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    Programa de reabilitação de presos ajuda na produção de vinho na Itália

    DO "NEW YORK TIMES"

    19/07/2014 17h00

    Os presos da colônia penal de Gorgona, na região da Toscana, na Itália, normalmente não são autorizados a consumir bebidas alcoólicas. Porém, os diretores da prisão abriram recentemente uma exceção quando guardas e presos brindaram juntos para celebrar a safra de 2013 de um vinho nomeado em sua homenagem.

    "Esta ilha é fechada", disse o diretor da prisão, Carlo Mazzerbo, durante o brinde.

    Gianni Cipriano/The New York Times
    Detentos checam os vinhedos da colônia penal de Gorgona, na Itália
    Detentos checam os vinhedos da colônia penal de Gorgona, na Itália

    "Mas ela está se abrindo e desafiando vocês, o que é importante", completou o diretor enquanto falava para um grupo de detentos e de especialista em vinho da imprensa que provavam o "Gorgona", que é feito de uma mistura das uvas vermentino e ansonica. "O problema da reclusão é sobreposto quando vocês começam a se abrir para fora destes muros", completou Mazzerbo.

    Essa filosofia é o que guia a penitenciária, onde os detentos trabalham nos vinhedos e em outras várias atividades relacionadas à agricultura, e têm livre acesso aos campos do amanhecer até o pôr do sol. E foi isso o que trouxe os Frescobaldis, uma das mais tradicionais e antigas famílias de produtores de vinho da Itália, para ajudar com esse novo projeto com os detentos.

    Nos últimos dois anos, os enólogos e agrônomos da Frescobaldi têm compartilhado os seus conhecimentos com um grupo de presidiários de Gorgona como parte de um programa que visa proporcionar aos encarcerados habilidades profissionais que poderão ser usadas por eles quando forem libertados.

    Nas cadeias italiana, o índice de reincidência dos presos é de 80%, "mas ao contrário, se forem proporcionados educação, treinamento e acesso a trabalho, a reincidência cairá para 20%", disse Lamberto Frescobaldi, presidente da marca e diretor do projeto com os presos.

    Gianni Cipriano/The New York Times
    Guardas na entrada da colônia penal de Gorgona, na Itália
    Guardas na entrada da colônia penal de Gorgona, na Itália

    Os internos devem se inscrever no programa para serem admitidos na colônia agrícola, que tem uma enorme lista de espera. Muitos dos presos querem entrar no projeto tanto pela experiência como pela oportunidade de sair das sempre superlotadas cadeias da Itália.

    Em janeiro de 2013, a Corte europeia para os Direitos Humanos, em Estrasburgo, na França, condenou a Itália por "tratamento desumano e degradante" nas suas superlotadas cadeias. A decisão ordenou o governo italiano a resolver o problema em até dois anos.

    Atualmente, cerca de 70 detentos estão na cadeia de Gorgona, de acordo com o superintendente da penitenciária, Alessandro Zaccaria.

    Os detentos que trabalham no projeto recebem 2/3 do salário de uma pessoa que trabalha com agricultura fora das prisões. "É bom não depender do dinheiro de nossas famílias", disse Ciro Amato, que cumpre 30 anos de prisão. "Pelo menos aqui você tem uma oportunidade. Na maioria dos casos, as pessoas saem das prisões mais furiosas do que antes".

    Neste ano, 2.500 garrafas do vinho "Gorgona" foram produzidas e a maioria delas são vendidas no mercado externo. Nos EUA, uma garrafa do vinho produzido com as uvas dos detentos de Gorgona é vendida por US$ 90 (R$ 200) e vem com a explicação sobre o projeto gravado nos seus rótulos.

    Com o sucesso das duas primeiras safras, a Frescobaldi está duplicando o tamanho dos vinhedos de Gorgona.

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