A primeira impressão que Josh Brolin passa é a de um sujeito amedrontador. Com 1,80m, mandíbula quadrada e poucos sorrisos, o ator de 46 anos intimida. A pose, no entanto, não passa de uma forma de esconder sua insegurança.
"Ainda tremo em entrevistas, cara." Uma afirmação estranha, vinda da pessoa que começou a carreira como o valentão teen de "Os Goonies", quase 30 anos atrás, e foi indicada ao Oscar por "Milk: A Voz da Igualdade", há cinco. "Não sou um ator cool. Eu estou sempre desconfortável nesta profissão", diz Josh.
A união de um biotipo ameaçador com uma personalidade sensível é o que atrai tantos diretores a seu trabalho. Woody Allen precisou de um escritor que convencesse como chofer ("Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos"). Oliver Stone queria alguém que incorporasse um grosseirão poderoso do Texas ("W."). Os irmãos Coen imaginaram um caipira que encontra uma mala cheia de dinheiro e tenta escapar de um psicopata ("Onde os Fracos Não Têm Vez"). Todos convocaram Josh Brolin.
Agora, ele encarna o fugitivo que cozinha tortas em "Refém da Paixão", de Jason Reitman ("Juno"), em cartaz no Brasil, e também o bêbado preso por 20 anos em "Oldboy - Dias de Vingança", dirigido por Spike Lee. Em ambos, ele faz um prisioneiro que precisa lidar com as consequências de seus atos.
Para o remake do violento filme sul-coreano, que estreia no dia 3 de abril, Josh engordou 12 quilos em dez dias e, depois, perdeu nove em apenas dois."Foi terrível física e emocionalmente", diz o ator. "Mas o pior era a sensação de que não estava fazendo jus ao original. Usamos muito do mangá, mas Chan-wook Park [diretor do original] é um amigo, então não sei se fiquei feliz ao fazer essa refilmagem."
Como explica o ator, Spike Lee tentou ao máximo desassociar seu longa do original asiático, mas o resultado ficou esquisito. A trama é fiel, jogando misteriosamente um publicitário canalha em um quarto de motel sem maiores explicações, mas o clima do remake é quase cômico. "Um amigo precisou parar o filme três vezes e não gostou. Outro viu três vezes e adorou. Ambos são ex-presidiários."
DE DELINQUENTE A CORRETOR
Não se espante. Josh Brolin pode ser um cara bacana, mas não é exatamente um bom moço. Aos 17 anos passou a andar com uma gangue californiana, a Cito Rats, com quem roubava carros e experimentava heroína (diz não ter gostado).
Na época, estreou no cinema no cultuado "Os Goonies", de Richard Donner. "Passei por situações perigosas, mas tive sorte. Alguns dos meus amigos morreram. Era um jovem estúpido."Apesar do sucesso com "Goonies", Brolin se viu preso a pequenos papéis na TV, que logo minguaram. A falta de trabalho o levou a arranjar um emprego como corretor de ações. "Eu era uma pessoa versátil. Precisava fazer as coisas sozinho, arrumar alternativas." O mundo das finanças, contudo, não o afastou do sonho de ser ator. Por quase 20 anos, Brolin pulou de ponta em ponta em papéis no cinema e na TV.
A persistência recompensou. Em 2007, recebeu a chance de que precisava ao ganhar papéis grandes em "Planeta Terror", de Robert Rodriguez, e "Onde os Fracos Não Têm Vez", dos irmãos Coen. "Eu não era chamado para nada havia 16 meses. Os dois filmes mudaram minha vida", diz. "Eu agora recebo mais grana e só faço o que me faz feliz."
Mas a tranquilidade durou pouco. No ano passado, foi preso, embriagado, por "intoxicação pública" e viu o casamento de nove anos com a atriz Diane Lane acabar. Josh foi preso outras duas vezes -por uma briga de bar e uma discussão com a ex-mulher. "As pessoas acham chocante um ator sendo preso, mas minha vida empalidece perto da dos homens que estão na cadeia", diz ele, que também dirigiu um documentário sobre presidiários.
O ator não tem disposição para respeitar protocolos ditados por assessores e agentes. "Já fiz filmes nos quais precisei beijar uma mulher que odeio e acho feia. Bancar o romântico, neste caso, não é fácil. A equipe sempre sabe que não gosto da pessoa e eu sei que, mais tarde, eles vão tirar sarro da minha cara."
O ator acaba de filmar a sequência "Sin City: A Dama Fatal", com Robert Rodriguez, e o próximo filme de Paul Thomas Anderson, "Inherent Vice", no qual faz um detetive ao lado de Joaquin Phoenix. "Me apaixonei por Joaquin mais do que por qualquer mulher na minha vida", diz. "É um ser humano maravilhoso e o melhor ator com quem trabalhei."
Foi ainda um dos finalistas para assumir o papel de Bruce Wayne em "Superman vs. Batman", de Zack Snyder. Perdeu para Ben Affleck, mas não guarda mágoas. "Estou feliz por Ben. Ele é perfeito como Batman, os fãs foram muito desrespeitosos com ele."
De todos os personagens que encarnou o único que grudou nele foi George Bush. "Não tenho essa bobagem de ficar com o personagem dentro de mim. Só aconteceu quando interpretei o presidente Bush em 'W.'. Não conseguia contar uma piada sem soar como ele", diz. "Foi um inferno."
