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    Análise: Por hábito e preconceito, brasileiro não aprecia vinho doce

    MANOEL BEATO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    16/04/2014 04h00

    A ideia de que gosto é hábito revela que a preferência por um estilo está relacionada a fatores culturais. Gostamos daquilo que nos envolve ou que está próximo, ao alcance das mãos, da boca.

    A maioria dos brasileiros não tem hábito de beber vinhos de sobremesa: vinhos doces ou suaves, com doçura mais branda, às vezes licorosos, de textura melíflua, intensamente saborosos e muito apreciados em outros países, como França e Portugal.

    Nos restaurantes brasileiros, enquanto uma garrafa de vinho seco costuma levar uma ou duas horas para terminar, uma de sobremesa, cuja produção é ainda muito mais elaborada e custosa, pode demorar semanas na adega ou geladeira. Felizmente, são vinhos que perduram.

    Uma das razões desse desprezo vem do fato de, como consumidores emergentes, crermos que o bom vinho tem de ser seco. Vinhos doces ou suaves são associados a vinhos de garrafão, zurrapas que, ainda hoje, têm um importante mercado no país.

    Outro fator está ligado a um preconceito ridículo. Certos consumidores masculinos, que dominam o consumo de vinhos por aqui, argumentam que é "docinho", "é vinho de mulher". Macho bebe seco: vinho ou uísque.

    Há ainda um círculo vicioso, que inclui o desinteresse dos importadores, a desatenção dos restaurantes e o pouco espaço na mídia.

    Paradoxalmente, herdamos dos lusitanos um fascínio pelo doce bem doce. Não somos muito amigos dos sabores amargos ou "acidulous". Não é à toa que, entre os vinhos secos, preferem-se os mais maduros e macios: outra contradição.

    MANOEL BEATO é sommelier do grupo Fasano

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