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    Cozinha típica é ato de resistência para os palestinos

    DA AFP

    27/09/2015 10h06

    "Alguns fazem guerra, mas há melhores maneiras de defender o país". No centro histórico de Naplusa, onde viveu os dias mais duros da Intifada, Fatima Kadumy cozinha abobrinhas recheadas e homus para apoiar a causa palestina.

    Faz sete anos que ela teve a "ideia louca" de fundar uma escola de cozinha nessa cidade da Cisjordânia para que as receitas tradicionais servissem também para respaldar a criação de um Estado palestino.

    Seus esforços têm sido recompensado, porque desde 2008 já recebeu mais de 1.200 visitantes de países como China, Austrália, Alemanha e Estados Unidos.

    "Por trás da cozinha há política e resistência", assegura ela em seu pequeno estabelecimento em Naplusa, chamado de Bait al Karama (Casa da Dignidade, em árabe). "Ensinamos nossa cozinha e nossa vida como a vemos. Assim os estrangeiros podem julgar os palestinos por dentro", afirma.

    Não faz muito tempo que um casal de norte-americanos de Washington aprendeu a preparar folhas de uva e abobrinhas recheadas graças a Nidal, o chefe da escola. Um dos visitantes, Rex, disse estar encantando em "compartilhar a vida diária" dos palestinos em Naplusa, cidade que viveu, entre 2000 e 2005, os piores dias de violência da segunda Intifada.

    Antes de cozinhar, Fatima Kadumy acompanhou o casal pelas ruas locais para ir ao mercado comprar produtos unicamente palestinos, porque sua escola boicota os produtos israelenses.

    Além de uma boa comida, instiga-se a conversa sobre política. "Na mesa sempre se fala com mais calma, com mais facilidade", diz Kadumy, que veste um véu azul e dourado e usa óculos escuros em cima da cabeça.

    Sua escola faz parte do movimento global Slow Food, fundado na Itália para promover a cozinha local. "Durante muito tempo permitimos que só os israelenses falassem", disse.

    HOMUS

    Palestinos e israelenses não só disputam o território, mas também a origem de alguns pratos, como o homus, um creme de grão de bico, que também é usado para fazer falafel.

    No entando, todos estão de acordo que o melhor homus é o de Abu Shukri, um pequeno restaurante na área da cidade velha de Jerusalém inaugurado em 1948, quando o Estado de Israel foi criado, e que hoje é administrado por Yasser Taha, um palestino que herdou o estabelecimento de seu pai.

    "Os israelenses aprenderam a preparar o homus conosco", explica.

    "Aprenderam a cozinhá-lo e agora dizem que eles que inventaram", diz Tahar, que recebe muitos clientes israelenses em seu restaurante.

    "Nós adoramos vir aqui, é delicioso", diz Elad, 52, que, acompanhada de sua filha, come o que sobrou de homus com pão.

    Neta, uma mulher israelense, acredita que esse modesto prato poderia desempenhar um papel no conflito entre palestinos e israelenses: "Todo mundo gosta de homus, é algo que temos em comum e que pode nos levar a um entendimento."

    Próximo ao restaurante, os cartões-postais à venda nas lojas mostram a diversidade de opiniões: em alguns aparece um prato de homus junto a uma bandeira de Israel e, em outros, acompanhado do preto, vermelho e branco da bandeira palestina.

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