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    Comunidade gay se divide quanto a terapia preventiva contra HIV

    MONIQUE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    19/07/2014 01h50

    Dois anúncios nas últimas semanas alertaram para a necessidade de novas políticas para conter a Aids, especialmente entre as populações de maior risco. Primeiro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendou, na sexta (11), que homens saudáveis que fazem sexo com homens considerem o uso diário de drogas antirretrovirais como método adicional para prevenir a infecção pelo HIV.

    Logo depois, na quarta (16), um relatório da ONU mostrou que o número de novas infecções aumentou 11% no Brasil entre 2005 e 2013. Segundo o Ministério da Saúde, o crescimento foi puxado pela alta circulação do vírus entre jovens homens gays.

    No Brasil, há o fenômeno da epidemia concentrada nessas populações e, por isso, elas voltaram a ser o centro de atenção de novas políticas e recomendações.

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    O designer Marcio Caparica, 35, fundador do blog Lado Bi, de cultura LGBT
    O designer Marcio Caparica, 35, fundador do blog Lado Bi, de cultura LGBT

    Especialistas apontaram caminhos para a superação desse cenário, incluindo mais campanhas de prevenção a esses grupos e diagnóstico e tratamento precoces.

    Mas a população afetada por essa política se divide quanto ao uso do remédio e o medo da volta de um estigma de "grupo de risco".

    "Foram 30 anos de luta contra o preconceito", afirma a transexual Francisca Carmona, 38, cabeleireira. Segundo ela, a OMS poderia ter feito a recomendação de forma mais ampla, para todas as pessoas que têm maior risco de se infectar com o HIV.

    A população carcerária e casais sorodiscordantes (quando um dos parceiros é negativo e outro positivo) também são citados por ativistas como populações de maior vulnerabilidade à infecção que requerem a adoção do medicamento –e não só por parte dos homens que fazem sexo com homens.

    Editoria de Arte/Folhapress

    "Há homens, mulheres e idosos com risco. O vírus não tem sexo nem cara", diz Aurea Abbade, presidente do Gapa-SP (Grupo de Apoio e Prevenção de Aids) há 29 anos. "O que eu gostaria de ver é a volta de palestras em escolas", diz. Para ela, a prevenção "desapareceu".

    Marcio Caparica, 35, fundador do site Lado Bi, de cultura LGBT, afirma que conservadores podem até pegar carona na indicação da OMS para tachar os gays. "Mas o que me importa são mais métodos de prevenção", diz.

    Para o infectologista Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP, a OMS está dando início a uma nova política para conter o HIV e isso deve ter efeito em diversos países, incluindo o Brasil.

    ESCOLHA
    Ativistas pedem ainda que se considerem as escolhas individuais na prevenção. "A OMS faz a recomendação geral, mas é preciso levar em consideração a autonomia do sujeito na escolha sobre como se prevenir", diz Rafael Pinheiro, 29, estudante.

    "Tem grupos que são resistentes à camisinha, outros a preferem", afirma Cláudio Pereira, presidente do Grupo de Incentivo à Vida. "Temos os protocolos, mas não se pode obrigar ninguém a nada."

    Para o jornalista Jade Augusto Gola, 31, que participou dos testes com o Truvada, medicamento usado para prevenção nos EUA, o risco é alto entre os homens que fazem sexo com homens para apostar nas políticas "de sempre".

    Nos Estados Unidos, a luta pelo direito de decisão sobre como se prevenir deu origem à campanha #truvadawhore ("prostituta do Truvada"), criada pelo norte-americano Adam Zeboski. Ele é "conselheiro de HIV" (pessoa que ajuda outras a receberem o resultado do teste).

    "O objetivo da campanha é tornar o termo divertido, já que ele já foi usado para estigmatizar quem toma o remédio", disse à Folha.

    Dot/Divulgação
    Foto da campanha #TruvadaWhore, que luta pelo direito à prevenção sem preconceitos
    Foto da campanha #TruvadaWhore, que luta pelo direito à prevenção sem preconceitos

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