No prato da presidente Dilma Rousseff não podem mais entrar açúcar, pão e arroz, mesmo que sejam integrais. Até a batata-doce, atual queridinha dos esportistas, deve ficar de fora do cardápio. Bebida alcoólica, ainda que para celebrar a posse, também está proibida.

A dieta seguida pela mandatária é um tanto radical: recomenda a ingestão de cerca de apenas 800 calorias por dia, menos da metade do que ingere um adulto saudável. Outros regimes estipulam metas mais elásticas, com 1.200 calorias.

O resultado de tanto sacrifício, ao menos segundo a promessa do método Ravenna, é emagrecimento rápido. Seguindo as regras estritas, mulheres perdem, por mês, de 5% a 7% de seu peso. Homens, de 7% a 10%.

Mas o foco do método não está apenas na nutrição. Os alimentos permitidos são escolhidos por causa de seu índice glicêmico (quanto menor, menos açúcar) mas também por causa de seu potencial de serem "viciantes".

O tratamento da compulsão por comida e a mudança da relação com os alimentos são dois dos pilares do método, criado pelo médico e psicanalista argentino Máximo Ravenna.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

"Para muitos, a comida é uma adição. É companhia, compensação, conforto. Nosso papel é fazer a pessoa perceber qual papel a comida tem na vida dela. Não podemos tratar a obesidade só como uma questão nutricional, isso não se sustenta a longo prazo", diz Moema Soares, engenheira química e diretora executiva responsável pelo método Ravenna no Brasil.

O modelo desembarcou por aqui em 2009 e hoje é oferecido em três clínicas que mais parece clubes em São Paulo, Brasília e Salvador. O "módulo de ingresso" inclui quatro avaliações (médica, nutricional, psicológica e com educador físico) e custa cerca de R$ 750.

Com as orientações em mãos, os pacientes entram na etapa de "descenso", ou o emagrecimento propriamente dito. A mensalidade de cerca de R$ 1.900 (ou R$ 1.500, no plano trimestral) dá direito a consultas mensais, atividade física livre e sessões diárias nos grupos terapêuticos, nos quais os pacientes discutem sucessos e dificuldades.

A clínica tem também um restaurante que oferece menus "gourmet", pratos congelados e parcerias com estabelecimentos que oferecem um menu Ravenna.

Quando o paciente atinge o percentual de gordura ideal, passa para as fases de "transição", na qual alimentos antes proibidos começam a aparecer aos poucos no cardápio, e "manutenção". Pode ainda, posteriormente, frequentar o Clube Ravenna: fazer apenas as atividades físicas e frequentar as sessões terapêuticas.

O tratamento do paciente obeso com profissionais de diferentes especialidades e o acompanhamento após a perda de peso foram elogiados por outros especialistas.

"A abordagem é interessante porque não é apenas nutricional. Esse é, de fato, o caminho para tratar a obesidade", afirma o nutrólogo Celso Cukier.

Já Rosana Radominski, ex-presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade), faz críticas ao modelo. "Trata-se de uma estratégia para o emagrecimento rápido que traz riscos à saúde e que não deve ser mantida por muito tempo."

Walmir Coutinho, presidente da Federação Internacional de Obesidade, diz que essa é uma variação de dietas já existentes, conhecidas como dietas de muito poucos carboidratos. "É preciso ter acompanhamento médico pois há sério risco de complicações graves, como desequilíbrio eletrolítico, que pode causar arritmia cardíaca." Também há risco de desnutrição.

Moema Soares, por outro lado, afirma que os resultados rápidos estimulam os pacientes a seguirem o tratamento. Em caso de deficiências nutricionais, diz, os pacientes recebem suplementação.

Segundo Cukier, estudos mostram que dietas do tipo são difíceis de seguir e podem levar a um ganho de peso ainda maior no futuro.

"O método peca pela grande restrição de calorias e de carboidratos. Não precisa ser tão radical. A presidente Dilma vai ter que tomar cuidado para que não se torne mais uma brasileira vivendo um constante efeito sanfona."