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    Na Hungria, a Casa do Terror guarda resquícios comunistas

    VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
    ENVIADO ESPECIAL AO LESTE EUROPEU

    28/04/2011 09h00

    Avenida Andrássy. Ali, no bulevar onde hoje estão as grifes de luxo e os "petits palais" da aristocracia húngara, uma casa de estilo neorrenascentista mantém um dos melhores acervos do que restou do comunismo.

    É a Casa do Terror, assim chamada por ter abrigado a polícia secreta soviética e, antes disso, ter sido a sede do partido nazista da Hungria.

    Vinícius Queiroz Galvão/Folhapress
    Tanque T-34 soviético boia sobre fossa de óleo na Casa do Terror, que tem estilo neorrenascentista
    Tanque T-34 soviético boia sobre fossa de óleo na Casa do Terror, que tem estilo neorrenascentista

    Nos porões, opositores do regime foram interrogados, presos, torturados e mortos. Quem fosse visto entrar naquele número 60 teria um destino certo, jamais voltaria. Tão realista quanto a história da casa é a coleção.

    Logo na entrada do museu, um tanque T-34 soviético boia sobre uma fossa de óleo. Na parede, de cima a baixo nos quatro andares, fotos das vítimas torturadas.

    Dois passos adiante, um conjunto de bustos e estátuas de líderes soviéticos como Lênin e Stálin e uma operária com uma cópia do "Manifesto do Partido Comunista", escrita em pedra. A ideologia não podia ser mudada.

    E um manequim com duas fardas, uma nazista, outra soviética, gira em torno do próprio eixo. Uma referência a que o mesmo carrasco serviu --não por ideologia, mas por dinheiro ou circunstância-- a dois regimes que, apesar de tão distintos, tocavam-se na brutalidade.

    PINTURA E ARQUITETURA

    Uma galeria de pinturas do realismo socialista, o estilo artístico oficial da URSS --na prática, uma política de Estado para a estética--, prepara os visitantes para os gabinetes de interrogatório.

    Na arquitetura, a mesma sala é decorada de três formas: 1) na de um membro do Partido Comunista, a luminária é rebuscada e a cadeira tem encosto, com forro; 2) para o camponês, a lamparina não tem detalhes e a cadeira não é forrada; 3) no proletariado, a luz é um bocal e o assento, um tamborete.

    Nos três espaços, pequenos retratos de Lênin enfeitam os ambientes, uma sutileza para mostrar que as paredes têm ouvidos.

    Mas é no porão onde a Casa do Terror é mais assustadora. Celas foram mantidas como foram deixadas: frias, úmidas e escuras. E as forcas ainda estão por toda a parte.

    Chamado de "Casa da Lealdade" na época das ditaduras nazista e comunista, o prédio é uma expiação do passado. É história pura, contada da melhor forma.

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