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    Superexposição nas redes sociais pode prejudicar formação das crianças

    BRUNO FÁVERO
    DE SÃO PAULO

    05/05/2014 02h00

    Benjamin, 2, ainda não anda com firmeza e, ao falar, mistura o português com o alemão, idioma nativo do pai. Mas, desde dezembro, já tem sua própria conta no Instagram –@BenjaminTheBaby– com 34 imagens publicadas e 160 seguidores.

    "Minha inspiração foi uma prima minha que fez um perfil para sua cachorra, a @TorradaLira, e fez muito sucesso", conta a mãe, a relações públicas Gisele Ferreira, 30, que alimenta a conta com fotos do filho.

    "O Benjamin é muito agitado e, por isso, sempre tiro fotos boas dele. Então resolvi criar o perfil", diz.

    Alessandro Shinoda/Folhapress
    Gisele Ferreira Bailer, 30, ao lado do filho Benjamin, 2, em sua casa, em SP
    Gisele Ferreira Bailer, 30, ao lado do filho Benjamin, 2, em sua casa, em SP

    A opção de fazer uma conta só para o filho, conta Gisele, foi para não encher de fotos as telas dos amigos. "Acho um pouco chato gente que posta muita foto do filho no Facebook".

    Benjamin não está sozinho. Um estudo feito em dez países –entre eles o Brasil– e divulgado em março pela empresa de segurança virtual AVG constatou que 80% dos pais de crianças de até 2 anos já puseram pelo menos uma foto dos filhos na web.

    E o compartilhamento começa cedo. Segundo levantamento feito no Reino Unido pelo site de fotos Posterista.co.uk, cerca de 57,9% dos bebês daquele país fazem sua primeira aparição na internet menos de uma hora depois de nascerem.

    Editoria de arte/Folhapress

    A primeira foto de Martim não foi parar na rede tão rápido, mas subiu logo no dia em que nasceu, há 5 meses. Autorizada pela mãe –a bióloga Nina Schubart, 24–, foi a obstetra quem publicou a imagem.

    Três meses depois, também foi para o YouTube o vídeo de seu nascimento –Nina, defensora do chamado parto humanizado, queria inspirar outras mães a adotarem o procedimento então deixou seu vídeo público.

    Depois do nascimento, as publicações de fotos continuaram nas contas do Facebook dos pais. "Eu sempre postei muita coisa sobre a minha vida, nunca me importei com isso", diz Nina. "Mas, depois que o Martim nasceu, passei a ter mais cuidado".

    Para a professora Belinda Mandelbaum, do IP (Instituto de Psicologia) da USP, a exposição dos filhos não é necessariamente ruim, mas exige reflexão dos pais, porque pode impactar a formação das identidades dos filhos.

    "A internet pode ser um bom canal para que familiares distantes acompanhem o desenvolvimento da criança, por exemplo, mas também pode ser usada para prática exibicionista, talvez até de competição entre os pais", diz a professora.

    "É possível [que a exposição excessiva cause] uma insuflação do narcisismo da criança —é como se tudo o que ela faz fosse digno de registro".

    ÁLBUM DE FAMÍLIA

    O fenômeno é diferente dos tradicionais álbuns de família, avalia Mandelbaum, porque fotos em redes sociais causam um impacto maior na formação das crianças.

    "Quando as fotos são publicadas em sites abertos, cria-se um ambiente de exposição muito maior que os dos álbuns, que tinham um sentido de compartilhamento apenas familiar", diz.

    O caminho é tentar evitar excessos e a exposição de situações muito íntimas.

    "A regra, se é que existe uma, é sempre levar em consideração o que, para a criança, pode ser difícil de tolerar no futuro" diz a professora. "É um exercício de tentar se colocar no lugar dela".

    "Eu evito publicar fotos dele nu ou em situações que podem constrangê-lo", diz Nina, mãe de Martim.

    Para reduzir o nível de exposição das crianças pode-se também restringir o acesso das fotos aos círculos de amigos e familiares ou até usar redes sociais especificas para compartilhar imagens dos filhos.

    Sérgio Lima/Folhapress
    Nina Schubart com o filho Martin Schubart Santarém, de cinco meses, que está nas redes sociais desde a gestação
    Nina Schubart com o filho Martin Schubart Santarém, de cinco meses, que está nas redes sociais desde a gestação

    SEGURANÇA

    Gisele, mãe de Benjamin, diz não ter receios de que a presença na redes sociais possa prejudicar a formação do filho.

    "Estamos acostumados a nos expor mais, e acho que isso vai ser ainda mais natural para a geração do Benjamin" diz Gisele.

    Sua maior preocupação é expôr o filho a riscos como sequestro e violência.

    "No começo, pensei em investir mais nas fotos para conseguir seguidores, mas por conta da questão da segurança acabei deixando a conta no Instagram voltada para os amigos e familiares", diz.

    Nina concorda com o aumento generalizado da exposição, mas não acha que a situação exija cuidados de segurança adicionais.

    "Não tenho muito a 'noia' do perigo da internet, são os mesmo do mundo real. Do mesmo jeito que eu não saio com um saco na cabeça do meu filho, não vou deixar de postar fotos na internet", diz.

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