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    Festival de Pirenópolis vai do leite cru à cozinha-arte

    JOHANNA NUBLAT
    ENVIADA A PIRENÓPOLIS (GO)*

    14/09/2014 11h30

    Um produto redondo e branco apenas, sem um gosto característico e que está longe de ser o que já foi um tradicional camembert produzido na região francesa da Normandia. É o ponto a que se chegou após a rejeição do uso do leite cru e a incorporação de tecnologias que transformam o trabalho de 24 horas em somente quatro.

    Esse é o recado do documentário "Esses queijos que assassinamos" (França, 2007), exibido na noite deste sábado (13), durante o 5º Slow Filme –Festival Internacional de Cinema e Alimentação, exibido em Pirenópolis (GO).

    Divulgação
    O documentário "Esses Queijos que Assassinamos" fala sobre o uso do leite cru na fabricação de queijos
    O documentário "Esses Queijos que Assassinamos" fala sobre o uso do leite cru na fabricação de queijos

    "Quantos clientes seus já morreram depois de comer seu queijo?", provoca o jornalista que investiga, em um tour na França, o desaparecimento da tradição na produção dos queijos nacionais frente à pressão da indústria. "Espero que nenhum!", retruca um dos poucos produtores artesanais remanescentes na região.

    A discussão sobre a segurança sanitária do leite cru (não aquecido ou não pasteurizado) na fabricação de queijos transborda fronteiras –no Brasil, essa também é uma polêmica existente na produção dos queijos em Minas Gerais.

    O documentário coloca, em lados opostos, a indústria que argumenta falta de segurança do leite cru e a necessidade de produzir camemberts para o mundo todo –e no mundo todo, já que também são produzidos em países como Estados Unidos e Polônia–, e os produtores que temem que a modernidade leve ao "queijo kani", processado e sem sabores autênticos.

    "Assim não vai ter alma na fabricação, mas os publicitários vão nos fazer acreditar que tem", disse durante uma palestra após a exibição do documentário Bernard Charret, chef francês que coordena uma associação francesa que prega a produção sustentável. "Não vamos ter mais a emoção."

    A paixão pelo produto da terra, consumido na temporada da produção e com fortes raízes na tradição também pode ser visto no "A la bizkaina" (Espanha, 2013), documentário que revela a paixão pelo molho basco feito à base de pimentões.

    DA TRADIÇÃO À ARTE

    Contraponto a tudo que se viu, até aqui, na tela do 5º Slow Film, "O sonho –El Celler de Can Roca" (Espanha, 2014) arrancou suspiros do público ao mostrar a preparação e o desfecho de um jantar mais que especial produzido pelos três irmãos que encabeçam o restaurante que dá nome ao documentário –hoje tido como número dois no mundo, mas que, em 2013, foi premiado o melhor restaurante.

    O filme acompanha a pretensão dos três irmãos em transformar sua comida, já conceitual, em uma experiência multissensorial, acompanhada de música forte (com toques de ópera), imagens que atordoam (pela beleza ou força) e, até, uma louça arrojada.

    Sérgio Moriconi, curador do Slow Filme, diz que a exibição do filme espanhol teve o objetivo de criar opostos na tela: o queijo rústico e a hiper sofisticação de algo que se aproxima da arte pura. "Ali a terra desaparece."

    A experiência de 12 pratos servidos a 12 personalidades, como o chef-ícone catalão Ferran Adrià, fez com que o público deixasse o cinema sonhando o mesmo sonho dos três irmãos.

    O Slow Filme ainda exibe três sessões na tarde deste domingo (14).

    *A repórter viajou a convite da organização do festival.

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