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    Famílias ainda recorrem a canabidiol ilegal para driblar burocracia

    GABRIELA YAMADA
    DE RIBEIRÃO PRETO

    18/04/2015 02h05

    A exigência de uma série de documentos, as taxas de importação e a necessidade de buscar o canabidiol diretamente nos aeroportos são entraves que ainda levam muitas famílias a optar pela compra clandestina.

    Em janeiro, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou o uso medicinal da substância, um dos 80 princípios ativos presentes na maconha, para crianças e adolescentes.

    Mas, como não há registro de medicamentos ou produtos semelhantes no Brasil, é preciso obter autorização para importar o produto –pelos Correios ou empresas especializadas em fretes.

    "A burocracia ainda é enorme. Trazer o canabidiol legalmente para o Brasil encareceu o processo e ficou inviável", diz Juliana Paolinelli, 35, da Ama+me (Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal).

    Entre os documentos exigidos estão o laudo médico e um termo de responsabilidade assinado pelo profissional e pelo responsável legal do paciente. No documento, ambos informam estar cientes de que o canabidiol não tem registro no Brasil e que a segurança não é garantida.

    João Medeiro/Folhapress
    Canabidiol utilizado por criança de João Pessoa, na Paraíba, que sofre de epilepsia grave
    Canabidiol utilizado por criança de João Pessoa, na Paraíba, que sofre de epilepsia grave

    Por receio ou desconhecimento, muitos médicos ainda preferem não receitar o canabidiol, o que é um grande entrave à importação legal, de acordo com a servidora pública Sheila Geriz, 40.

    O filho dela, de cinco anos, é portador da síndrome de West, uma forma grave de epilepsia. Após iniciar o tratamento com o canabidiol, no ano passado, as 30 convulsões diárias do menino cessaram.

    O problema, agora, é outro: além de pagar cerca de US$ 449 por frasco comprado nos EUA, ela tem de sair de João Pessoa, onde mora, para buscar o medicamento no aeroporto de Viracopos, em Campinas. O produto dura 15 dias.

    A Receita Federal não permite que o canabidiol seja enviado pelas empresas diretamente para a casa dos pacientes. Alguns contratam um despachante aduaneiro, que cobra, em média, R$ 700.

    O personal trainer Rodrigo Henrique Araújo, 34, afirmou que continua adquirindo o óleo de canabidiol de forma clandestina para a filha, de sete anos, que tem epilepsia.

    Araújo diz que o padrasto dele, que mora nos EUA, envia o produto pelo correio como se fosse um frasco de tinta infantil. "Não vou deixá-la voltar a ter as convulsões por causa de burocracias."

    No Rio, a bancária Maria Aparecida Felício de Carvalho, 47, também diz utilizar canabidiol ilegal para a filha de 11 anos. "As crises convulsivas dela diminuíram muito. Não tenho condições de pagar pela importação."

    A Receita Federal diz que a importação de canabidiol segue as mesmas regras dos medicamentos e que não há cobrança de imposto para compras de até U$ 3.000. Para ter isenção, o consumidor deve apresentar declaração simplificada de importação.

    A assessoria do órgão também informou que a legislação impede que o produto seja entregue em casa.

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