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    Apenas 0,01% dos cordões umbilicais de bancos privados tiveram uso

    NATÁLIA CANCIAN
    DE BRASÍLIA

    31/01/2015 02h03

    Após dez anos da implantação dos bancos privados de sangue de cordão umbilical no país, tidos como promessa de tratamento para algumas doenças, só 13 entre 92.545 unidades armazenadas nesses locais foram usadas para fins terapêuticos.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Células tronco

    Os dados fazem parte de um relatório ainda inédito da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre o tema. Hoje, os bancos particulares respondem por 83% das unidades de sangue de cordão armazenadas no país.

    Nos 13 bancos públicos, que compõem a rede BrasilCord, há 19.284 unidades. Desse total, 175 foram usadas em transplantes.

    Para especialistas, a baixa utilização do material guardado na rede privada reacende o debate sobre a utilidade de pagar pelo armazenamento, cujo custo chega a R$ 1.000 por ano.

    Hoje, o sangue de cordão armazenado em bancos privados é restrito ao uso do paciente. Nos bancos públicos, o material pode ser usado por qualquer pessoa, desde que haja compatibilidade.

    O motivo para a aposta de ambos os lados: assim como a medula óssea, o sangue de cordão umbilical e placentário é rico em células-tronco hematopoéticas, que podem ser usadas para tratar pacientes com doenças do sangue, como leucemias.

    Mas também há limitações. Segundo a geneticista Mayana Zatz, da USP, ainda não há garantia de que o material poderá ser utilizado pela própria pessoa no futuro.

    Isso ocorre porque a quantidade de células pode não ser suficiente de acordo com o peso do paciente, ou porque algumas delas podem ter a carga genética de algumas doenças. Nesse caso, o aconselhável é utilizar o material de outro doador compatível.

    "Hoje o sangue de um cordão é suficiente para uma pessoa de até 50 kg. Se tiver mais do que isso, precisa de um segundo. E aí não adiantou nada guardar o primeiro", afirma.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Células tronco

    "O que se sabe é que o sangue do cordão umbilical é muito importante para tratar doenças hematológicas, como leucemias e anemias, mas a probabilidade de ter uma doença dessas num recém nascido é muito pequena", completa Zatz, que defende o armazenamento em bancos públicos ou que seja guardado o tecido do cordão, também rico em células-tronco.

    Do total de unidades utilizadas pelos bancos privados, só cinco foram usadas pelo próprio bebê, e três delas em protocolos de pesquisa, ou seja, como forma de testes para tratamento. O restante do material foi para parentes.

    O relatório da Anvisa aponta ainda um aumento no número de bancos particulares de cordão no país, que passaram de oito para 20 em 2013. Mas, pela primeira vez, houve uma redução de 12,5% no número de coletas de amostras de sangue.

    Para Renata Miranda, gerente de sangue, tecidos, células e órgãos da Anvisa, isso indica uma maior conscientização sobre o tema. Há dois anos, o órgão lançou cartilha em que afirma que ter o sangue de cordão armazenado em um banco privado "não é um seguro de vida".

    Mesma posição tem a ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular), para a qual os bancos privados têm alimentado um comércio baseado em "propaganda enganosa".

    OUTRO LADO

    Representantes dos bancos privados de sangue de cordão umbilical dizem que ainda é cedo para ter resultados.

    "As pessoas que doaram ainda são crianças. É esperado que nessa faixa etária haja pouca necessidade de transplantes", afirma Roberto Waddington, presidente da Associação Brasileira de Bancos de Células-Tronco.

    Segundo ele, a chance de uma pessoa da família precisar de um transplante aumenta exponencialmente com o tempo. "O próprio relatório da Anvisa mostrou que essa chance não é zero."

    Ele diz também que o armazenamento privado não é diferente, em natureza, de um teste do pezinho ou de um ultrassom para detectar malformações. "É mais uma alternativa para a família."

    Eduardo Cruz, presidente da Cryopraxis, maior banco privado de sangue de cordão no país, compara o armazenamento a um seguro "baratíssimo". "Você torce para nunca usar, mas é um valor que a família paga para estar em um setor da ciência que pode nos surpreender."

    Waddington afirma ainda que o setor sabe das suas limitações. "A ideia não é iludir o consumidor de que há uma grande chance de tratamento futura", diz.

    Além disso, ele afirma que no banco privado, ao contrário do serviço público, há a garantia de que, em caso de necessidade, o sangue do paciente estará sempre à disposição para a utilização.

    Colaborou GABRIEL ALVES, de São Paulo

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