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    'Fiz coisas diferentes, mas ninguém viu', diz Hugh Jackman, ex-Wolverine

    SILAS MARTÍ
    DE LONDRES

    26/11/2017 02h00

    Ben Watts
    O ator australiano Hugh Jackman, que estrela o filme "O Rei do Show". DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
    O ator australiano Hugh Jackman, que estrela o filme "O Rei do Show".

    Era quase verão em Londres. Hugh Jackman vestia uma camisa aberta no peito e shorts que cobrem só metade das coxas. Os músculos do ator que encarnou Wolverine no cinema ao longo das últimas duas décadas mal cabem nas roupas, como se do nada as garras de metal de seu personagem mais famoso fossem saltar para fora numa explosão de raiva. Mas o mutante ficou para trás, e Jackman é dócil e charmoso além da conta, um sedutor escolado.

    "É importante saber quando ir embora, porque é isso que impulsiona a gente para a próxima coisa. Se insistimos em algo além de seu tempo, acabamos sem ideias e energia para o que vier depois", ele dizia, sobre o fim de seu trabalho na franquia dos "X-Men". O último episódio, com o personagem já um tanto decrépito, foi "Logan", que estreou no início deste ano. "Foi uma longa jornada, mas estou muito aliviado. Uma coisa que ajudou foi conversar com o Jerry Seinfeld e os motivos dele para deixar sua série depois de tantos anos."

    Depois de seis filmes e bilhões de dólares de bilheteria graças ao homem das garras, o ator australiano de 49 anos que se tornou um dos rostos -e corpos- mais adorados de Hollywood se prepara para mais uma metamorfose. No rastro do mutante carrancudo e de Jean Valjean, o herói de "Les Misérables" que viveu no cinema há cinco anos, Jackman quer juntar tudo que aprendeu em sets de filmagem num único personagem.

    Phineas Taylor Barnum, ou P.T. Barnum, como entrou para a história, foi o dono de um circo-museu do século 19 em Nova York considerado o embrião do showbusiness moderno. Mulheres barbadas, estranhas sereias, anões, trapezistas, leões e elefantes faziam parte do elenco de apresentações alardeadas como o maior espetáculo imaginável. Jackman leu um caminhão de livros sobre a figura de "O Rei do Show", biografia romanceada de Barnum que chega aos cinemas no Natal, e às vezes fala como se fosse o personagem, misturando ideias de Barnum com as suas.

    Adeus Ao Herói

    "É um risco grande. É um filme grande. E já tinha essa expectativa em Hollywood, essa vontade de fazer coisas grandiosas porque a TV está fazendo coisas grandiosas. É um risco. É muito dinheiro para o estúdio e tem muito a ver com Barnum", diz Jackman.

    "No tempo dele, Barnum era muito contemporâneo. Tudo era novo, tudo era para que todos amassem. Ele queria que todos saíssem do espetáculo amando tudo, felizes e gritando de alegria."

    Jackman, no caso, prefere cantar de alegria. "O Rei do Show" é um musical de época com canções escritas por Benj Pasek e Justin Paul, a mesma dupla por trás de "La La Land", o longa açucarado estrelando Emma Stone e Ryan Gosling que ressuscitou a indústria de musicais em Hollywood depois de vencer uma enxurrada de Oscars neste ano. Agora, um dos maiores galãs de Hollywood quer um musical feito sob medida para sua voz e seus músculos.

    Mesmo quando dava socos, pontapés e navalhadas no cinema na pele de Wolverine, Jackman já cantava em musicais da Broadway. Na mais bem-sucedida dessas aparições, ele fazia uma espécie de pot-pourri, cantando clássicos de produções históricas para o deleite de nerds do gênero, entre elas "Somewhere Over the Rainbow", um dos hinos de "O Mágico de Oz".

    Ele não vê, aliás, qualquer conflito entre ser ao mesmo tempo um machão que fala grosso com mutantes do mal e os delicados passos saltitantes às vezes exigidos pelas coreografias dos musicais. "Quando ainda estava estudando artes dramáticas, ficava pensando que nasci na época errada. Os atores da velha guarda faziam tudo. Todos eles, Cary Grant, Paul Newman, Clint Eastwood, faziam musicais, cantavam, dançavam e também faziam filmes de faroeste", diz Jackman. "Eu lia sobre esses caras e pensava que também queria cantar, dançar, fazer musicais. É isso que eu amo. Foi uma ironia eu ter ficado famoso como o Wolverine."

    Jackman lembra que chefões dos estúdios de Hollywood faziam pressão, no início de sua carreira, para que ele escolhesse uma persona na indústria e não largasse. No caso dele, parecia que sua missão era fincar para sempre as garras no herói sorumbático e caladão da Marvel e se dar por satisfeito com milhões de dólares de cachê.

    "Durante muito tempo, diziam que era ruim eu fazer tantas coisas diferentes, que eu acabaria irrelevante e seria punido por isso. Sempre me diziam para escolher uma coisa, ou musical ou filme de ação ou filme de super-herói", conta o ator. "Depois, há uns quatro anos, comecei a sentir que a narrativa era outra mesmo, que eu sei fazer coisas diferentes, que eu não precisava do Wolverine para estabelecer a minha imagem."

    Jackman já está rodando mais um filme em que encarna Gary Hart, um candidato à Casa Branca na década de 1980 que precisou abandonar a corrida eleitoral depois de um escândalo envolvendo uma amante. Ele também não deixa de fazer exercícios todos os dias pela manhã e receita protetor solar para todo e qualquer momento, talvez o segredo de sua juventude prolongada. Se Wolverine aos poucos se torna uma lembrança distante no retrovisor, Jackman quer continuar sendo o macho alfa de Hollywood só que com mais tempo para cantar e dançar.

    "Não tenho estratégias de reinvenção. Já fiz muitas coisas diferentes, mas, sendo sincero, acho que quase ninguém viu", lamenta o ator. "Todo mundo acha que eu sempre fui o Wolverine. Mas já fiz teatro, mil papéis. Muita coisa é possível. Só não estou vivendo uma crise de meia idade, não estou fazendo tatuagens, essas coisas."

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    Tailer de "O Rei do Show" (2017).

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