Não é uma boa ideia aposentar a tradicional escrita à mão, com lápis e caderno, como ferramenta didática.
Estudos recentes mostram que tanto as crianças que estão sendo alfabetizadas quanto adultos podem ter vantagens no aprendizado quando colocam as palavras no papel, à maneira antiga.
No caso dos pequenos, traçar as letras com lápis e caneta parece ser uma ginástica mental mais poderosa do que simplesmente procurá-las num teclado, além de potencializar o aprendizado do vocabulário e ser mais útil contra problemas como a dislexia. Para os jovens, anotações feitas em cadernos têm mais potencial para ajudá-los a fixar o conteúdo da aula.
Continuar lendoLer e escrever, em especial do jeito tradicional, são tarefas cognitivas complexas. É preciso juntar numa única orquestra de neurônios áreas cerebrais de ação motora, de linguagem e de raciocínio.
Fernando Mola/Editoria de Arte/Folhapress | ||
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Num estudo publicado na revista científica "Trends in Neuroscience and Education", pesquisadoras observaram o que acontece no cérebro de crianças com idades entre quatro e cinco anos que estavam começando a ler.
Meninos e meninas foram divididos em três grupos. O primeiro era ensinado a traçar letras de fôrma manualmente; o segundo cobria uma linha pontilhada; o terceiro tinha de identificar a letra num teclado de computador.
Depois as crianças foram colocadas em aparelhos de ressonância magnética e reviam, lá dentro, as letras que tinham praticado.
As imagens de ressonância deram às cientistas uma ideia sobre o grau de ativação de cada região do cérebro das crianças. Tanto a diversidade de áreas cerebrais ativadas quanto a intensidade dessa ativação foram mais acentuadas nos pequenos que tinham sido treinados a escrever as letras "do zero".
Para os autores, os achados apoiam a hipótese de que a escrita tradicional ajudaria o desenvolvimento mental infantil, em especial na capacidade de abstração.
Isso porque a criança precisa conseguir perceber que um "a" é sempre um "a", por exemplo, independentemente da letra ou da fonte usada.
O resultado desse processo pode ser percebido em alunos de universidades. Um artigo na revista "Psychological Science" mostrou que aqueles que anotavam o conteúdo de palestras à mão retiveram mais da aula do que os que usaram notebooks.
Ao anotar à mão, o aluno precisa reorganizar os dados da aula com sua própria lógica, o que o ajuda a entender melhor o que o professor está explicando.
Segundo Angela de Cillo Martins, coordenadora pedagógica de educação infantil e do primeiro ano do ensino fundamental do colégio Dante Alighieri, em São Paulo, a facilidade com que crianças pequenas e até bebês manipulam tablets e smartphones hoje não tem levado a um desinteresse pela escrita à mão na fase pré-escolar.
"Nas séries iniciais, o objetivo principal é o contato constante da criança com a escrita. Para isso, usamos vários recursos, como computadores, tablets, lousas digitais, folhas avulsas e cadernos", diz Angela. Embora os alunos do ensino médio recebam tablets, em sala de aula continuam escrevendo em caderno, de acordo com ela.
"A grande vantagem na alfabetização é que, para as crianças dessa idade, o ato de escrever está muito associado ao ato de desenhar, o que incentiva os alunos a manipular o lápis e a caneta", diz Eloiza Centeno, coordenadora pedagógica de educação infantil do colégio São Luís.
"Mais tarde, a gente nota uma facilidade maior com o teclado quando a questão é ter fluência e velocidade para escrever", conta. "Não acho que seja o caso de usar aqueles exercícios antigos de caligrafia, mas dá para trabalhar a fluência e a legibilidade na escrita à mão, até porque é uma habilidade ainda indispensável no vestibular."
Comentários
Ver todos os comentários (3)jesper39
08/07/2014 18h00 DenunciarCarcará
08/07/2014 12h58 DenunciarMinha professora de português do curso ginasial (anos 70), já dizia: "Quem escreve, aprende duas vezes".
Bel
08/07/2014 09h01 DenunciarOs sinais (signos) fixados pela escrita cursiva parecem ser mais pertinentes à captação (cognição) natural dos sentidos; e que aliados ao desenho e às demais formas de expressão humana manifestam um caráter pessoal, individual e ao mesmo tempo universal. É o que eu penso e escrevo (manuscrito) que me torna um ser único, porém semelhante àqueles que da mesma forma procedem...
Há alguns dias, fui comprar duas pecinhas numa loja de ferragem. Cada uma custa R$0,80.....Dei R$ 2,00; e o rapaz que me atendeu, pegou uma máquina da calcular....Perguntei p´ra que,... ele simplesmente disse: - P´ra calcular o troco, né???? Fiquei envergonhado, não por mim, por ele.......