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    Chef estrelado de Nova York é acusado de discriminar clientes asiáticos

    GIULIANA VALLONE
    DE NOVA YORK

    20/03/2015 02h00

    Ações trabalhistas não são novidade no universo dos restaurantes estrelados de Nova York. Nos últimos anos, casas com três estrelas no guia "Michelin", como Le Bernardin e Masa, tiveram de responder a processos movidos por ex-funcionários.

    Na maior parte dos casos, as ações envolvem reclamações sobre a divisão das gorjetas –que, nos EUA, respondem por grande parte da renda de quem trabalha no ramo– ou a jornada intensa.

    Mas um processo movido contra o Chef's Table at Brooklyn Fare, único restaurante três-estrelas fora da ilha de Manhattan, em Nova York, chama a atenção por outro motivo: o chef Cesar Ramirez é acusado de discriminar seus clientes. Entre os alvos, estariam visitantes asiáticos e até mesmo moradores de partes específicas da cidade.

    De acordo com a ação, protocolada em dezembro e cuja primeira audiência está marcada para abril, Ramirez se referia a clientes asiáticos como "pessoas de merda".

    Emi Howard, uma ex-garçonete de ascendência oriental, afirma que foi proibida por Ramirez de posicionar "asiáticos" perto dele no balcão em que os clientes são atendidos. Orientais e "Upper West Siders" (expressão utilizada para designar moradores da parte noroeste de Manhattan) deveriam ser servidos com os piores cortes de peixe.

    Spencer Platt/Getty Images/AFP
    O chef Cesar Ramirez do Chef's Table at Brooklyn Fare
    O chef Cesar Ramirez do Chef's Table at Brooklyn Fare

    O Chef's Table recebe 18 pessoas por vez para provar seu menu-degustação de cerca de 20 pratos. O custo para cada cliente é de US$ 225 (aproximadamente R$ 727) pelo menu, mais 20% de taxa de serviço (US$ 45, R$ 145), cobrados no cartão de crédito logo após a reserva.

    Além de tratar das acusações de racismo, o processo afirma que a taxa de serviço não era distribuída entre os funcionários. Boa parte das gorjetas adicionais deixadas pelos clientes também era retida por Ramirez e pelo dono do Chef's Table, Moe Issa.

    Os cinco ex-funcionários citados na ação também dizem ter sido obrigados a trabalhar mais de dez horas por dia, seis dias por semana, sem receber hora extra. Eles querem receber esses pagamentos adicionais mais uma indenização por danos, mas o valor não foi divulgado.

    Em geral, processos como este terminam em acordo e não vão a julgamento. O advogado responsável pelo processo, Maimon Kirschenbaum, é o terror dos restaurantes nova-iorquinos e está por trás de quase todas as ações movidas contra as principais casas da cidade. Procurado pela Folha, ele não quis dar entrevista.

    Divulgação
    Salão do Chef's Table, que recebe 18 pessoas por vez
    Salão do Chef's Table, que recebe 18 pessoas por vez

    OUTRO LADO

    Ramirez nega as acusações de discriminação. "Como eu posso ser racista com asiáticos? Se de 85% a 95% dos nossos produtos vêm da Ásia?", afirmou o chef ao site Eater. "Nós sempre nos focamos na cultura asiática. E eu trabalhei com asiáticos durante toda a minha carreira."

    Moe Issa afirma que as alegações sobre o salário os funcionários também não são verdadeiras. Segundo ele, o restaurante distribui a taxa de serviço ao pagar salários acima da média para seus funcionários como forma de atrair "empregados suficientemente bons". E as gorjetas, afirma, são sempre divididas.

    A assessoria de imprensa do restaurante afirmou que a questão está nas mãos dos advogados e que não fará comentários neste momento.

    MAIS

    Leiarelato de jantar no Chef's Table.

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