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    App de mensagens instantâneas WeChat domina o mercado chinês

    DAVID BARBOZA
    DO "NEW YORK TIMES"

    21/01/2014 13h06

    A cada meia hora ou mais, Jenny Zhao, jovem e conectado, desbloqueia seu iPhone 5 para falar com amigos utilizando o Weixin, aplicativo de mensagens instantâneas amplamente popular na China.

    "Eu fico provavelmente seis horas por dia no Weixin", diz Zhao, 24, uma vendedora de cosméticos em Xangai. "Muito do que eu faço gira em torno dele".

    Weixin é um aplicativo muito popular no país, um serviço de rede social altamente viciante que permite que usuários com smartphones enviem mensagens e compartilhem notícias, fotos, vídeos e links. O serviço é bastante semelhante ao WhatsApp e ao Line, popular no Japão. Fora da China, a versão popular do Weixin é apresentada como o aplicativo WeChat.

    Petar Kujundzic/Reuters
    Fora da China, aplicativo Weixin é apresentado como o WeChat
    Fora da China, aplicativo Weixin é apresentado como o WeChat

    Apenas três anos após ter sido introduzido na China, o Weixin já tem quase 300 milhões de usuários –com taxa de adoção mais rápida do que o Facebook ou o Twitter–, o que dá ao aplicativo uma posição dominante no maior mercado mundial de smartphones.

    O aplicativo é responsável pela parada no crescimento do mercado de mensagens SMS da maior empresa de telefonia móvel do país e também forçou as empresas chinesas de internet a criarem serviços concorrentes.

    Analistas dizem que o aumento fenomenal no uso do Weixin pode derrubar qualquer chance que o Facebook venha a ser o líder do mercado no país. Em 2009, o governo Chinês bloqueou o acesso ao Facebook sem explicações. O Twitter e o YouTube também são bloqueados na China.

    Desde então, o Facebook deu a entender que pode tentar se reinserir no mercado, talvez pela parceria com uma empresa local, mas o sucesso do Weixin fez com que tudo ficasse mais difícil.

    "Mesmo se o Facebook tivesse permissão, provavelmente já é muito tarde", disse Wang Xiaofeng, um analista de tecnologia da Forrester Research. "O Weixin tem todas as funcionalidades do Facebook e do Twitter, e os chineses já se acostumaram com o serviço."

    O Weixin é uma criação da Tencent, uma companhia chinesa de internet conhecida pelo seus serviços de mensagens instantâneas e jogos online. A Tencent, que tem o capital aberto e vale mais de US$ 100 bilhões na bolsa de Hong Kong, está agora buscando se fortalecer em redes sociais e se expandir para novas áreas, como o pagamento online e o e-commerce.

    A Alibaba, gigante do e-commerce na China, já anunciou planos de entrar na disputa do mercado chinês com seu próprio aplicativo de mensagens recém lançado, o Laiwang.

    Enquanto isso, a Tencent está tão confiante em seu serviço que já promove o Weixin no exterior, mais especificamente no Sudeste Asiático, onde já existem dezenas de milhões de usuários.

    A empresa também já investe no marketing do produto na Europa e na América Latina, usando o nome WeChat. A companhia não informou quando ou se vai promover o serviço nos Estados Unidos.

    O Weixin pode ajudar a mudar as percepções globais sobre as empresas chinesas. Embora as companhias de internet do país ainda sejam consideradas imitações do Google, Facebook, Twitter e eBay, os analistas dizem que elas estão se transformando rapidamente em empresas dinâmicas com tecnologia inovadora e modelos de negócios únicos.

    O aplicativo Weixin, por sua vez, não é uma mera cópia de um serviço já existente, mas uma junção de várias ferramentas de redes sociais: parte do Facebook, parte do Instagram e até mesmo parte de um "walkie-talkie".

    Em vez de enviar uma mensagem de SMS digitando caracteres em chinês, o que pode demorar muito tempo, o usuário pode apenas segurar o botão que grava uma mensagem de voz.

    "As empresas chinesas de internet não estão mais atrás", diz William Bao Bean, um ex-analista de tecnologia que hoje é diretor-gerente da companhia de capital de risco SingTel Innov8. "Agora, em algumas áreas, elas estão liderando o caminho."

    Os poderes do serviço são indiscutíveis. O Weixin já estancou o crescimento do popular serviço de microblogging Sina Weibo, e corroeu a rentabilidade de um serviço oferecido por operadoras de telecomunicações, grandes estatais da China: o SMS.

    Na China Mobile, maior operadora de celular do país, a receita de serviços de SMS atingiu o pico em 2009, com cerca de US$ 9 bilhões. Três anos mais tarde, a empresa registrou uma queda de quase 20% e é muito provável que um resultado semelhante também tenha ocorrido em 2013, segundo estimativas.

    Analistas dizem que as mudanças tecnológicas geralmente matam empresas que reagem de forma mais lenta. No entanto, a ameaça de extinção também pode inspirar companhias a se reinventar ou buscar pelo próximo sucesso no setor.

    Foi isso que aconteceu na Tencent, que tem crescido num ritmo acelerado durante a maior parte da última década. Temendo o surgimento de uma tecnologia que pudesse acabar com esse sucesso, os executivos da empresa dizem que encorajaram os desenvolvedores de software e gerentes de produto a buscarem novas ideias.

    No final de 2010, Allen Zhang, o responsável pelo setor de pesquisas e desenvolvimento da Tencent em Guangzhou, organizou uma equipe de 10 desenvolvedores para trabalhar num aplicativo de mensagens de smartphone. Ele se inspirou no Kik messenger e temia que o produto dominasse o mercado.

    Três meses depois, a Tencent lançou o Weixin. Com uma interface elegante e fácil de usar, o aplicativo atraiu 50 milhões de usuários em um ano, e nos dois anos seguintes, chegou a quase 300 milhões no mundo todo.

    Os especialistas em tecnologia dizem que o Weixin tem o que todo executivo de uma empresa de internet sonha: viscosidade. Embora a Tencent não contabilize o tempo que os usuários gastam no serviço, analistas dizem que é provavelmente o múltiplo do tempo que é gasto em blogs ou redes sociais.

    Especialistas também dizem que a companhia tem uma grande oportunidade de ganhar dinheiro com o serviço gratuito. Ao introduzir jogos gratuitos –com itens disponíveis através de compra– e recursos de pagamento que podem ser usados online e offline, o Weixin pode se tornar um negócio rentável com pouca ou nenhuma publicidade.

    A empresa está testando o funcionamento do serviço para chamar táxis, reservar hotéis e voos, e ainda controlar televisores e eletrodomésticos.

    Em agosto de 2013, um analista de tecnologia da Barclays anunciou que o Weixin poderia ter 400 milhões de usuários e cerca de US$ 500 milhões em receita em 2014. Com os investidores antecipando o crescimento, as ações da Tencent subiram 94% em 2013.

    Alguns executivos da Tencent veem o Weixin como o salvador da companhia. No último ano, o presidente-executivo e cofundador, Ma Huateng –conhecido em inglês como Pony Ma– disse durante um discurso que o poder do Weixin era a mobilidade, como um "órgão portátil" que ao contrário do PC sempre vai com o usuário.

    Se o Weixin tivesse sido criado por outra companhia, disse Huateng, a Tencent poderia estar em declínio. "Olhando para trás, esses dois meses foram uma questão de vida ou morte."

    Há desafios, é claro. Um deles, dizem os analistas, é que os jovens chineses usuários de tecnologia são inconstantes e poderiam mudar rapidamente para outro serviço de mensagens.

    Outro desafio também poderia vir da rival Alibaba. Em agosto, A Alibaba proibiu os vendedores do site Taobao.com de usar o Weixin para comercializar seus produtos. A empresa apresentou, em seguida, seu concorrente Laiwang e anunciou planos para inserir jogos na plataforma móvel.

    Os planos de expansão da Tencent para o exterior também podem ser prejudicados por preocupações sobre a manipulação de informações de pessoas por uma companhia, que depois poderia ser forçada a entregá-las ao governo chinês, que tem controle rígido sobre os serviços de internet.

    Os executivos da companhia insistem que os riscos de espionagem são pequenos porque a empresa não armazena as mensagens em seus servidores.

    O acesso ao Facebook pode ser bloqueado na China, mas a empresa americana está vendendo publicidade para empresas chinesas e considerar voltar ao mercado.

    "Nós estamos interessados na China, mas não temos nenhuma decisão sobre como iremos nos aproximar do país", disse um porta-voz da empresa.

    Por enquanto, os consumidores chineses estão migrando para o Weixin. No trabalho, no metrô e em restaurantes, pode-se ouvir o som familiar de uma nova mensagem sendo recebida no aplicativo.

    "Eu uso o Weixin todos os dias", disse Zhang Shoufeng, 29, vendedora de alimentos e bebidas. "Meus amigos estão nele e meu chefe também. Nós estamos conversando sobre onde comer, onde sair e onde nos encontrarmos para conferências da companhia. É assim que nos comunicamos."

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