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    Cerveja artesanal ganha espaço no país do vinho

    DA AFP

    28/09/2015 10h11

    No país do vinho, pouca gente sabe que a cerca de cem metros da famosa praça da Ópera os parisienses fabricam sua própria cerveja, uma tendência importada dos Estados Unidos, que ganha adeptos.

    "Fabricar uma cerveja é uma receita de cozinha, que deve ser 'ambiciosa'", explica Thierry Roche, cuja paixão por elaborar cervejas em casa o levou a abrir em 2012 a primeira microcervejaria de Paris.

    A marca da casa são cervejas com sabor de tâmaras e especiarias características do bairro, onde se instalou e que deu o nombre de sua loja: 'La Goutte d'Or". Ali, as lojas de produtos africanos alternam com os comércios árabes, que nos dias de mercado gozam de grande popularidade.

    Para Roche, "Paris tinha potencial" para abrir uma microcervejaria destinada a engarrafar e vender a cerveja. E os dados confirmaram: em 2014, seu negócio, instalado no térreo de um prédio, produziu 50 mil litros de cerveja, frente aos 30 mil do ano anterior.

    Atualmente, a França abriga cerca de 700 microcervejarias, entre elas uma dezena na capital, que presentam cerca de 2,5% da produção total do país, indica a Associação de Cervejeiros da França.

    Ainda que os franceses se encontrem na 26a posição na Europa em consumo, muito longe dos checos, holandeses, belgas ou alemães, "a cerveja começa a encontrar o seu lugar em Paris, explica Michael Gilmore, gerente da cervejaria Brew Unique.

    Gilmore, oriundo dos Estados Unidos, começou a elaborar a bebida em Paris há 16 anos e, desde meados de abril, transmite seu saber em um pequeno local não maior que um bar.

    Thomas Hurlin, 27, um desenhista gráfico de animação nascido na região rural de Avignon, participa de uma sessão de elaboração de cerveja com três amigos.

    Primeiro selecionam os maltes e lúpulos para fabricar o "stout" e, vestidos com coloridos aventais, fervem em panelas de 30 litros os grãos moídos, adicionam o lúpulo ao mosto e, muito mais tarde, a levedura necessária para a fermentação.

    "Eu gosto de cerveja e queria aprender a elaborá-la eu mesmo", diz Hurlin, que, dentro de um mês e meio, já poderá desfrutar sua cerveja escura de notas amargas com seus amigos.

    UMA MODA?

    Os cervejeiros e especialistas concordam que o auge da cerveja artesanal se inscreve: "em um contexto de rejeição massiva as indústrias que dominam o mercado" e "em uma lógica de consumo local", segundo Emmanuel Oumamar, autor do livro "La Bière à Paris" (A cerveja em Paris).

    Pascale Hebert, do Centro de Investigação para o Estudo e Observação das Condições de Vida (Credoc), explica que os habitantes de Paris desejam "produtos autênticos", "voltar às origens" e "dominar aquilo que comem", em um contexto de preocupação com a qualidade.

    Os estudos do Credoc revelam que os parisienses com vínculos com as zonas rurais são os principais interessados pelo consumo de produtos locais livres de componentes químicos. Mas Hebert adverte que o interesse é uma "moda". "Paris precisa de uma moda, é uma cidade que se move."

    "Não é uma moda, é um movimento que segue a industrialização e grande distribuição dos anos 80", diz Thierry Roche.

    O aumento tanto da qualidade quanto da oferta de cerveja artesanal, somado ao repúdio em relação às grandes indústrias, fará com que "não haja mais volta" para os consumidores. "Os cervejeiros artesanais têm que ser os embaixadores por um processo sincero e de qualidade", diz Roche.

    NA ESTEIRA DOS EUA

    Mas de onde surgiu essa tendência?

    Desde o fechamento das últimas fábricas de cerveja nos anos 80 por causa da concentração industrial e da falta de espaço para expandir-se, os parisienses tiveram que contentar com os "brewpubs" para consumir cerveja elaborada artesanalmente, explica Oumamar.

    "O atual movimento se inscreve no auge das cervejarias artesanais na França" e também nas experiências que chegam dos Estados Unidos, onde "cada cidade possui várias microcervejarias", diz.

    Essa tendência, que começo nos EUA faz cerca de 30 anos, também avança em outros países como Reino Unido, Alemanha, Itália, que levam vantagem em relação aos francesas na produção artesanal, diz Gilmore.

    Em Londres, muitas cervejarias voltaram a se instalar, como a chamada Beer Mile, onde, sob os arcos de uma via ferroviária, os cervejeiros artesanais oferecem suas bebidas. "Os ingleses começaram a se destacar", sublinha.

    No entanto, a verdadeira origem dessa produção artesanal se encontra muito mais próxima da Ópera de Paris do que da Estátua da Liberdade em Nova York.

    Segundo Gilmore, "agora todos os cervejeiros europeus copiam os norte-americanos, mas foram eles que precisamente copiaram os antigos estilos de cervejas europeias então esquecidas."

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