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    Paixão mexe com o cérebro como a cocaína, dizem cientistas

    JULIANA VINES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    25/03/2015 02h03

    Não é obra do destino nem resultado de uma conjunção astral. Segundo a ciência, o que faz uma pessoa se apaixonar por outra é uma mistura de fatores biológicos e sociais, já testados e comprovados por estudos no mínimo curiosos.

    Por exemplo: para provar que opostos se atraem, um trabalho de pesquisadores suíços descobriu a capacidade humana de "farejar" diferenças genéticas até em camisetas suadas.

    As voluntárias relatavam que o cheiro dos homens com o sistema imunológico mais diferente era mais agradável. Inconscientemente, ao buscar parceiros com tal característica, estamos fazendo com que nossos filhos tenham um arsenal imunológico mais variado, e assim sejam mais resistentes a doenças.

    Outro estudo, do psicólogo americano Arthur Aron, foi mais ousado: propôs nada menos que uma receita para deixar duas pessoas apaixonadas. Trata-se de uma lista de 36 perguntas, várias bem pessoais, que os voluntários deveriam fazer um para o outro. Sua teoria: a rápida transição do desconhecimento para a sensação de intimidade está fortemente ligada à paixão.

    Entre as perguntas, estão coisas como "quando foi a última vez que você chorou na frente de alguém?", "qual é a maior conquista que você já conseguiu?" e "diga algo que você gostou em mim que você não deveria dizer a alguém que acabou de conhecer". Veja a lista.

    A receita funcionou para a professora americana Mandy Len Catron, que recentemente relatou seu final feliz em um artigo no jornal "The New York Times". Ela própria, porém, faz uma ressalva à fórmula: se duas pessoas se dão ao trabalho de sentar numa mesa e testar uma receita de paixão, afinal, é porque elas já estão no mínimo bem dispostas sobre a possibilidade.

    No campo da bioquímica, vários pesquisadores tentam rastrear quais substâncias fazem o cérebro emitir a sensação de paixão.

    São várias: a ocitocina, hormônio relacionado à maternidade, mas também ao vínculo entre um casal, a dopamina, neurotransmissor liberado durante atividades prazerosas –ou durante o uso de cocaína–, e os opioides, também ligados ao prazer e... bom, ao uso de heroína.

    "O sistema de recompensa do cérebro faz uma conexão entre características do parceiro e as sensações. É como se nos tornássemos viciados no nosso amante", afirma Larry Young, professor da Universidade Emory (EUA) e autor de "A Química entre Nós" (Best Seller, 350 págs., R$ 45).

    FATORES SOCIAIS

    Se a biologia quer puxar a brasa da paixão para o seu lado, a antropologia estuda as consequências da natureza humana na sociedade.

    Antropologia do Amor
    Josefina Pimenta Lobato
    livro
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    Josefina Pimenta Lobato, autora de "Antropologia do Amor" (Autêntica, 144 págs., R$ 44), aponta várias características sociais comuns em relacionamentos amorosos.

    "O sucesso econômico, no caso dos homens, exerce atração nas mulheres; já a beleza das mulheres é um fator importante para eles. A atração por pessoas da mesma classe social é outro ponto a ser considerado, a maior parte dos casamentos se faz assim."

    O psicólogo Ailton Amélio, professor da USP especializado em relacionamentos amorosos, lembra que diversos estudos já mostraram que o amor acontece entre pessoas próximas, tanto no aspecto físico (entre moradores de um mesmo bairro, por exemplo), quanto ideológico, social e econômico.

    "Em geral, o amor está mais perto do que você pensa, ou seja, em um certo raio de distância", afirma.

    Para a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Instituto de Psiquiatria da USP, mais do que proximidade, é preciso aceitar perder o controle da situação.

    "Para se apaixonar é necessário um grau de desprendimento e entrega. Conheço pessoas completamente refratárias à paixão. Se você estiver no controle o tempo todo, é possível passar pela vida ileso a esse sentimento."

    Apesar de tantas teorias, o psicanalista Jorge Forbes acredita que o fator mais interessante da paixão não esteja ao alcance da ciência: "Não nos apaixonamos por quem queremos e as pessoas das quais gostamos nem sempre se apaixonam por nós. Isso é o mais inquietante e insolúvel."

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