Lucy Dikeou, aluna de terceiro ano na Universidade Stanford, está acostumada há muito tempo a usar o inglês e as imagens conhecidas como "emojis" para trocar mensagens de texto com os amigos em seu iPhone. Alguns meses atrás, ela começou a empregar um terceiro idioma em suas mensagens: os GIFs.
Quando Dikeou queria que uma amiga parasse de lhe enviar fotos de comida, recentemente, respondeu com um GIF, ou graphic interchange format, uma imagem animada que mostrava Christina Aguilera revirando os olhos, acenando negativamente com a mão e movendo os lábios silenciosamente como se estivesse dizendo "pare, por favor".
As mensagens que Dikeou envia com seu celular hoje em dia muitas vezes não contêm palavras, substituídas por imagens de Harry Potter aplaudindo, ou crianças entusiasmadas abrindo presentes de aniversário. Seu GIF favorito mostra o elenco de "Seinfeld" dançando entusiasticamente, e ela a enviou a um amigo quando este a informou de que estava chegando à cidade para uma visita.
"Posso expressar emoções realmente complexas em dois segundos", disse Dikeou, que não costumava enviar vídeos com seu celular antes de outubro, quando ela baixou o Riffsy, um aplicativo para aparelhos móveis cuja função é transmitir as imagens animadas.
Da mesma forma que os smartphones promoveram a ascensão dos emojis, os aparelhos móveis estão transformando os GIFs em uma forma mais usada de mensagem visual. O site de blogs Tumblr informou que 23 milhões de GIFs são postados em seus blogs a cada dia.
Em março, o Facebook começou a permitir o uso de GIFs, e mais de cinco milhões dessas pequenas animações são enviadas a cada dia por meio de seu app de mensagens. A Slack, uma empresa iniciante que promove a colaboração no local de trabalho, diz que registra mais de dois milhões de integrações de GIFs a cada mês.
No total, as buscas online por GIFs cresceram em 900% da metade de 2012 para cá, de acordo com a Experian Marketing Services, uma companhia de pesquisa setorial.
Embora essas animações curtas não sejam novidade –os GIFs foram criados em 1987 por Steve Wilhite, um programador da CompuServe, e sempre tiveram presença forte nos computadores de mesa–, importantes melhoras na tecnologia móvel e uma disparada no uso de aplicativos de mensagem estão levando os GIFs a se expandir para além dos velhos fóruns de mensagens online.
Eles se tornaram uma forma convencional de expressão digital, um meio de expressar sentimentos e pensamentos complexos em forma que vai além das palavras e até das fotos, o que os torna imensamente populares junto às audiências jovens que nunca saem de casa sem o smartphone.
As pequenas animações vêm sendo distribuídas por meio de aparelhos móveis com a ajuda de uma nova geração de startups dos GIFs, com apoio de grupos de capital para empreendimentos. A Riffsy, que produz um app que cria um teclado para GIFs em smartphones, arrecadou mais de US$ 23 milhões em capital. E existem numerosas outras empresas, como a Imgur, PopKey e Kanvas, todas ansiosas por editar e remixar imagens em vídeo para criar pacotes curtos prontos para compartilhamento.
Por enquanto, poucas dessas empresas estão lucrando com os GIFs, porque seu foco é propagar o uso desse tipo de vídeo. Mas as startups começam a ver um potencial de lucro, especialmente agora que marcas começam cada vez mais a integrar esse tipo de animação à sua publicidade e outras formas de marketing.
'DIGITAR É ANTIQUADO'
"Digitar é uma forma antiquada de inserir informação, e não se pode expressar a dimensão emocional adequadamente com apenas um punhado de emojis", disse Adam Leibsohn, vice-presidente de operações da Giphy, sediada em Nova York. "Os GIFs deixaram tudo isso para trás".
Os GIFs compartilham de certas características. Tipicamente, têm apenas alguns segundos de duração, não trazem som e podem incluir texto sobre uma imagem repetitiva.
O uso deles se estendeu à comunicação profissional, em certos casos como substitutos de textos. O Google recentemente enviou um GIF de uma criança erguendo as mãos para o alto a um repórter, como resposta a uma pergunta. Publicações digitais como o BuzzFeed usam GIFs regularmente como método de narrativa. E trabalhadores de escritório como Jerrod Howlett, funcionário do Google, usam GIFs regularmente para responder a e-mails.
"Não sou muito bom com palavras", disse Howlett. "Mas se encontro o GIF perfeito, está resolvido".
A tendência ecoa a ascensão dos emoticons com base em sinais tipográficos, mais tarde substituídos pelos emojis, uma linguagem pictográfica criada no final dos anos 90 pela gigante das telecomunicações japonesas NTT DoCoMo.
O uso do emoji, que se baseia em imagens com cara de cartum, explodiu nos países asiáticos, e eles hoje estão incorporados aos teclados de muitos smartphones. O Instagram, que conta com mais de 300 milhões de usuários, disse que cerca de 40% das imagens postadas no site incluem, hoje, pelo menos um emoji incorporado ao texto.
Os GIFs também estão se beneficiando da adoção de aparelhos móveis e das redes de celulares mais rápidas, que permitem transmissão instantânea de animações visuais. Na metade do ano passado, a Apple também abriu seu sistema operacional iOS para permitir que desenvolvedores instalassem novos teclados e facilitassem a inserção de GIFs em mensagens, o que resultou em uma explosão no número de novas empresas de GIFs.
"Estamos escrevendo textos cada vez mais curtos para uso em telas, sejam de computadores, smartphones, tablets ou do Apple Watch", disse Naomi Baron, professora de linguística na American University e autora de "Words Onscreen: The Fate of Reading in a Digital World".
Um GIF pode, de muitas maneiras, ser uma forma de comunicação visual mais efetiva que um emoji, porque o movimento na animação oferece maior gama de expressão.
"Um GIF empacota sua mensagem para você, e com isso você não precisa descobrir de que modo se expressar", disse Baron.
A Riffsy recentemente colaborou com a distribuidora de cinema 20th Century Fox para o lançamento de "Busca Implacável 3", filme de ação estrelado por Liam Neeson, e criou GIFs para que as pessoas usassem como mensagens. Um dos clips mais populares mostrava Neeson pulando de uma janela, repetidamente, com o subtítulo "YOLO" –sigla para "você só vive uma vez", em letras maiúsculas brancas.
"As pessoas compartilham esses GIFs de marcas como se fossem qualquer outra forma de conteúdo", disse David McIntosh, presidente-executivo da Riffsy. "A ambição de nossa companhia é realmente construir uma linguagem visível e aberta a todos".
CELEBRIDADES
Algumas pessoas no ramo de publicidade e entretenimento também estão abraçando os GIFs. Pamela Reed e Matthew Rader, um casal de Brooklyn que dirige vídeos, incorporou GIFs a campanhas publicitárias, nos últimos anos, para clientes de moda importantes como Adidas, Diesel e Ray-Ban.
Embora inicialmente tenham encontrado resistência, os dois disseram que os GIFs já não apenas uma brincadeira boba improvisada na edição, mas que são considerados como parte integral de uma campanha publicitária.
"As pessoas nem sempre querem ver um vídeo de quatro minutos", disse Reed, acrescentando que o conteúdo de marca em formato GIF pode ganhar circulação viral rapidamente porque o formato é fácil de compartilhar e pequeno.
"É uma forma de arte natural, inerente à internet", acrescentou Rader.
As redes sociais também veem oportunidades nos GIFs. O Tumblr lançou um serviço de busca que ajuda as pessoas a encontrar animações no site. O Imgur, um site de hospedagem de imagens e troca de mensagens, agora oferece um criador de GIFs, depois de perceber com que frequência seus usuários postam esse tipo de imagem. As duas companhias estão experimentando com formatos publicitários que incluem GIFs patrocinados.
Mas Alan Schaaf, presidente-executivo da Imgur, diz que nada disso funcionará como negócio se o conteúdo pago não for tão delicioso quanto os milhões de GIFs que as pessoas trocam a cada dia.
"É como a melhor parte de uma piada, repetida infinitamente", disse Schaaf, que criou uma equipe para usar GIFs como parte dos anúncios que os 150 milhões de usuários do Imgur verão. "É uma conexão emocional instantânea".
Tradução de PAULO MIGLIACCI