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    Pernil em casamento não é brega, diz Nina Horta

    DE SÃO PAULO

    11/11/2015 17h22

    Foi há cerca de dez anos, um tempo em que servir pernil na festa de casamento ainda era brega. Um pai ia casar a filha com um estudante mineiro de agronomia, de Viçosa.

    "Chiquérrima", a mãe estava preocupada com o horário da festa, que deveria acontecer em uma praia também "chiquérrima", na hora do pôr do sol, com flores lilás e tudo que se tinha direito.

    Até que o pai disse: "Quero que tenha pernil". "A mãe só não morreu do coração porque era moça ainda, porque senão tinha morrido. Imagina uma festa chique dessas com pernil?", se diverte Nina Horta, que comandava o bufê naquele dia.

    Segundo ela, depois dessa festa, é muito raro que um casamento não tenha a carne de "saideira". "É ridículo você seguir uma moda que você odeia", critica ela, que conhece inúmeras histórias de noivas que escolhem o bufê de acordo com o que pensam que é sofisticado, mesmo que não gostem da comida servida.

    Nesta quarta (11), ela participou de uma conversa na "TV Folha", com a repórter Magê Flores e Luiza Fecarotta, crítica da Folha, sobre as décadas dedicadas à cozinha e seu novo livro de crônicas. Em "O Frango Ensopado da Minha Mãe", que lançou no final de outubro pela Companhia das Letras, estão compiladas crônicas publicadas ao longo de anos na Folha, que versam sobre comida de mãe, literatura, ingredientes e cenas do cotidiano.

    Colunista do jornal desde 1987, ela tocou o bufê Ginger por quase 30 anos, paralelamente. "O bufê estraga qualquer vocação, já dou esse recado: quem gosta de cozinhar, não abra um bufê. Você não tem tempo nem força para ficar cozinhando. Você pode até fazer um peru, um cabrito, mas não pode nem pensar em fazer 30, 40."

    Em outra ocasião, relembra com humor que o dono de uma festa mandou fazer coxinha, empadinha, e ficou chamando os convidados na cozinha para comer escondido. "Não era chique. Mas por que ficar chamando o convidado para ir na cozinha? Por que não servir todo mundo com coxinha e empadinha?"

    Também falou sobre as mudanças que aconteceram na gastronomia ao longo dos anos. "O novo porco é completamente diferente do que eu comia quando era menina", diz, referindo-se ao fato de a gordura estar "sumindo" do podo de preparo. "A gente engorda e o porco emagrece", brinca.

    Sobre novas tendências da gastronomia, como os food trucks, faz um paralelo com a economia. "Cozinhar em casa virou uma coisa chiquérrima, por exemplo. Você transforma o que era ruim em bom, porque você só tem dinheiro para fazer aquela coisa."

    E elogia a apresentadora Bela Gil, conhecida por usar ingredientes naturais e brasileiros. "Todo mundo caçoa porque ela parece uma natureba doida. Mas ela não é. É que as coisas que ela come, a gente sempre comeu, mas desacostumou. Por exemplo, batata-doce, inhame, cará."

    A cronista, que acha que escreve melhor do que fala, se desculpa: "Eu engulo as palavras".

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