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    Restaurante chinês em Gaza estimula clientes a 'comer com palitinhos'

    DA EFE

    14/01/2016 02h00

    Renato Stockler/Folhapress
    ORG XMIT: 140501_1.tif Kit com dois pares de hashis, duas tigelas, dois jogos americanos de bambu e porta-hashis, na Tenman-Ya. (São Paulo, SP, 07.12.2007. Renato Stockler/Folhapress)
    Louças orientais com dois pares de hashis; restaurante em Gaza estimula o uso dos 'palitinhos'

    A população de Gaza está descobrindo os segredos da cozinha do Extremo Oriente com a abertura do primeiro restaurante chinês da Faixa e encarando o desafio de comer com hashis.

    O Kaza Meeza Restaurant foi inaugurado sob a direção do chef local Ahmed Kteefan, que quer encorajar as pessoas "a experimentar novas coisas" deste mundo.

    Um mundo, disse à Agência Efe, que ele teve que descobrir pela internet, já que a população da Faixa não pode sair por causa do bloqueio que Israel, e mais tarde o Egito, impuseram a esse território desde que passou a ser controlado pelo movimento islamita Hamas.

    "Nunca estive na China e nunca trabalhei em um restaurante chinês para aprender", explicou o criativo Kteefan que na esperança de criar novos pratos usou a plataforma universal contemporânea: a internet.

    Foi ali, quando buscava receitas estrangeiras para testar, que descobriu o mundo da tão popular cozinha chinesa, e de onde montou o primeiro menu em Gaza desta gastronomia.

    Meses depois, seu restaurante oferece sete pratos de cozinha chinesa com o desafio de que os clientes comam com os palitos.

    "Não vejo grande dificuldade em prepará-la, especialmente os pratos à base de arroz e verduras, ou os que têm carne, peixe e massas", declarou o chef de 35 anos.

    Suas possibilidades, no entanto, são limitadas pela particular situação do bloqueio, que impede a entrada de certos produtos, e certamente pelas limitações culinárias da região, entre elas a proibição do porco.

    Situado no segundo andar de um edifício na principal rua de Gaza capital, no bairro Rimal, o novo restaurante tenta atrair clientes dispostos a ter novas experiências, embora Kteefan reconheça que a maioria, por enquanto, é do tipo que já esteve no exterior e que já tinha provado esta culinária.

    "A forma dos pratos e o sabor são perfeitos", opinou Ismail Hallaq, um cliente que visitou pela primeira vez o restaurante e para quem o mais difícil foi lidar com os palitos.

    Acostumado a garfo e faca e, às vezes, também a comer com as mãos (no caso de certos pratos típicos do Oriente Médio), os moradores de Gaza veem nos palitos um aditivo ao ambiente do Extremo Oriente.

    "Gostei da ideia e gostei da comida, embora não seja fácil aprender a comer como eles", se queixou Hallaq com bom humor, uma vez que já prometeu que voltará com amigos e família.

    Kteefan fez carreira cozinhando para vários restaurantes da Faixa que se especializaram na tradicional culinária da região e em sobremesas

    Foi buscando novos pratos para oferecer aos seus clientes que descobriu a comida oriental, que agora quer transformar em motor empresarial de seu estabelecimento, especialmente pela particularidade de nunca ter havido em Gaza um restaurante deste tipo.

    Em uma linguagem muito mais comercial, Mohammed Al-Masri, responsável pelo marketing e pelas finanças, apoiou a ideia proposta por seu chef, e acredita que a escolha de algo novo torna seu restaurante "especial".

    "Provei restaurantes chineses em Dubai e eram bons. Quando comi os pratos de Kteefan não vi nenhuma diferença", assegurou Al-Masri, que viveu e trabalhou nos Emirados Árabes.

    O ambiente culinário foi reforçado com música do Extremo Oriente e, assim que for possível, decorarão com elementos típicos para que o cliente possa experimentar todo o "sabor da China".

    Segundo dados da prefeitura de Gaza, em 2015 foram abertos 195 novos restaurantes, a maioria com pratos de peixe e da cozinha tradicional da região.

    O ressurgimento gastronômico é atribuído ao crescimento da população, que já supera o 1,9 milhão de habitantes em um território de apenas 360 quilômetros quadrados, e pelo fato de na bloqueada Faixa haver realmente pouco para fazer.

    Salah Abu Hasseira, presidente da União de Restaurantes da capital, explicou que os restaurantes se transformaram em um bom investimento, melhor que outros setores.

    "O turismo local está florescendo apesar da deterioração geral da economia", afirmou, lembrando que em Gaza não há turismo exterior por causa do bloqueio.

    Trata-se ainda de um setor que não exige um investimento muito alto e que, em dois ou três meses, começa a gerar receita, de acordo com Hasseira.

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