• Comida

    Monday, 29-Apr-2024 05:59:52 -03

    Com ingresso a R$ 400, 'piquenique chique' reúne mil pessoas em SP

    CAROL OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    21/03/2016 02h00

    Vestindo trajes brancos e carregando mesas e cestas com comida, mil pessoas se reuniram na noite do último sábado (19) para a primeira edição do evento Dîner en Blanc no Brasil. O jantar, uma espécie de "piquenique chique", foi feito no parque Burle Marx, em São Paulo.

    "É completamente diferente de tudo que eu já tinha visto", diz a superintendente de recursos humanos Daniela Belisário, 38. Ela, que não conhecia a proposta, foi ao evento a convite da empresa em que trabalha.

    Criado em 1988 pelo francês Fraçois Pasquier, o Dîner en Blanc é realizado em mais de 60 cidades ao redor do mundo e reúne cerca de 100 mil pessoas todos os anos –sempre com roupas brancas.

    No Brasil, os ingressos para o evento foram vendidos apenas em pares, ao valor de R$ 420,50. Para participar, era preciso ser convidado por um dos organizadores ou aprovado em uma lista de espera depois de inscrição on-line.

    Assim como é feito no resto do mundo, o local do piquenique só foi divulgado minutos antes do evento. Para aguardar o anúncio, os convidados se reuniram em sete pontos pré-determinados de São Paulo e seguiram, em ônibus fretados, até o parque.

    A tradição reza que os participantes devem levar os próprios alimentos, talheres, toalhas, arranjos –e até mesas; na edição brasileira, contudo, as mesas foram fornecidas pela organização.

    Também havia a opção de comprar cestas preparadas por chefs como o apresentador do "MasterChef" Henrique Fogaça (dos restaurantes Sal e Jamile), o francês Olivier Anquier (L'Entrecôte d'Olivier) e Augusto Pinto (Goa). As encomendas custavam entre R$ 69 e R$ 178, além de uma opção "banquete", que saía por R$ 800. Segundo a organização, foram vendidas 200 cestas.

    Muitos, no entanto, escolheram trazer os alimentos de casa. Não era difícil ver grupos com croissants, pães, frios, carnes pré-cozidas, patês, castanhas e queijos de vários tipos. Para a sobremesa, bolos.

    A advogada Fátima Ribeiro, 34, combinou com uma amiga a divisão do cardápio de sua mesa. Encarregada da sobremesa, escolheu pão de damasco, minibolos e docinhos franceses. Alguns investiram em pratos mais elaborados, como o ratatouille na mesa ao lado de Daniela. A superintendente aproveitou para se servir da comida trazida pelo "vizinho" –que, por sinal, acabara de conhecer. "Aqui todo mundo compartilha, conversa, vê o que o colega trouxe."

    O engenheiro Gustavo Castelan, 27, e a noiva, a advogada Paula Paschotto, 26, estavam na mesa que acabou sendo eleita a mais bonita da festa. Como prêmio, eles ganharam uma máquina de bebidas de uma das marcas patrocinadoras.

    "Vivemos num mundo em que está todo mundo sempre no celular, um não fala com o outro no elevador. Aqui todo mundo confraterniza, mesmo quem não se conhecia antes", diz Gustavo. "A gente termina de montar a própria mesa e vai ajudar a pessoa ao lado."

    Para Daniel Pelegrinelli, 35, porém, faltou ao jantar "um pouco de alma". "Está um meio-termo entre um piquenique e uma festa chique. Não sei se eu voltaria no ano que vem", diz.

    MUDANÇA NO PARQUE

    A ideia é que o jantar sempre aconteça em um espaço público. Mas, como o local não é divulgado com antecedência, muitos frequentadores do parque olhavam espantados para a caravana de branco que chegava de repente.

    Ana Paula Lima, 30, tinha ido ao local com uma fotógrafa para produzir seu álbum de gravidez. "Estava sonhando com esse gramado verde nas fotos, mas não foi dessa vez", disse a professora, ao ver o parque ser invadido pelas mesas e atrapalhar as fotografias.

    Entrando no clima, Ana aproveitou para tirar algumas fotos com o jantar ao fundo. "Parece um daqueles episódios de 'Gossip Girl'", aponta, lembrando da série de TV norte-americana.

    Os convidados começaram a chegar pouco antes das 18h, e o parque funcionou normalmente até 19h. A organização do Dîner en Blanc paga pelo aluguel do espaço, mas os valores não foram divulgados.

    Violão nas costas, o músico Felipe Garibaldi, 28, foi ao Burle Marx para tocar, como costuma fazer. Mas decidiu ir embora quando o evento começou. "Hoje eu queria um pouco de silêncio, mas não deu."

    A playlist, que começou com calma música francesa, também teve jazz ao vivo e, logo no início do baile, às 21h, migrou para samba e música eletrônica internacional. Ao som tipicamente paulistano de Thobias, da escola de samba Vai-Vai –que se apresentou no evento com passistas–, a designer Gina Elimelek, 55, contou que já conhecia os eventos no exterior e sempre teve vontade de participar de algo do tipo por aqui.

    "Foi uma pausa numa semana em que estávamos precisando de descanso", conta, referindo-se aos atribulados acontecimentos políticos nos últimos dias. "Nem parece que estamos no Brasil."

    GUARDE SEU LIXO

    Outro conceito diferente para muitos era o fato de os convidados serem responsáveis por montar suas mesas e retirar o lixo ao fim do evento. Às 23h, o alto-falante orientava os presentes a iniciar a desmontagem. Embora todos tenham começado a se movimentar para retirar seus pertences, faxineiras também estavam no local.

    "Tomara que [a obrigação de retirar seu próprio lixo] funcione mesmo", brincou uma das responsáveis pela limpeza, que não quis se identificar.

    "Às vezes as pessoas ainda querem ser servidas, não entenderam muito bem esse conceito", afirma Amanda Costa, 30, vendedora e voluntária. Ela conheceu o Dîner en Blanc em 2013, enquanto fazia intercâmbio em Paris. "Eu estava na torre Eiffel um dia, vi as pessoas chegando e me juntei ao grupo."

    Comparando o evento parisiense com o brasileiro, a vendedora avalia que talvez a edição francesa seja um pouco mais democrática. "Eu, por exemplo, estava de calça colorida, mas todos me receberam muito bem. Já aqui, se chegasse alguém 'estranho', não sei muito bem como seria o tratamento."

    No Dîner en Blanc paulista, cada grupo tinha um líder voluntário, responsável por afastar possíveis penetras. Mas como o evento ainda é pouco conhecido no Brasil e a localização é secreta, não houve ocorrências do tipo.

    Para o empresário Erico Theodorovitz, o Dîner en Blanc traz uma atmosfera pouco comum. "Vi uma senhora muito elegante carregando um saquinho de padaria", conta. "Pessoas acostumadas a mandar de repente estão em fila, obedecendo a ordens. Isso é fantástico."

    Contudo, ele faz uma ressalva para a exclusividade do evento. "Nós ainda somos uma elite. Todos deveriam poder participar disso, deveria ter uma edição aberta na Paulista em algum domingo."

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024