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    Uso de vitamina D para tratar esclerose múltipla gera controvérsia

    FERNANDO TADEU MORAES
    DE SÃO PAULO

    21/06/2014 02h00

    O tratamento da esclerose múltipla, doença autoimune que ataca o sistema nervoso central, virou alvo de polêmica no mundo médico com o lançamento do livro "Vitamina D e Esclerose Múltipla: a chave brasileira das doenças autoimunes", do médico e político Walter Feldman.

    O livro trata do protocolo para o tratamento de esclerose múltipla proposto pelo neurologista Cícero Coimbra, que vem sendo utilizado em clínica desde 2002.

    O tratamento prevê a administração de altas doses de vitamina D, definidas de acordo com cada paciente, aliada à restrição da dieta láctea e à abundante hidratação.

    Coimbra diz que estudos com altas doses de vitamina D para o tratamento de doenças o levaram a aplicar essa ideia para esclerose múltipla. O protocolo já foi utilizado em cerca de 3.000 pacientes.

    Segundo Feldman, os resultados da aplicação do protocolo são impressionantes. "Com dois meses começa-se a registrar a ausência de surtos e progressão da doença."

    Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
    Vitamina D
    Vitamina D

    No começo do ano, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) publicou um consenso sobre o tratamento da esclerose múltipla com vitamina D. "Não existem evidências científicas que justifiquem o uso dessa monoterapia no tratamento da esclerose múltipla", diz o texto.

    O consenso também recomenda que contradições encontradas em pesquisas sobre o tema "indicam a necessidade de realização de estudos randomizados, controlados e duplo-cegos [tipo de experimento considerado o mais confiável na medicina]".

    Para o reumatologista Morton Scheinberg, há uma corrente da enganação no caso do tratamento com vitamina D: "Você acredita que está me tratando, eu acredito que estou sendo tratado, mas no fundo nenhuma dessas coisas está acontecendo".

    Coimbra diz que não faria exames duplo-cegos em seus pacientes porque considera inaceitável dar placebo (exigência desse tipo de experimento) para seus pacientes.

    Coimbra e Feldman dizem que a resistência ao tratamento defendido está ligado também a pressões da indústria farmacêutica. "O SUS gasta cerca de R$ 350 milhões por ano com remédios para esclerose múltipla", diz Feldman.

    BOA PARA OS OSSOS

    A vitamina tem um papel consolidado na literatura médica como um importante fator da saúde dos ossos. Dois grandes estudos de revisão foram publicados este ano no "British Medical Journal" e no "Lancet Diabetes & Endocrinology" sobre os benefícios da vitamina D.

    O trabalho publicado no "Lancet" diz que, além do benefício para os ossos, nas últimas décadas foram acumuladas evidências circunstanciais de que a vitamina D teria um papel protetor em diversos transtornos, incluindo câncer, doenças cardiovasculares e inflamatórias, demência e diabetes.

    Entretanto, resultados de vários estudos recentes controlados e randomizados são quase unânimes em concluir que a suplementação de vitamina D praticamente não provê proteção para nenhuma dessas doenças citadas.

    "Não há evidências científicas de que a vitamina D seja causadora de doenças, exceto em casos de hiperdosagem, nem que isoladamente sirva como tratamento para qualquer doença", diz Scheinberg.

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