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    Temos de tratar da vida sexual dos gordos, defende livro

    DO "NEW YORK TIMES"

    03/01/2015 02h00

    "XL Love: How the Obesity Crisis Is Complicating America's Love Life" (Amor extragrande: como a crise de obesidade está complicando a vida amorosa nos EUA), lançado agora nos EUA, tem um título deselegante, mas é um livro bastante ponderado.

    O objetivo da jornalista de saúde Sarah Varney é explorar todas as maneiras como o aumento da circunferência do corpo dos americanos afeta hábitos sociais e sexuais.

    As complicações médicas mais comuns da obesidade, como diabetes e hipertensão arterial, são bem conhecidas. As complicações mais privadas, porém, raramente são incluídas nessas listas. Mesmo profissionais experientes evitam esses assuntos delicados.

    Varney começa sua história na UTI neonatal do Centro Médico da Universidade do Mississi pi, em Jackson. A epidemia de obesidade na região levou a uma taxa desproporcional de gestações de alto risco e de bebês nascidos com sérios problemas de saúde.

    Mesmo na infância, a gordura corporal não é um peso morto. Na verdade, é um tecido metabolicamente ativo, que tende a aumentar a quantidade de estrogênio que vai para os órgãos do corpo.

    Nas meninas, o resultado pode ser o início muito precoce da puberdade; já os meninos obesos podem ter um atraso no crescimento masculino típico, desenvolvendo não só mamas pendulares de gordura, mas tecido mamário de verdade.

    Como será a adolescência de uma menina com um corpo de mulher grande, mas com a mente de uma criança? Ela vai enfrentar mais dificuldades sociais do que os colegas? E um garoto cuja gordura evoca uma imagem feminina? Dificuldade de aceitação é um problema frequentemente relatado.

    Vários estudos sugerem que os adolescentes mais pesados namoram menos do que seus colegas mais magros. Quando fazem sexo, essas experiências são frequentemente isoladas, desvinculadas de relacionamentos, com as meninas tendo especial propensão a uma intimidade mais imprudente, desprotegida, movida a drogas ou a álcool.

    Uma vez que ensino médio e faculdade terminam, os pesquisadores perdem a população cativa para estudos e fica mais difícil conseguir dados. Por isso, Varney usa uma série de entrevistas em profundidade para caracterizar os padrões de namoro e casamento de adultos seriamente obesos. Eles relatam que a fase do namoro é cruel –e o casamento, um desafio.

    A fisiologia da obesidade é capaz de inviabilizar relações sexuais. Diabetes e doenças cardíacas podem interromper o fluxo sanguíneo para os órgãos genitais e interferir no desempenho. Todo aquele estrogênio circulando tem o poder de bagunçar os ciclos menstruais das mulheres e inibir o desejo dos homens.

    Fatores puramente mecânicos também contribuem (relatórios de urologistas mostram mais e mais casos de "síndrome do pênis enterrado", com a gordura da região do baixo abdômen encapsulando o órgão). E há ainda a questão difícil da ligação entre autoimagem das mulheres e sua saúde sexual.

    Ativistas que pregam a aceitação do peso vão se queixar, com razão, que Varney não inclui entrevistas com pessoas grandes excepcionalmente felizes. Além disso, a seção final analisando o impacto da cirurgia para perda de peso sobre o casamento ("ele nunca se acostumou com o fato de ela ter recuperado a autoestima") parece a transcrição de um programa ruim de TV sobre questões da vida real.

    De qualquer forma, é difícil condenar Varney por sua marcha em um terreno difícil. Como todos os pioneiros, ela definiu um caminho que outros poderão traçar melhor.

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