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    Cactos, rãs e forró animam espaço do festival Fartura

    CAROLINA MUNIZ
    MAGÊ FLORES
    DE SÃO PAULO

    25/06/2016 19h13 - Atualizado às 22h18

    "Quando a gente fala que a receita tem cacto, todo mundo faz uma cara", diz o cozinheiro sergipano Timóteo Domingos, durante sua aula no Espaço Degustação do festival Fartura.

    Aos 19 anos, ele é conhecido como "chef do sertão" por transformar as plantas da caatinga, até então utilizadas na alimentação de animais, em receitas premiadas.

    "Jamais tinha passado pela minha cabeça que era possível fazer um prato com cacto", diz a artesã Silvia Mazinini, 60.

    Ela foi escolhida na plateia por Timóteo para a função de degustadora oficial. A cada novo ingrediente, Silvia era solicitada pelo chef. O seu favorito foi o xique-xique: "Tem a consistência de chuchu, mas é azedinho", afirma.

    O restante do público, cerca de 40 pessoas, também pôde provar receitas elaboradas com ingredientes da caatinga, como umbu e urtiga. A mais famosa é a cocactus, uma cocada feita com palma, um tipo de cacto.

    O doce foi criado por Timóteo quando ele ainda era criança. Para ajudar na renda familiar, ele vendia cocada aos colegas no intervalo da escola, em Canindé (SE). Num dia, o coco faltou e aí veio a ideia de inserir a palma, um tipo de cacto.

    "Não falei para ninguém que tinha palma", conta o chef. "O pessoal falou que estava mais saborosa do que antes."

    A estratégia utilizada por Timóteo na aula foi exatamente essa: oferecer o prato à plateia e só depois contar do que ele é feito. "A ideia é que as pessoas experimentem e imaginem mil coisas", diz o chef, que hoje tem no repertório mais de 1.200 receitas.

    No final da degustação, Timóteo convidou a todos para fazer uma roda e dançar forró. "O prato final é um detalhe. O mais importante é valorizar o contexto histórico e cultural da nossa região", afirma.

    RÃS

    Nem o vento gelado da noite paulistana diminuiu o desejo do público de experimentar carne de rã. No Espaço Degustação, a plateia de cerca de 30 pessoas teve a chance de provar dois pratos feitos com a iguaria: bolinho de carne de rã e carne de rã à milanesa.

    "Não como carne de boi, de porco e nem de frango, mas quis provar a de rã para saber qual é o gosto", afirma Maura Costa, 48, que trabalha na área comercial. "Parece um frango, só que mais úmido."

    A professora Márcia Matos, 53, também comeu rã pela primeira vez. "Tem menos gordura que o frango. Gostei muito das duas receitas", diz.

    A degustação foi realizada durante a palestra do produtor Ivanilto Cunha, 42, que há dois anos cria mais de 10 mil rãs em Monte Negro, no interior de Rondônia.

    "Ser produtor de rãs era um sonho de infância", conta Ivanilto, que também é operador de máquinas pesadas no garimpo. "No começo, recebi muitas críticas. Ninguém achava que iria dar certo."

    Na produção, trabalham apenas Ivanilto, a esposa e o filho. O abate é realizado manualmente. Aos seis meses, as rãs são colocadas em um recipiente com gelo e sal. Depois, é feita a sangria.

    O produto é comercializado ao preço de R$ 70/kg a restaurantes e supermercados da região.

    Esta foi a primeira aula ministrada por Ivanilto. "O pessoal do Fartura me achou quando fez a visita a Rondônia, buscando coisas diferentes de lá. Para mim, estar aqui hoje é muito gratificante. Não preciso ganhar dinheiro para dizer que sou vitorioso", afirma.

    CHURRASCO

    No espaço Cozinha ao Vivo, a alguns metros dali, cerca de 40 pessoas se esticavam para ouvir André Lima de Luca (All Fire Lab) falar sobre churrasco.

    Quatro grandes peças de carne são preparadas sob sua batuta, na brasa. O termômetro indica que a carne esta a 20 graus em seu interior - isso quer dizer que ela vai demorar para ficar pronta (a 56 graus estaria perfeita).

    "É melhor já ir fazendo a farofa", palpita Beatriz, de 8 anos, filha do especialista, em alto e bom som (as crianças não tiram os olhos do pai). "As pessoas me perguntam quanto tempo levei para preparar aquela carne. Eu digo que não se trata disso, mas sim qual era a temperatura dela."

    Chamada Especial Fartura

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