja foi a terceira a abrir na cidade. Das duas primeiras, uma fechou e a outra trocou de dono e encolheu de tamanho. Comecei vendendo pescoço de frango e carne de boi moída e congelada para as pessoas alimentarem os seus cães. Na época, quase não havia ração e as pessoas torciam o nariz para as primeiras marcas, não confiavam muito. Cheguei a vender carne até mesmo para leão. É que havia muitos circos na região.

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    O que mais comercializava?
    A oferta de produtos era bem menor. Foi quando algumas fábricas daqui começaram a copiar produtos dos Estados Unidos. Eu vendia coleira, guia, corrente, comedor, bebedor e escovas. Medicamentos veterinários, por exemplo, quase nem existiam. Naquela época, cachorro só tomava remédio de gente.

    Como fez clientela?
    No início, eu ia a exposições de animais vender produtos e entregar cartões. Hoje em dia, tenho os meus truques.

    Por exemplo?
    Optei por não ter veterinário na loja. É uma forma de garantir que os médicos da região indiquem o meu negócio aos donos de animais. Se houvesse veterinário aqui, nenhum deles me indicaria. Hoje, tenho clientes deste e de outros bairros. Alguns são bem antigos, frequentam aqui há 20, 25 anos. O animal morre, eles arrumam outro e continuam vindo.

    Serviço de banho e tosa costuma atrair clientes. Desde quando oferece?
    Desde 1990. É o tipo de serviço que não dá lucro, é uma ação estratégica. A pessoa quer resolver tudo no mesmo local. A parte mais difícil é lidar com o ego dos tosadores.

    Como assim?
    Eles se acham, agem como estrelas, assim como os cabeleireiros de famosos. Faltam, chegam atrasados, é complicado.

    O que te mantém tanto tempo no mercado?
    Só fica no ramo quem tem credibilidade. Quem é honesto e trabalha direito. Mas ainda assim é difícil. Há 25 anos, resolvi abrir outras lojas em outros bairros, mas por algum motivo não deu certo. Tive de vender quatro. Continuo sócio de duas, uma na Cidade Dutra e outra na avenida Tancredo Neves (ambas na zona sul da capital).

    Sente-se ameaçado pelas grandes redes?
    Acho que a demanda é grande e tem pra todo mundo. Aqui, por sermos menores, temos custos mais modestos. Por isso, conseguimos oferecer praticamente os mesmos preços de ração, que é o que as pessoas pesquisam e comparam. Além disso, damos tratamento personalizado. Os funcionários do balcão sabem os nomes dos animais. Isso agrada aos donos.

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