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    Nos EUA, pressão de consumidores faz indústria substituir corantes artificiais

    CLÁUDIA COLLUCCI
    DE SÃO PAULO

    12/01/2014 01h40

    A pressão das mídias sociais e de grupos de defesa do consumidor nos EUA tem forçado a indústria de alimentos a trocar alguns corantes artificiais, associados a alergias, hiperatividade e câncer, por outros naturais à base de plantas e especiarias.

    A estratégia tem sido mais eficaz e rápida do que o envio de questionamentos às agências reguladoras de alimentos, segundo analistas.

    Não há estudos que comprovem riscos à saúde atribuídos a corantes artificiais, mas países, especialmente na Europa, têm trocado os aditivos por corantes naturais.

    Nos EUA, um caso recente de pressão bem-sucedida foi o da blogueira Vani Hari, que em 2011 publicava textos sobre os perigos de corantes e conservantes usados pela rede de fast food Chick-fil-A.

    Vani recolheu 200 mil assinaturas. Em dezembro, a empresa informou que vai substituir o corante amarelo (derivado do petróleo) por outro de açafrão e páprica.

    Outra blogueira, Renee Shutters, de Jamestown (NY), conseguiu 142 mil assinaturas pedindo a retirada de um corante também derivado do petróleo do chocolate M&M.

    A fabricante Mars diz que estuda substitui-lo por outro extraído de alga marinha. Na Europa, o mesmo doce já leva corantes naturais.

    Os corantes artificiais não possuem valor nutritivo. Os problemas de saúde mais frequentemente associados a eles são as alergias, que afetam pessoas suscetíveis como o menino Willian, 7, de Belo Horizonte, que não pode beber refrigerante.

    "É só beber que ele empelota, enche de bolinhas e a gente tem que correr para o médico para tomar injeção [anti-histamínico]", afirma a mãe, Carla Beloto, secretária.

    No Brasil, atualmente a polêmica é em relação aos corantes tartrazina e caramelo 4, presentes em vários produtos, como energéticos, cerveja, sucos e refrigerantes.

    Grupos de defesa do consumidor pediram à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a substituição do corante após uma de suas substâncias ter sido classificada como possivelmente cancerígena.

    A agência, baseada em estudos toxicológicos e em pareceres internacionais, concluiu que o corante não é tóxico ou carcinogênico e não oferece perigo na quantidade em que está aprovado.

    Mas o Estado da Califórnia, nos EUA, determinou a redução de corante caramelo 4 em bebidas tipo cola.

    "A pergunta é: se pode diminuir a quantidade sem alterar a qualidade do produto, por que a indústria não adota esse novo padrão em todo o mundo em vez de expor a população a riscos?", questiona o químico Paulo Garcia de Almeida, membro da câmara técnica de alimentos do Conselho Regional de Química de SP.

    Editoria de Arte/Folhapress

    OUTRO LADO

    A indústria nega os riscos. Segundo a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação), não há evidência que justifique alterações no uso dos corantes tartrazina e caramelo 4.

    Em 2012, análise de um instituto americano apontou que a Coca-Cola à venda no Brasil era a que tinha maior quantidade da substância potencialmente cancerígena (4-MI), do corante caramelo 4.

    "A quantidade de corante caramelo 4 utilizada em nossos produtos é absolutamente segura e está de acordo com os valores definidos pelo Codex Alimentarius [órgão ligado à OMS] e pela Anvisa", informa nota da Coca-Cola.

    Para o nutrólogo Edson Credidio, pesquisador da Unicamp, nem sempre os corantes naturais são mais saudáveis. O vermelho do corante carmim, por exemplo, vem do inseto cochonilha. Casos de choque anafilático já foram relacionados ao seu uso.

    "O rótulo de natural não quer dizer inofensivo, nem o artificial quer dizer perigoso. É preciso bom senso."

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