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    Médico documenta terapia com derivado da maconha em filho

    GABRIELA YAMADA
    DE RIBEIRÃO PRETO

    27/07/2014 01h31

    Com um filho portador da síndrome de Dravet, forma grave de epilepsia, o médico do Hospital das Clínicas da UFMG Leandro Cruz da Silva, 50, encontrou na compra ilegal de um composto da maconha a solução para as crises convulsivas da criança.

    Há dois meses ele importa dos EUA pastas de CBD (canabidiol), um composto não psicoativo presente na maconha. Naquele país, o produto é legal. O resultado do tratamento caseiro é filmado pelo próprio Silva, que disponibiliza os vídeos na internet.

    As imagens mostram o menino Benício com crises convulsivas antes do CBD.

    Bruno Figueiredo/Odin/Folhapress
    O médico Leandro Cruz Ramires Silva, 50, trata o filho Ben’ício, 6, com pasta de canabidiol (CBD) misturada ao iogurte
    O médico Leandro Cruz Ramires Silva, 50, trata o filho Ben’ício, 6, com pasta de canabidiol (CBD) misturada ao iogurte

    A pasta é misturada a óleo de gergelim e colocada em iogurte. Em um dos vídeos o médico ensina como preparar a mistura. "Se eu for acusado de alguma coisa, vou embora do país", disse. "A questão é entre a vida e a morte."

    Como não há regulamentação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), não existe a dosagem indicada a ser dada. Silva dá à criança uma quantidade que o fabricante sugere.

    Pesquisas já demonstraram os efeitos terapêuticos do CBD. No Brasil, o uso é proibido pela Anvisa, mas a reclassificação do composto está em discussão."Sei que é crime, mas não há lei ou autoridade que vai me impedir de dar CBD ao meu filho", disse Silva.

    Desde que tomou o CBD pela primeira vez, em 29 de abril, Benício, 6, teve apenas seis crises convulsivas leves.

    Antes, o menino sofria de cinco a seis convulsões por dia, segundo Silva.

    O menino teve a primeira convulsão aos cinco meses de idade e já foi internado 48 vezes. "Hoje ele tenta se comunicar com sons, sobe a escada, come sozinho. Ele não fazia nada disso antes", afirmou. Além da síndrome, Benício é autista, segundo o pai.

    O menino toma 15 pílulas de cinco anticonvulsivos diariamente, além de duas doses do CBD. A partir deste domingo (27), em decorrência da evolução clínica, ele deixará de tomar um dos remédios, segundo Silva.

    IMPORTAÇÃO

    Para importar a pasta, Silva conta com o auxílio de um amigo brasileiro que mora em Orlando. Cada tubo custa R$ 1.400. Ele deposita o valor na conta de um doleiro, que o repassa ao amigo. O tubo é descaracterizado, tornando-se semelhante a um frasco de tinta. Depois é colocado dentro de um conjunto infantil de tintas e despachado pelo serviço de correspondência, como um brinquedo.

    Nesses dois meses, por intermédio do médico, o amigo já enviou ao país, clandestinamente, pasta de CBD a cerca de 30 crianças com a mesma doença de Benício.

    "Sou um médico e não posso negar o benefício a outras pessoas", afirmou.

    Para diminuir os custos, ele disse que já entrou em contato com um produtor de maconha no Canadá, cuja planta é rica em CBD e pobre em THC, um psicoativo. O objetivo é comprar sementes e ele mesmo fazer a plantação da maconha e a extração do CBD.

    O presidente do CRM-MG, Itagiba de Castro Filho, disse que o médico tem de procurar a Anvisa para obter a autorização para importar o CBD, e não o conselho.

    Segundo ele, o fato de Leandro importar a pasta de CBD de forma clandestina não caracteriza irregularidade na atuação médica. No entanto, ele lamentou. "É triste que isso aconteça", afirmou.

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