• Equilíbrio e Saúde

    Saturday, 27-Apr-2024 08:44:29 -03

    "Congresso deu passo perigoso", afirma diretor-presidente da Anvisa sobre volta dos emagrecedores

    JOHANNA NUBLAT
    DE BRASÍLIA

    03/09/2014 02h10

    Ao liberar a volta dos emagrecedores, o Congresso deu um passo "perigoso" do ponto de vista da saúde pública, avaliou o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano.

    Ele afirma que a volta dos produtos às farmácias não deve ser imediata, já que os registros das drogas estão cancelados pela Anvisa.

    Barbano diz, ainda, que vai propor já à diretoria colegiada da agência a aprovação de uma nova resolução que mantenha regras rígidas para a venda da sibutramina.

    Quanto às três categorias do grupo das anfetaminas e seus derivados, o diretor afirma que vai propor que elas só voltem ao mercado depois de apresentarem estudos de segurança e eficácia e que não possam ser vendidas por farmácias de manipulação.

    Barbano falou à Folha durante viagem a Tóquio, após encontro com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe.

    ★

    Folha - A Anvisa esperava a aprovação do projeto?
    Dirceu Barbano - Havia uma conjunção de pressões sobre o Congresso Nacional e, num período pré-eleitoral, acaba ficando mais aguda essa pressão.

    Como o sr. avalia a aprovação?
    Do ponto de vista da saúde pública, considero uma decisão perigosa, porque a decisão da Anvisa tem fundamento técnico, científico e legal. E a discussão das questões técnico-científicas se tornou menor no Senado. O Congresso assume o risco de liberar, para uso, substâncias que a ciência indica que não deveriam ser utilizadas.

    Promulgado o decreto pelo Senado, volta tudo a ser como era antes do veto de 2011?
    Vou propor imediatamente à diretoria colegiada da Anvisa a edição de uma resolução, que é necessária. A sibutramina não pode ficar sem controle. E, em relação a essas substâncias [femproporex, mazindol e anfepramona], o que eu vou propor é que o retorno dos produtos industrializados ao mercado só ocorra se as empresas apresentarem estudos clínicos comprovando eficácia e segurança, que elas não tinham; e que haja proibição de venda delas pelas farmácias de manipulação.

    Não há como a Anvisa não fazer isso, até porque a lei que criou a Anvisa continua vigente, e é uma responsabilidade da Anvisa [regular o mercado de medicamentos].

    O Congresso afirmou que a Anvisa extrapolou a competência legal, o que o Sr. diz?
    Não vamos discutir agora a questão jurídica, mas, de fato, um projeto de decreto legislativo só se aplica quando um órgão do Executivo extrapola o que a lei o autoriza a fazer. A lei não autoriza a Anvisa, ela determina que isso é responsabilidade da Anvisa, é um contrassenso.

    Na prática, os remédios voltarão às prateleiras já?
    Não pode voltar a vender, porque estão com os registros cancelados. Tem um tempo até a Anvisa decidir qual é o novo marco regulatório. O mercado deve, naturalmente, aguardar até que isso aconteça. Todo mundo age com muita cautela, a importação é autorizada pela Anvisa. Não é de impacto no dia seguinte. E, antes que exista algum impacto, espero que a diretoria entenda que essa é uma decisão perigosa no campo da saúde pública, que as substâncias não podem ser usadas sem a comprovada eficácia e segurança. E que o risco de manipulação na farmácia é altíssimo, porque perde o controle.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024