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    Revisão de estudos questiona eficácia de bandagem terapêutica popular entre atletas

    RODOLFO LUCENA
    DE SÃO PAULO

    10/06/2014 01h50

    Sabe aqueles esparadrapos coloridos que, de vez em quando, vemos no corpo de atletas e são usados para tratar problemas musculares? Maria Sharapova usa e Cristiano Ronaldo também, assim como Roger Federer e David Beckham.

    Pois uma revisão sistemática de estudos realizada por pesquisadores da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo) e publicada na versão on-line do "Journal of Physiotherapy" (uma das mais importantes publicações internacionais do gênero) questiona a real eficácia do método.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Esse tipo de análise, ou seja, a compatibilização estatística de resultados de testes clínicos, é considerada a fonte mais confiável para orientar a prática clínica na medicina baseada em evidências.

    Os pesquisadores analisaram 12 estudos clínicos realizados no mundo todo sobre os efeitos da chamada "kinesio taping". As pesquisas envolviam 495 participantes que tinham dores nos ombros, joelhos, na coluna lombar e nos pés.

    A análise demonstrou que o uso da "kinesio taping" não teve efeito melhor do que o de placebos ou técnicas convencionais de tratamento.

    "Nas raras situações em que a bandagem foi melhor, essa vantagem era ínfima e não pôde ser considerada clinicamente importante", diz o coordenador do programa de mestrado e doutorado em fisioterapia da Unicid, Leonardo Oliveira Pena Costa, e um dos autores do estudo.

    Doutor em fisioterapia pela Universidade de Sydney, Costa afirma: "A melhora observada em alguns pacientes é real, mas é equivalente à de um tratamento placebo".

    A técnica foi inventada pelo quiropata japonês Kenzo Kase, que começou a desenvolvê-la nos anos 1970.

    Mas, diz Costa, recentemente a fita tornou-se um dos maiores "cases" de marketing esportivo da história, principalmente depois da Olimpíada de Sidney, em 2000.

    "Quanto mais publicidade positiva houver, mais numerosas serão as impressões incorretas de eficácia. Mesmo quando apresento dados sobre a eficácia do método, muitos técnicos e fisioterapeutas dizem que continuarão usando, o que acho lamentável. Tratamentos eficazes podem estar sendo substituídos por um que não é melhor do que placebo."

    SEM CONSENSO
    De fato, falta consenso sobre a eficácia da técnica entre os especialistas. Segundo a fisioterapeuta Paula Rodrigues de Sousa, o debate entre os que defendem e os que questionam a "kinesio taping" foi bastante acalorado no último congresso da Sonafe (Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva).

    Sousa, que já trabalhou com a seleção brasileira de kung fu, usa a "kinesio taping" em casos de hematoma e inchaço. A melhora é visível, segundo ela.

    Ela afirma, porém, que os resultados da fita em programas de reabilitação são, em sua maioria, de apoio sensorial e psicológico. "Não podemos ignorar o fato de que a parte psicológica é fundamental para a performance."

    Para o presidente da Associação de Treinadores de Corrida de São Paulo, Nélson Evêncio, 43, a "kinesio taping" foi bastante útil. "Na primeira vez que usei, estava com uma dor na parte lateral da coxa e me senti muito bem com a fita, com mais firmeza na articulação. Corri um treino de 30 km e a maratona de Berlim com a 'kinesio taping' e a dor não apareceu."

    O fisioterapeuta Hélio Nichioka, que já trabalhou com atletas olímpicos como o ginastas Diego Hypolito e o judoca Leandro Guilheiro, também aplica a "kinesio taping" para alívio da dor.

    "Meu uso está embasado em experiência clínica. Há carência de estudos até pela novidade da 'kinesio taping', e a ciência tem a sua própria velocidade", afirma. "A mesma carência científica é observada em palmilhas esportivas, joelheiras e cotoveleiras largamente utilizadas."

    Thiago Vilela Lemos, fisioterapeuta, professor da Universidade Estadual de Goiás e instrutor do método, diz que cada paciente deve ser avaliado individualmente. "Acredito que novos estudos são necessários pra que os efeitos clínicos vistos pelos profissionais sejam evidenciados também nas pesquisas."

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