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    Trocando corrida pelo celular, crianças podem perder habilidades motoras

    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO

    04/02/2015 02h03

    Karime Xavier/Folhapress
    Crianças que usam muito o celular podem perder habilidade motora
    Heloísa Souza,11, não desgruda do celular e usa o aparelho para ver clipes de bandas e para joguinhos

    Menos pega-pega na rua e mais videogames. Resultado: as crianças que cresceram com uma tela na mão podem ter habilidades motoras menores, e a sua dificuldade para correr ou subir em árvores preocupa pais e especialistas.

    "Você joga a bola e as crianças não conseguem pegar. Elas não sabem mais brincar: ficam tão ligados na TV, nos joguinhos...", diz a educadora física e presidente da ONG Instituto Movere, Vera Perino Barbosa.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Dicas para estimular crianças e adolescentes a fazer atividades físicas

    "São atividades que deveriam ter sido trabalhadas na primeira infância, mas elas cresceram sem isso".

    As explicações dos pais para a decadência das brincadeiras físicas misturam a violência urbana –os pais ficam mais tranquilos mantendo os filhos dentro de casa– com o próprio gosto das crianças por aparelhos tecnológicos.

    "Ela nunca gostou muito de sair", afirma a operadora de telemarketing Kelly de Medeiros, 27, sobre a rotina da filha Heloísa, 11.

    A garota é fã mesmo de joguinhos no smartphone como o Flappy Bird, em que o objetivo é fazer um pássaro desviar de obstáculos.

    "Gosto também de ver vídeos do One Directon no YouTube", conta a garota.

    Além disso, a maior parte das amizades da menina eram virtuais. O celular acabou virando o grande companheiro de Heloísa. "Parece que o celular faz parte da roupa ", diz a avó, Neide Souza.

    A inatividade trouxe consequências: com 1,60 m de altura, Heloísa já tinha superado os 80 kg. Há três meses, após a recomendação de uma médica, Heloísa começou a praticar tae kwon do.

    O problema também afeta Alef, de 11 anos. "Se puder, fica no tablet, computador ou Xbox o dia todo", diz a mãe, Juliana Freitas. A família mora na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais.

    Ela até tentou colocar o filho no basquete, já que o irmão mais velho fazia, "mas sempre reclamando". Não deu muito certo.

    Até em acampamentos a perda de habilidade motora das crianças é sentida. No Sítio do Carroção, em Tatuí, no interior de São Paulo, uma brincadeira com cipós teve de deixar de ser realizada, porque as crianças já não conseguiam mais agarrá-los como antes.

    O psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que a mudança do estilo de vida é cada vez mais evidente.

    "As preferências de relacionamento da nova geração passam pela mídia digital. "De alguma maneira, esses recursos roubam a criança daquilo que a gente imagina ser o certo a fazer", diz.

    Em termos médicos, o ideal é que as crianças façam 60 minutos diários de atividades físicas, diz a endocrinopediatra Denise Ludovico, da Associação de Diabetes Juvenil.

    No entanto, segundo ela, já é possível atingir bons resultados com crianças obesas com 40 minutos de atividades, três vezes na semana.

    Karime Xavier/Folhapress
    Heloísa começou a praticar tae kwon do há três meses, após o conselho de uma médica
    Heloísa começou a praticar tae kwon do há três meses, para sair da inatividade, após conselho médico

    Se a atração causada pelos aparelhos eletrônicos for inevitável, há ao menos videogames que respondem ao movimento, como o Wii, da Nintendo. Segundo Nabuco, seria uma maneira de tentar compensar o incompensável.

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