A chef gaúcha Roberta Sudbrack, cujo restaurante homônimo no Jardim Botânico está entre os mais estrelados e reputados do Rio de Janeiro, lança neste mês "Eu Sou do Camarão Ensopadinho com Chuchu", um livro "pop, livre e anárquico", que une receitas e cenas de bastidores do dia a dia de sua cozinha.
Tem um pouco de cara de revista e, para ela, trata-se de "uma declaração de amor à brasilidade feita em uma linguagem totalmente nova".
Renato Neto/Divulgação |
Tartare de abóbora, prato da chef Roberta Sudbrack |
"Eu mesma fiz a maioria das fotos com meu iPhone, sem produção alguma", diz. "Queria um retrato vivo, vibrante do que se passa na cozinha, minha vida como ela é de verdade."
A chef escreveu trechos do livro, que tem também colaborações do escritor Ignácio de Loyola Brandão, da atriz Bia Lessa, da jornalista Cora Ronai e do sociólogo Carlos Alberto Dória.
"Não tem capítulos, está tudo solto lá dentro. Sou muito rígida dentro da cozinha, quis dar vazão às minhas loucuras nesse livro."
Nana Moraes/Divulgação |
Aspargo branco com caramelo picante, receita que está no livro de Roberta Sudbrack |
Segundo ela, as 25 receitas podem ser feitas "tanto por donas de casa como por estudantes de gastronomia", mas não são o foco principal da publicação. Aprenda a fazer o aspargo branco com caramelo picante da chef.
Como uma colcha de retalhos, reúne frases, máximas, trechos de histórias e um encarte. Foi pensado "para ser rabiscado, recortado, levado para o banheiro. Quem não gosta de ler no banheiro?".
O resultado é um retrato fiel da chef, por um lado muito emotiva ("quero tocar as pessoas com minha comida") e, por outro, rígida e exigente ("sou brava mesmo, é uma loucura trabalhar comigo").
Autodidata, fez seu nome nos anos que comandou a cozinha do Palácio do Alvorada (quando Fernando Henrique Cardoso era o presidente), em Brasília e, desde aquela época, tem obsessão pela busca dos melhores ingredientes, por mais caros e inacessíveis que sejam, muitos comprados de pequenos produtores espalhados pelo Brasil.
Feroz defensora das técnicas tradicionais de cozinha, ataca sem dó, nos textos, o uso de máquinas e técnicas modernas, como a cocção a vácuo ("sous vide").
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A chef Roberta Sudbrack |
"O que é? Uma técnica desenvolvida para refeitórios e catering de avião, de hospital, de Exército. (...) A textura é ótima, ultramacia. Mas cadê a cor, a caramelização? Você pode comer carne, ou cartilagem, ou músculo -todos têm a mesma textura. Um pavor! Infestou o mundo!"
Sudbrack sabe que seu livro, como seus menus-degustação, não irá agradar a todos por ser um tanto fora da curva, mas diz-se muito feliz com o resultado.
"Não sei se é melhor ou pior do que os outros, mas a linguagem é nova e ele saiu diferente de tudo o que já vi por aí."
Até seu lançamento foge ao comum: deverá acontecer neste mês em uma banca de revistas do Leblon, na zona sul do Rio, bairro onde vive. Ela orgulha-se de remar contra a corrente: "Jamais seguirei uma autoestrada, só uma visceral".