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    Ouvir música alta pelo celular vira moda e incomoda

    JULIANA CALDERARI
    colaboração para a Folha de S.Paulo

    09/02/2009 08h44

    Para quem já se incomodava com as conversas nos celulares --comuns nos restaurantes e nos cinemas--, a nova onda que está tomando São Paulo pode ser um pesadelo. Munidas de aparelhos potentes, a moçada decidiu abolir o uso dos fones de ouvido nos espaços públicos.

    "Tenho o fone, mas me incomoda", justifica Douglas Santos, 19. O estudante, que é fã de animês, ouve suas músicas preferidas aonde quer que vá. Em uma lanchonete na zona sul da cidade, Douglas já é reconhecido antes mesmo de entrar. "Pela música alta meus amigos já sabem que eu estou chegando."

    Sergio Zacchi/Folha Imagem
    Hiro comprou uma caixa de som para aumentar a potência da música do celular
    Hiro comprou uma caixa de som para aumentar a potência da música do celular

    Por causa da barulheira, Douglas foi obrigado a descer de um ônibus e já teve um de seus celulares jogados na parede por uma tia que perdeu a paciência. No metrô, já ouviu gritos de "Abaixa isso aí!".

    A estudante Vanessa Lacanna, 21, por exemplo, é uma das vítimas dos ataques sonoros nos trens. "Eram 6h da manhã e tinha um menino ouvindo música black muito alto. Foi irritante." Para se manifestar, os insatisfeitos já criaram comunidades no Orkut repudiando o hábito.

    Amizade

    Mesmo após ter levado alguns puxões de orelha, Douglas acredita que o retorno é positivo e que o som alto costuma lhe trazer novas amizades. Sempre que ouve algo interessante tocando no celular do próximo, não hesita em pedir para receber a canção via "bluetooth".

    "Aí já faço amizade." Dessa maneira, ele ganhou amigos em algumas das estações de metrô pelas quais passa diariamente e no bairro onde mora.

    William Barbosa de Almeida, 23, que foi encontrado ouvindo música dentro de um dos trens do metrô, conta que as pessoas costumam cantar e dançar quando gostam do repertório. "Gosto de deixar bem alto, para todo mundo ouvir." Embora nunca tenha recebido uma reclamação, ele garante que, caso aconteça, desliga o aparelho. "A ideia é curtir, e não atrapalhar."

    Disputas

    Bruno Monteiro de Lima, 21, trabalha em um escritório de advocacia na av. Paulista em que não é permitido escutar música. Por isso, sempre que tem a oportunidade de sair do prédio, leva junto um de seus três aparelhos celulares, e dá-lhe som. Sem os fones de ouvido, é claro. "Tem tanto barulho na cidade que é bom ouvir uma música para descontrair", explica.

    Na sua lista de mais tocados, reina o funk. É com esse gênero que Bruno costuma entrar em disputas de decibéis com amigos e desconhecidos.

    Funciona assim: ao perceber a música alta, o desafiante saca seu celular e o liga mais alto. Os dois seguem trocando de músicas e subindo o volume, até que ganha o dono do celular mais potente. Os "rachas" acontecem em todo lugar: no metrô, nos shoppings e em parques.

    "Aconteceu de um colega ligar um MP9 e não teve jeito. Tive que desligar o meu", conta.

    "Apesar de o volume do som ser alto, a qualidade [de reprodução] dos aparelhos celulares costuma ser ruim", adverte Régis Rossi Faria, do Núcleo de Engenharia de Áudio do Laboratório de Sistemas Integrados da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).

    O pesquisador lembra, ainda, que a exposição ao som entre 60 e 70 decibéis pode causar dor e desconforto e que, acima de 90 decibéis, há possibilidade de perda auditiva progressiva. Os celulares modernos podem passar disso.

    Paquera

    Insatisfeito com a potência do seu celular, Augusto Hiro, 18, resolveu comprar uma caixa de som. Na forma de uma simpática joaninha, o "speaker" já causou confusão logo de cara. "O segurança do shopping pediu para baixar o volume." Atualmente, Augusto leva seu inseto preso à bicicleta. Ele acredita que o som do celular ajuda na paquera --"Chama a atenção das garotas".

    Carla Souza Ferreira, 14, dispensa os fones de ouvido quando está com as amigas. Quando sai acompanhada, ela e suas colegas de escola curtem funk e hip hop dentro do ônibus.

    "Quando estou sozinha, fico com vergonha", diz. Por ser menina, Carla acha que os motoristas e os seguranças são mais tolerantes do que seriam com os garotos.

    Segundo os meninos, na hora de fazer barulho, elas são mais tímidas. "É difícil as meninas ouvirem música alto", afirma William, que trocou uma faixa de pagode com um trio de garotas no metrô. "É coisa de moleque", confirma Douglas.

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