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    "Lá de onde eu venho, ser poeta dá um pouco de vergonha", diz escritor gaúcho Paulo Scott

    CADÃO VOLPATO

    30/06/2013 02h30

    Ele é poeta, mas pode chamar de romancista que ele atende. É ex-advogado e ex-skatista. Ele se chama Paulo Scott, tem 46 anos e nasceu no Partenon, bairro da periferia de Porto Alegre. E, neste ano, estará na Flip.

    Paulo é filho de um ex-policial e de uma ex-funcionária pública. O pai é negro, e o sobrenome britânico, Scott, é uma história perdida na família. A mãe tem sangue espanhol, índio e chileno.

    Aos 11 anos, era muito gago e, ainda hoje, vacila em algumas frases. "Tento resolver uma raiva antiga dentro de mim", diz. Hoje, vive no Rio de Janeiro, em apartamento comprado com o dinheiro dos tempos de sócio no escritório de advocacia Volkweiss, Scott & Campos.

    Vive de literatura e é reconhecido como um dos grandes da geração surgida nos anos 2000. Escreveu livros muito diferentes entre si: o romance de estreia, "Voláteis" (Objetiva, 2005), é um thriller com personagens que cometem pequenos delitos enquanto planejam um grande assalto. O penúltimo, "Habitante Irreal" (Alfaguara, 2011), trata de um jovem militante do PT, nos anos 1980, que se encanta com uma índia.

    POESIA MONSTRUOSA

    Antes, veio o poeta, autor de quatro livros, três deles com a palavra "monstro" no título -"O Monstro e o Minotauro" (2010), "A Timidez do Monstro" (2006) e "Histórias Curtas para Domesticar as Paixões dos Anjos e Atenuar os Sofrimentos dos Monstros" (2001).

    "Lá de onde eu venho, ser poeta dá um pouco de vergonha", diz. "Sempre me achei estranho. Sou o menos forte de uma família de gigantes, usava óculos, mas aprendi a me defender na rua."

    O menor entre os gigantes da família gostava de se enfiar em sebos para ler histórias em quadrinhos e, aos 14 anos, entrou em casa com um volume de "A Náusea", de Jean-Paul Sartre (1905-1980), o escritor, filósofo e cabeça dos existencialistas franceses. Descobriu ali um autor que falava da solidão humana, do homem como dono do seu destino, aberto para entender o mundo.

    Para escrever "Habitante Irreal", um dos romances mais importantes na literatura brasileira recente, Paulo mergulhou durante oito anos na questão indígena e nos problemas da saúde pública.

    "Habitante" é bem diferente do novo livro, "Ithaca Road" (Cia. das Letras), que será lançado na Flip e que, de certa forma, une as pontas de sua ficção.

    Aficionado dos esportes ra­dicais, ele sonhava conhecer a Austrália. O sonho foi realizado em 2008, quando passou um mês em Sydney. "Ithaca Road", uma história veloz sobre uma menina autista e uma neozelandesa mestiça, é o fruto concreto desse anseio.

    No apartamento onde vive com a namorada Morgana Kretzmann, 30, para quem está escrevendo uma peça chamada "A Fabulosa História da Mulher Mais Jovem do Mundo", Paulo montou o que ele chama de "Museu da Literatura Brasileira Contemporânea", uma reunião de obras de escritores que admira.

    Numa parede, uma fotografia de família mostra o pai de Paulo e os dois filhos diante de um Fusca. "Eu sou o mais branco", aponta. O irmão mais novo, André, é personagem do seu próximo livro, que deve ser publicado em 2016. O título remete à forma como o pai apelidou os filhos de peles tão diferentes.

    Vai se chamar "Marrom e Amarelo".

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