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    Azeite de oliva, o elixir da vida do Mediterrâneo, vai faltar este ano

    DA AFP

    10/12/2014 18h10

    O azeite de oliva, uma bênção dos deuses do Mediterrâneo que, segundo cientistas, prolonga a vida, vai faltar este ano devido ao mau tempo e às pragas.

    A péssima colheita de azeitonas na Itália e em grande parte do sul da Europa ameaça não só a sobrevivência de alguns cultivos, mas também a possibilidade de comprá-lo a um preço acessível.

    Eduardo Knapp/Folhapress
    O azeite vai faltar este ano devido ao mau tempo e às pragas
    O azeite vai faltar este ano devido ao mau tempo e às pragas

    Os preços no atacado do azeite de oliva dispararam e os consumidores de todo o mundo certamente terão que pagar mais caro por este produto básico da elogiada dieta mediterrânea, cujos benefícios são destacados tanto por 'gourmets' quanto pelos nutricionistas.

    Nas montanhas da Toscana e da Umbria, na Itália, onde se produz um azeite extravirgem de aroma sutil, as colheitas foram particularmente afetadas pelo mau tempo que dominou o último verão (boreal).

    Na Espanha, produtora no ano passado da metade do azeite de oliva comercializado no mundo, deu-se uma combinação fatal de seca e bactérias que afetaram as oliveiras, o que pode fazer com que a colheita deste ano atinja apenas a metade da anterior.

    No sul da Itália, por outro lado, uma bactéria procedente da América do Sul está sendo muito nociva para as oliveiras.

    A MOSCA DA OLIVEIRA

    No coração da Itália, onde alguns azeites apresentados em garrafas de luxo são degustados como os grandes vinhos pelos especialistas, é a mosca da oliveira que põe em risco a produção.

    Em Fiesole, Toscana, a prensa sofisticada de Cesare Buonamici deveria trabalhar a todo vapor até o Natal. Mas as instalações estão paradas por falta de azeitonas para espremer.

    "Nossa produção caiu pela metade", explicou o experiente engenheiro.

    Segundo o Conselho Internacional da Oliveira, os preços das azeitonas no atacado já aumentaram 37% desde 2013, mas Buonamici avalia que o aumento do preço do azeite ao consumidor pode superar os 60%.

    A situação é a mesma um pouco mais ao sul, no sítio de Tenuta Ronci, onde são cultivadas oliveiras e videiras.

    "Este é todo o azeite que nos resta e é do ano passado", explicou Federico Leszczynski, mostrando com amargura uma garrafa meio vazia, em uma manhã nebulosa de inverno.

    "Este ano não produzimos uma única garrafa", acrescentou.

    Leszczynski é agrônomo do sítio, que tem 1.700 árvores em pouco mais de 4 hectares de terreno, que em boas safras produzem até 10.000 garrafas de meio litro de azeite extravirgem, vendidas a € 8 (R$ 25,75) cada uma.

    "No nosso caso, (a perda) será de 100%. Tomamos a decisão de não produzir azeite este ano porque a quantidade de azeitonas úteis nas árvores era tão pequena que não valia a pena colhê-las", comentou.

    A mosca da oliveira é muito sensível ao clima. No centro da Itália, uma combinação de invernos frios e verões quentes costuma impedir seu desenvolvimento.

    AZEITE RANÇOSO

    Mas, neste último verão, as temperaturas dignas do norte da Europa e as fortes chuvas favoreceram o ciclo de reprodução deste inseto, que põe seus ovos sob a pele das azeitonas.

    "Em alguns casos, o azeite está rançoso. Mesmo alguém inexperiente perceberia rapidamente", explicou o agrônomo, dizendo que, infelizmente, não resta grande coisa para colher.

    "Ao invés de três gerações (de moscas), este anos temos cinco, umas tão agressivas quanto as outras e todas perigosas para os frutos", destacou.

    "Teriam sido necessários vários tratamentos, o que teria sido muito caro, além de ser nocivos para o meio ambiente, o que deixaria traças no produto final", acrescentou.

    Mas a situação não é catastrófica para todo o mundo. A produção das oliveiras foi muito boa este ano em Grécia e Tunísia, cujos produtores esperam poder aproveitá-la para conquistar parte do mercado de alto nível.

    E o aumento recorde dos preços incita a plantar oliveiras em regiões onde há tradição ancestral. Segundo vários especialistas, a Austrália reúne todas as condições para se tornar um gigante do setor.

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