• Equilíbrio e Saúde

    Saturday, 27-Apr-2024 12:40:37 -03

    Livro desvenda mitos sobre sexo mais comuns entre adolescentes

    MONIQUE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    29/07/2014 02h00

    Ainda há mitos que rondam a sexualidade dos jovens como nas gerações passadas.

    E hoje, é o excesso de informação e a ausência de orientação qualificada que dão espaço para novas crenças, segundo Aaron Carroll e Rachel Vreeman, professores de pediatria da Universidade de Indiana (EUA) que acabam de lançar o livro "Don't Put That in There!: And 69 Other Sex Myths Debunked" (algo como "Não Coloque Isso Naquilo e outros 69 mitos sobre sexo desvendados").

    "Há mais conhecimento disponível, mas isso significa também que há mais informação errada", afirmou Rachel Vreeman à Folha.

    "Muitos preconceitos são ditos com roupagem científica na forma de 'regras'."

    Editoria de Arte/Folhapress

    O rapaz, se não está ejaculando como no filme pornô, já chega ao consultório dizendo que tem ejaculação precoce. E a moça ainda diz que quer evitar a pílula porque pode engordar.

    As crenças, diz a autora, ganham mais força quando têm por objeto um tabu, como o sexo anal. Um dos mitos diz que a prática facilita o surgimento do câncer. Os autores dizem que até há uma associação entre o HPV, vírus sexualmente transmissível, e o câncer colorretal, mas não uma relação entre a prática sozinha e a doença.

    O que era verdade antes também pode acabar virando mito com os avanços da medicina. Hoje, os DIUs (dispositivos intrauterinos) modernos não causam infecções, ao contrário de um modelo do passado. E as pílulas, com doses baixas de hormônios, não favorecem o ganho de peso.

    Nos consultórios, a percepção é de que mitos aumentam os riscos à saúde. "O jovem sabe que deve usar camisinha, mas tem quem pense que isso não vale para a primeira vez", diz Paulo César Pinho Ribeiro, professor de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. "O adolescente não tem condições de digerir muito do que vê na rede", diz Maurício de Souza Lima, hebiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo.

    Dúvidas comuns e individuais, como tamanho do pênis e medos relacionados à masturbação, segundo especialistas, sempre surgem e demandam atenção personalizada -dos pais e de médicos.

    Segundo o último PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde Escolar), do IBGE, 89,1% dos alunos do 9º ano do fundamental (antiga 8ª série) dizem ter tido informações sobre doenças sexualmente transmissíveis na escola.

    Essas instruções, porém, nem sempre levam a práticas saudáveis. "Elas devem vir com uma comunicação verdadeira", afirma Lima. "E isso quer dizer, por exemplo, que os pais deixem de ter expectativas de que a iniciação sexual do jovem simplesmente não vai acontecer."

    DON'T PUT THAT IN THERE!
    Editora St. Martin's Griffin
    Preço US$ 8,80 (e-book),269 págs.

    Confira mais crenças desvendadas pelo livro:

    *

    Sexo oral é totalmente seguro
    O sexo oral só é mais seguro em relação à gravidez - para as doenças sexualmente transmissíveis, há riscos tanto para quem faz (se a infecção está na genitália) quanto para quem recebe (se a condição é na boca). Herpes, gonorreia e clamídia, por exemplo, podem ser igualmente transmitidas tanto pelo sexo oral quanto pelo sexo com penetração. O HPV, vírus associado ao câncer de colo de útero e câncer colorretal e transmitido pelo sexo, também está relacionado ao câncer de garganta.

    *

    A prática de sexo anal causa hemorroida
    A hemorroida, inflamação de veias ao redor do ânus, é uma condição relativamente comum (cerca de 50% dos adultos já tiveram pelo menos um episódio), causada por pressão no baixo ventre. Grávidas e obesos, por isso, têm mais chance de tê-la. O sexo anal só pode piorar um quadro já instaurado, mas não é a causa.

    *

    Dispositivo intrauterino (DIU) provoca infecções no útero
    Essa associação é feita porque ela costumava ser verdadeira. E foi deflagrada por um tipo de dispositivo, o Dalkon Shield, tipo de DIU vendido nos Estados Unidos entre 1970 e 1974. Alguns casos mostraram que, com o tempo, o material se quebrava no interior do útero e causava as infecções. Hoje, os materiais mais modernos não apresentam esse problema. Agora, embora o DIU não seja a causa, ele não protege contra as condições causadas por DSTs.

    *

    Mulheres ejaculam como os homens
    Não há consenso sobre isso. Mulheres secretam líquidos lubrificantes quando sob excitação, mas não têm uma estrutura equivalente à próstata masculina, que armazena até 30% do fluido seminal em homens. No entanto, um grande número de mulheres reportam ejaculação durante o orgasmo e, segundo os autores, um único estudo, com apenas 38 mulheres tentou verificar a presença de algum líquido sendo secretado no clímax feminino. Os pesquisadores não encontraram evidências, mas a amostra é muito pequena para qualquer conclusão.

    *

    Sexo anal favorece o surgimento do câncer
    Estudos mostram que novos casos de câncer colorretal, tumores que acometem o intestino ou/e o reto, crescem de 2% a 3% a cada ano por décadas. Alguns especialistas, por isso, chegaram a associar esse incremento a maior prática do sexo anal. O que se sabe, no entanto, é que a prática, principalmente desprotegida, aumenta a probabilidade de contágio de DSTs, como o HPV, vírus associado a muitos casos de câncer. A relação, assim, só pode ser estabelecida entre a infecção e o câncer - e não à prática sem o contágio.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024