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    Médico dobra produção de vinho em região com clima de deserto em Goiás

    TÂNIA NOGUEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    19/11/2014 02h00

    Está sendo um bom ano para o médico Marcelo Souza e Silva, 44. Dono da Pireneus Vinhos e Vinhedos, em Cocalzinho (GO), ele acredita que com a safra de 2014 sua produção deve passar de 4.000 para 9.000 garrafas.

    É o mesmo que dizer que a produção de vinhos finos de Goiás irá mais do que dobrar, já que Marcelo é o único produtor do Estado a fazer vinhos de uvas europeias.

    Em meio ao cerrado, a vinícola está a quilômetros de distância das zonas consideradas boas para o plantio de uvas viníferas. A primeira safra foi em 2008 e, ainda hoje, há quem o considere louco.

    Mas tanto o rótulo Intrépido quanto o Bandeiras têm sido reconhecidos por especialistas como bons vinhos, e todas as safras esgotam. E Marcelo está só começando nesse mercado. Depois de se formar em medicina em Goiânia, ele veio fazer residência em São Paulo e, como morava ao lado de uma importadora de vinhos, passou a frequentá-la.

    Em pouco tempo estava comprando de quatro a cinco garrafas por mês. Fazia plantões extras em Osasco e São Caetano para sustentar sua mais nova paixão. Devorava livros e revistas sobre o assunto, frequentava degustações e aulas sobre o tema.

    Em suas pesquisas, começou a se interessar por vinhos de regiões desérticas. "Austrália, Índia, Mendoza e até o Nordeste, todos de clima desértico, têm dado ótimos vinhos. E o cerrado tem um clima parecido. O dia é muito quente e a noite, bastante fria", diz Marcelo. "Amplitude térmica é uma das principais condições para uma boa uva vinífera. O solo é pobre."

    Quanto mais estudava mais ele acreditava ser possível fazer um bom vinho no cerrado. Em 2004, já de volta a Goiás, depois de procurar uma terra adequada, comprou quatro hectares a 900 m de altitude em Cocalzinho (GO), perto de Pirenópolis.

    Como chove muito no verão, o ciclo da uva teria de ser invertido –com poda, a vindima é no inverno, entre o fim de agosto e setembro.

    Em 2008, quando as vinhas tinham menos de três anos, ele quis fazer sua primeira safra. "Quase matei as parreiras. Em 2009, estavam tão fracas que o agrônomo queria arrancar tudo fora."

    Nos anos seguintes, elas não renderam mais que uma tonelada por hectare. Baixos rendimentos são considerados sinal de qualidade, mas não precisam ser tão baixos.

    Neste ano, Marcelo conseguiu quatro toneladas por hectare. "Finalmente, acertei o manejo da plantação", conta ele que, ao lado da mulher, Adriana, iniciou o enoturismo na Pireneus.

    Ela está terminando de cursar gastronomia e o casal deve abrir um restaurante com vista para os vinhedos. Por enquanto, oferecem almoço harmonizado numa varanda com direito a visita à plantação (R$ 120, tel. 62/8135-4334).

    BANDEIRAS 2012
    Leva as uvas barbera (80%), tempranillo (18%) e sangiovese (2%). Vinho tinto escuro, denso, com aromas de frutas vermelhas, especiarias e chocolate. Na boca, é frutado e tem taninos macios.
    Custa R$ 90 na vinícola

    INTRÉPIDO 2012
    Corte de syrah (87%) e tempranillo (13%). Também é escuro e denso. No nariz, aromas agradáveis de frutas escuras maduras e especiarias. Na boca, tem mais corpo e certa rugosidade.
    Custa R$ 80 na vinícola

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