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    Restaurante em Brighton diz ser o 1º do Reino Unido a não gerar lixo

    MARIANNA ARAGÃO
    MARIANA CAMPOS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BRIGHTON (INGLATERRA)

    27/02/2015 02h00

    Cozinha aberta para o salão, cardápio escrito a giz nas paredes, chefs jovens e tatuados, rock dos anos 1960 na trilha sonora.

    Aberto em outubro do ano passado, o Silo parece mais um restaurante moderninho na charmosa cidade universitária de Brighton, no sul da Inglaterra. Mas por trás do verniz "cool" está uma causa nobre: ser o primeiro restaurante lixo zero do país.

    Na casa do chef Douglas McMaster, 28, ingredientes como manteiga, queijo, cerveja e cogumelos são produzidos no local. Carnes, leite e verduras vêm de produtores locais e são transportados sem embalagens. E os restos dos alimentos viram adubo –parte entregue a fornecedores em troca de mercadorias.

    Divulgação
    Interior do Silo, com o chef Douglas McMaster à direita
    Interior do Silo, com o chef Douglas McMaster à direita

    De acordo com o inglês, 95% de todo o resíduo gerado é reciclado, reutilizado ou transformado dentro do próprio empreendimento. A meta é chegar a 100% daqui a um ano.

    "O desperdício de comida se tornou um problema para mim ao longo dos anos, e decidi fazer algo a respeito", diz ele, que já passou pelo estrelado restaurante Noma, em Copenhague, e pelo St. John, em Londres, famoso pelo conceito "nose-to-tail" (do nariz ao rabo), em que se aproveita o animal quase por completo para cozinhar.

    "A experiência no St John me mostrou que devemos respeitar o alimento e tirar o máximo dele", diz McMaster.

    PRÉ-INDUSTRIAL

    Agora à frente do seu próprio estabelecimento, ele defende, além do lixo zero, um retorno à era de alimentos "pré-industriais".

    Isso significa, diz, lidar diretamente com as fontes produtoras, evitando o intermediário, e usar somente ingredientes sazonais e naturais.

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    Torrada de pão com feijão, ovos, bacon e cogumelos-ostra, do menu do brunch
    Torrada de pão com feijão, ovos, bacon e cogumelos-ostra, do menu do brunch

    "No sistema atual, a natureza é manipulada para satisfazer nossas necessidades. Isso resulta em alimentos sem vida, plásticos."

    Para inverter essa lógica, manter a simplicidade é fundamental. O restaurante, instalado num antigo armazém e que funciona também para o café, serve apenas seis opções de pratos diariamente.

    No dia em que a reportagem esteve lá, havia risoto de arroz integral com queijo fresco e cogumelos-ostra (os dois últimos produzidos no local; £ 9, ou R$ 41), carne de veado com aipo, alho selvagem e lentilhas (£ 14, ou R$ 63) e robalo com couve-flor e algas.

    Uma das estrelas da casa, disposta na entrada, é a máquina de compostagem. Dentro dela, até 60 kg de restos são transformados em adubo em 24 horas. A novidade, fabricada na Austrália, custou £ 20 mil (cerca de R$ 80 mil) e conquistou chefs como René Redzepi, do Noma.

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    No Silo, os cogumelos nascem sobre pedras e são usados na cozinha
    No Silo, os cogumelos nascem sobre pedras e são usados na cozinha

    Outro investimento foi um equipamento que faz a eletrólise da água, separando-a em uma solução alcalina e outra ácida. Os líquidos substituem produtos químicos na limpeza do local.

    As engenhocas dividem espaço com o mobiliário rústico do salão, feito com materiais doados por uma escola de design, e potes de geleias vazios que são usados no lugar de copos.

    McMaster diz que o custo para abrir o local foi de £ 80 mil (R$ 362 mil), mas, segundo ele, as práticas sustentáveis –como produzir ingredientes no local– ajudam a diminuir custos de operação.

    "A quantidade de dinheiro que teremos de gastar no futuro para lidar com o lixo vai acabar com muitos restaurantes. Por isso, todo esse esforço faz sentido."

    ETIQUETA DO SILO

    COMPOSTAGEM
    Uma máquina transforma restos inaproveitáveis de comida em adubo. O composto é doado à comunidade ou negociado em troca de insumos

    Divulgação
    Funcionária despeja restos de alimentos na máquina de compostagem
    Funcionária despeja restos de alimentos na máquina de compostagem

    FEITOS "EM CASA"
    Queijo, cerveja, pão, entre outros ingredientes, são produzidos no restaurante

    REUTILIZAÇÃO
    A borra do café é usada no cultivo de cogumelos, e a água da máquina de expresso vai para a descarga dos banheiros

    RESTOS VIRAM COMIDA
    Cascas viram ingredientes de cidras e refrigerantes. Também são feitos chutneys e geleias com as sobras

    SEM EMBALAGEM
    Para evitar plásticos e pacotes, fornecedores entregam as mercadorias em embalagens reutilizáveis (de leite e vinho, por exemplo)

    ÁGUA QUE LIMPA
    Um sistema de eletrólise transforma a água da casa em uma solução ácida e outra alcalina, que substituem o material de limpeza e o sabão

    MATERIAL ECOLÓGICO
    As bebidas são servidas em potes de geleia e os pratos são feitos de uma resina resultante do derretimento de sacolas plásticas

    PRODUTORES LOCAIS
    A casa não usa intermediários e compra diretamente de produtores e fornecedores de pequeno porte, que usam métodos sustentáveis –na criação de aves, por exemplo

    CARDÁPIO ENXUTO
    O menu do restaurante tem seis opções diárias e prioriza ingredientes da estação

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