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    Melhor restaurante do mundo cria vinho de lã de ovelha, frutas e plantas

    LUISA BELCHIOR MOSKOVICS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SAN SEBASTIÁN

    07/10/2015 03h00 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Divulgação
    chef Joan Roca, do El Celler de Can Roca, durante palestra no Gastromika
    Chef Joan Roca, do El Celler de Can Roca, durante palestra no Gastromika

    Parte da safra de vinhos espanhóis deste ano sairá não de uvas, mas do extrato de lã de ovelha, de peras e até de couro. Os componentes fazem parte da lista de matérias-primas que o atual melhor restaurante do mundo está usando para criar suas próprias bebidas alcoólicas.

    O restaurante espanhol Celler de Can Roca, que lidera o ranking da revista britânica "Restaurant", uma espécie de Oscar da gastronomia mundial, anunciou nesta terça-feira (6) o ambicioso projeto de elaborar vinho a partir "de qualquer produto que imaginarmos", disse Joan Roca, um dos três irmãos à frente da casa.

    "É um mundo maravilhoso no qual estamos entrando. Podemos fazer qualquer coisa e estamos só começando", anunciou o chef durante o Gastronomika, um dos principais encontros da alta gastronomia mundial, que acontece até esta quarta-feira (7) em San Sebastián, no norte da Espanha.

    As bebidas estão sendo elaboradas em um centro de pesquisa e treinamento criado pelos irmãos Roca em uma casa a poucos metros de seu restaurante, que fica em Girona, cidade da Catalunha, região do nordeste da Espanha.

    O processo consiste em extrair aromas e líquidos de produtos comestíveis, como peras, pêssegos, figos e plantas, e não comestíveis, como madeira e couro, e chegar a bebidas que serão servidas no Celler de Can Roca ou ainda usadas como aromas ou caldos dentro de pratos do menu degustação da casa desta temporada. A única limitação, disse Joan Roca, é que sejam usados apenas produtos regionais.

    E a ideia já não é apenas utopia: durante sua palestra no Gastronomika, Joan Roca serviu a cerca de 500 participantes um vinho que chamou de figomel, elaborado com uma variação local de figo misturada a mel e pólen de abelhas.

    A reportagem da Folha estava no grupo e provou a nova bebida, que tem forte aroma e acidez.

    Para chegar ao figomel, os irmãos Roca fermentaram os ingredientes durante quase quatro semanas a 20ºC.

    A equipe do La Masia, nome dado ao centro de pesquisa do Celler de Can Roca, também já conseguiu extrair aroma de lã de ovelhas, cuja criação é muito comum no centro e no norte da Espanha.

    Ao ser um produto originalmente não-comestível, no entanto, o processo foi mais complexo. Os irmãos Roca e sua equipe maceraram a lã previamente limpa a vácuo por duas horas a 45ºC, misturando-a com álcool.

    Filtraram, destilaram a vácuo a 50ºC e separaram a parte solvente do álcool. Extraíram então o líquido da parte da gordura da lã. Por enquanto, a bebida é servida com uma sobremesa feita de doce de leite, purê de goiaba e iogurte, requeijão e espuma de leite de ovelha.

    Embora o mundo dos vinhos seja um dos três pilares do Celler de Can Roca –Joan Roca cuida dos pratos; seu irmão mais velho, Josep, da elogiada adega da casa; e o caçula Jordi cria as sobremesas– o ambicioso projeto dos três irmãos surpreendeu chefs e especialistas presentes no Gastronomika, que têm apontado tendência de chefs a criarem seus próprios vinhos. Só não esperavam que alguém fosse (muito) além da uva.

    A jornalista viajou a convite do Escritório de Turismo da Espanha.

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