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    Folha defende regulação econômica da mídia, diz editor-executivo do jornal

    DE SÃO PAULO

    18/02/2016 00h01

    A Folha defende regulação econômica para evitar monopólios, o que é especialmente importante na área da comunicação. É o que explica o editor-executivo do jornal, Sérgio Dávila, que completa: "o que o veículo não apoia é qualquer tentativa de controle sobre o conteúdo".

    Em sabatina transmitida ao vivo pela "TV Folha" nesta quarta-feira (17), Dávila comentou as críticas que o jornal recebe –sobretudo nas redes sociais, sobre seu posicionamento político.

    Em seu "Manual de Redação", a Folha defende um jornalismo crítico, pluralista e apartidário.

    "Não enxergamos o noticiário com filtros tucanos ou petistas. O viés está no olho de quem o procura, não na cobertura do nosso noticiário", disse o jornalista às colunistas Monica Bergamo e Natuza Nery, editora do "Painel". Ambas participaram da mesa.

    Sérgio Dávila também comentou as recentes contratações de colunistas considerados controversos pelos leitores, como Kim Kataguiri, Reinaldo Azevedo e Guilherme Boulos. "Se o jornal deseja levar o pluralismo às ultimas consequências, deve aceitar as críticas" .

    DEBATES

    A transmissão foi o terceiro debate em comemoração ao aniversário do jornal. Na segunda-feira (15), Vinicius Torres Freire e Alexandre Schwartsman debateram a cobertura de economia do jornal. No dia seguinte, a escritora Antonia Pellegrino, do blog#AgoraÉQueSãoElas, debateu a abordagem sobre temas feministas com o colunista Luiz Felipe Pondé.

    A Folha completa 95 anos nesta sexta-feira (19). Como parte das comemorações, o jornal também realizará um ciclo de debates sobre os desafios do jornalismo no século 21 e a crise política e econômica brasileira.

    O Encontro Folha de Jornalismo será realizado nos dias 18 (quinta) e 19 (sexta) de fevereiro, no MIS - Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Os ingressos para o evento estão esgotados. O leitor poderá acompanhar a cobertura em tempo real pelo site.

    *

    Leia trechos da entrevista a seguir:

    Folha - Qual é o futuro do jornalismo e de seus profissionais?
    Sérgio Dávila - Eu sou um otimista, acho que o papel do jornalista profissional —esse ser que faz a curadoria, hierarquização e apuração da notícia seguindo critérios profissionais e padrões éticos— está garantido.

    O que está em questão é o modelo de negócios que vem sustentando as empresas de comunicação. Há várias experiências sendo feitas e não sabemos qual vai ser a mais bem-sucedida. Isso, sim, é objeto talvez até de preocupação. Acho que não está em risco o futuro do jornalismo profissional.

    Como essa crise de modelo compromete o jornalismo?
    A crise torna os recursos mais escassos. Como gestor, minha preocupação é não abrir mão de um time de jornalistas que investe em reportagens elaboradas.

    Temos uma equipe de repórteres especiais composta de 19 pessoas, cuja função primária é buscar histórias diferenciadas. Por mais que as planilhas nos oprimam a fazer uma Redação mais enxuta, o jornal não pode abrir mão de um time de repórteres especiais que faz seu principal produto, que é a informação exclusiva.

    Alguns críticos dizem que a Folha é tucana e trata de forma distinta o governo federal, do PT, e o governo Alckmin, do PSDB. Qual sua análise?
    A Folha não é um jornal tucano e cobre o governo estadual com o mesmo rigor que cobre o governo federal.

    Publicamos várias reportagens críticas à gestão Alckmin —a mais recente questionando o método de aferição dos índices de homicídio do Estado de São Paulo.

    Não enxergamos o noticiário com esse filtro tucanos/petistas. Cobrimos criticamente os poderes constituídos. Nos últimos 13 anos, o principal poder foi do PT. Quando a Presidência era do PSDB, também fomos críticos.

    Basta ler o livro "Diários da Presidência" (Companhia das Letras, 928 págs.), de Fernando Henrique Cardoso. Das cento e poucas menções à imprensa, 70 são à Folha, e a maioria, negativa.

    Nas eleições presidenciais de 2014, revelamos a construção de um aeroporto em Cláudio (MG), em terras que foram de um parente do então candidato Aécio Neves (PSDB).

    O jornal defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff?
    Não. O que a Folha defende é que esse processo seja resolvido rapidamente, seja pela abertura do processo de impeachment, seja pela vitória da presidente Dilma. O país inteiro está refém de uma questão política que está paralisando a economia e, em última análise, o país.

    A Folha foi acusada de perseguir Lula por noticiar que Marisa, mulher dele, mandou entregar canoa de R$ 4.000 em um sítio de amigos supostamente reformado por Odebrecht e OAS. O que acha?
    A Folha não persegue o presidente Lula.

    Essa revelação é um indício de que ela e o ex-presidente consideram aquele lugar um lar, um lugar com o qual estão familiarizados a ponto de mandar entregar coisas. Se eles estão mandando entregar uma canoa de R$ 4.000 ou um iate de R$ 4 milhões, é irrelevante.

    Essa notícia, aliás, foi parte de uma série de reportagens feita pelo jornalista Flávio Ferreira, de "Poder", um raro exemplo de notícia que não dependeu de vazamento de autoridade. Ele ficou um mês indo para Atibaia, conhecendo pessoas e fazendo fontes. Precisamos reconhecer esse trabalho do repórter.

    A Odebrecht, investigada na Lava Jato e assunto de várias reportagens, patrocinou o Encontro Folha de Jornalismo [ciclo de debates que comemorou os 95 anos do jornal]. Não é um contrassenso?
    Não acho. Os negócios da empresa não devem interferir nas prioridades editoriais da Redação e vice-versa. A Odebrecht é uma empresa constituída, tem CNPJ, endereço fixo, dezenas de milhares de funcionários. Acho essa discussão hipócrita. Vocês não iriam a um filme ou peça patrocinado pela Petrobras ou pela Odebrecht? Então, não verão nenhuma obra brasileira.

    Você considera que a mídia seja um poder e que, portanto, deve ser objeto da cobertura jornalística? É possível cobri-la de maneira crítica?
    A mídia é um poder e, como tal, deve ser coberta criticamente. O modelo que eu gosto é o americano, em que empresas de comunicação têm uma editoria que cobre a mídia em um sentido amplo. A gente ainda está longe disso, mas, no Brasil, quem mais se aproxima é a Folha, que tem uma cobertura de mídia constante.

    Como poder, a mídia se posiciona politicamente? Se sim, a ideia de imparcialidade não seria um mito?
    Todo poder pode ser exercido politicamente. Na Folha, procuramos seguir o DNA do jornal: ser apartidário, independente, pluralista. Claro que o jornal não será 100% imparcial porque é feito por pessoas que, por mais treinadas e capacitadas, eventualmente vão deixar vazar algum preconceito. Mas não podemos abrir mão de almejar essa busca pela verdade e pela imparcialidade.

    O jornal "The New York Times" defende abertamente um candidato nas eleições americanas. Não seria um sinal de maturidade da Folha fazer o mesmo?
    Não só o "New York Times", mas parte da imprensa americana e de outros lugares tem essa tradição. Aqui no Brasil, há veículos que já fizeram isso: "O Estado de S. Paulo", a revista "Veja", a "Carta Capital" e sites como o "iG". No caso da Folha, acho que iria contra o que eu chamei de constituição do jornal. Se você quer ser, por princípio, apartidário, independente, crítico a todos os partidos, é complicado declarar apoio a esse ou àquele partido.

    Há outro fator: os leitores americanos e britânicos, por fatores históricos, diferenciam melhor o que é editorial [opinião do jornal], o que é colunismo [opinião do colaborador do jornal] e o que é reportagem [noticiário]. Entre os brasileiros ainda há confusão.

    Há equilíbrio no time de colunistas do jornal? Peço que comente três contratações recentes que geraram polêmica: Reinaldo Azevedo, Kim Kataguiri e Guilherme Boulos.
    A Folha tem hoje 126 colunistas. Se o jornal se propõe a ser plural, tem que levar esse pluralismo às últimas consequências: fazer contratações que parte do seu leitorado seja veementemente contrária.
    Foi o que aconteceu nesses casos que você citou.

    Reinaldo Azevedo não precisa da minha defesa, tem o seu mérito e o seu valor, concordem ou não com suas posições políticas.

    Kim Kataguiri é um rapaz de apenas 19 anos, representante de um movimento que levou 200 mil pessoas às ruas de São Paulo em dezembro, a maior manifestação desde as Diretas-Já, de acordo com o Datafolha.
    Guilherme Boulos é representante de um movimento social legítimo, talvez com algumas ações que não sejam legítimas, mas com anseios dos quais ninguém discorda.

    Qual é a posição da Folha sobre a regulação da mídia? E por que esse tema aparece tão pouco no jornal?
    A Folha defende uma regulação econômica de qualquer setor, inclusive da mídia, para evitar monopólios. O que não aceitamos é qualquer tentativa de controle sobre o conteúdo. O jornal também defende autorregulação do setor, como o Conar faz na publicidade.

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