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    Movimento contra o xampu propõe alternativas para a lavagem de cabelo

    JULIANA VINES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    04/03/2014 02h00

    "Dê uma olhada na lista de ingredientes de um xampu. Você beberia isso?", questiona a blogueira americana Jacquelyn Byers, 26, que ficou conhecida recentemente como a mulher que não lava o cabelo há cinco anos -pelo menos não da forma tradicional. "Se você não se sente confortável bebendo xampu, por que o coloca em sua cabeça?", escreve.

    A fama de Jacquelyn veio depois de uma entrevista ao site americano "Huffington Post" e de um extenso relato em seu blog (http://littleowlcrunchymomma.blogspot.com), onde garante que seu cabelo ficou mais brilhante e saudável desde que abandonou xampus e condicionadores. "Meu cabelo não precisa de nada, só de água quente", disse à Folha.

    A blogueira faz coro aos movimentos "no poo" e "low poo" (uma abreviação de "não ao xampu" e "pouco xampu"), que pregam o abandono do xampu e o uso de misturas caseiras ou de produtos livres de certas substâncias que, segundo os adeptos, fazem mal aos fios (veja ao lado).

    Editoria de Arte/Folhapress

    As técnicas já têm seguidores fiéis por aqui: um grupo sobre o tema reúne mais de 12 mil pessoas no Facebook, e blogueiras como a professora Denise Rangel, 56, espalham na internet os benefícios do método com direito a fotos de antes e depois.

    Há mais de um ano, Denise trocou o xampu por bicarbonato de sódio, usado para limpar, e o condicionador por vinagre de maçã, que suavizaria os fios.

    "Meu cabelo voltou a ser o que era antes de eu fazer alisamento, está sem 'frizz' e menos rebelde", diz. Ela garante que a mistura não deixa cheiro e que hoje só usa xampu quando vai ao salão, a cada três meses. "Ainda não tive coragem de enfrentar a cabeleireira, mas chego lá."

    CULPADO OU INOCENTE?

    O principal culpado pela condenação do xampu é o lauril éter sulfato de sódio, um detergente que retira a olesidade do couro cabeludo, segundo Vânia Leite, farmacêutica e professora da Unifesp. De acordo com ela, a maioria dos xampus têm o ingrediente na fórmula.

    Para os defensores do "no poo", o detergente resseca demais os cabelos, argumento rebatido por Leite. "É preciso remover a oleosidade para limpar. E o xampu não tem só sabão, tem ingredientes que repõem a gordura, como a lanolina", afirma.

    A Agência Nacional de Vigilância Sanitária já emitiu um parecer técnico afirmando que o lauril éter é seguro. Mesmo assim, existem cada vez mais xampus sem a substância no mercado, principalmente marcas infantis.

    Segundo Leite, o lauril éter pode, sim, ser irritante para algumas pessoas e gerar sintomas como coceira, ardor nos olhos e vermelhidão. Mas tanto para ela quanto para a dermatologista e cosmiatra Meire Gonzaga isso não é motivo para deixar os xampus de lado.

    "Outros ingredientes podem ser irritantes, como fragâncias e conservantes. Só deve procurar alternativas ao xampu quem tem algum sintoma", afirma Gonzaga.

    De acordo com a dermatologista, deixar de usar xampu pode favorecer o acúmulo de gordura nos folículos capilares e causar dermatite seborreica (caspa).

    Foi o que aconteceu com Nairobi Chaves, 25, que começou a fazer "low poo" no fim de janeiro. "Passei a usar um sabonete sem sulfato para lavar os cabelos uma vez na semana. Em outro dia, lavava só com condicionador. Depois de duas semanas me deu caspa, ficou horrível", conta.

    Após consultar membros do grupo de "no poo" no Facebook, ela decidiu trocar o sabonete por xampu infantil. "Ainda tem caspa, mas está mais leve. Tomara que melhore, senão terei que voltar para um xampu normal, com parafina, sulfato e tudo que tem direito."

    Nairobi não chegou a usar o combo bicarbonato de sódio e vinagre, condenado pelo tricologista Luciano Barsanti. "Altera o pH do cabelo, que é ácido. Isso pode ser muito prejudicial, até levar à queda dos fios", afirma.

    Para Barsanti, em vez de banir o xampu o melhor é procurar produtos com pouco corante, pouco perfume e ativos naturais -óleo de coco e óleo de semente de girassol, por exemplo.

    Além de comprar xampus mais "naturais", a relações públicas Giuliana Masiviero, 34, dilui o produto antes de usar, técnica popular em salões do tipo "spa para cabelo".

    "Eu tinha muita queda, meu couro cabeludo coçava. Depois que passei a diluir o xampu tive uma melhora surreal. Meu cabelo está menos oleoso e muito mais bonito. Não uso nada mais sem diluir."

    A diluição deve ser feita logo antes da lavagem e não faz milagre, segundo Gonzaga, mas ajuda a espalhar menores quantidades de xampu -o que pode ser bom, afinal é consenso que o ideal é usar pouco produto. "De uma a duas moedas de um real, dependendo do comprimento do cabelo. E não é preciso repetir a lavagem", recomenda Barsanti.

    Em nota, a Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) afirmou que "os fabricantes de xampu são obrigados a testá-los e a comprovar a segurança e a eficácia de cada um" e que, se o produto está no mercado, é porque é seguro.

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