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    Indenização da Shell pagará estudos sobre câncer em São Paulo

    VENCESLAU BORLINA FILHO
    DE CAMPINAS

    24/04/2015 02h05

    Cem mil crianças da região de Campinas serão acompanhadas do nascimento até os 18 anos por médicos do Centro Infantil Boldrini, referência em câncer infantojuvenil.

    O estudo é coordenado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e engloba 1 milhão de crianças em oito países.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O hospital de Campinas só conseguiu iniciar a pesquisa porque foi beneficiado com o pagamento de parte dos R$ 200 milhões da indenização por danos morais coletivos em um dos maiores casos de contaminação ambiental do país, o "Caso Shell", ocorrido a partir da década de 70 em Paulínia (a 117 km de SP).

    Além do Boldrini, mais quatro instituições –entre elas o Hospital de Câncer de Barretos– foram as primeiras a receber os valores repassados pelo Ministério Público do Trabalho, que entrou com uma ação em 2007 contra as empresas Shell e Basf.

    A pesquisa vai analisar hábitos alimentares, uso de medicamentos, condições de moradia e até de trabalho dos pais e relacioná-los com a incidência de câncer. Serão feitos questionários com a mãe ainda gestante.

    Segundo a presidente do Boldrini, Silvia Brandalise, se não fosse esse financiamento a pesquisa não seria possível. Ela afirmou que os outros países participantes (China, EUA, Inglaterra, Austrália, Japão, Dinamarca e Alemanha) já estão em estágio avançado do levantamento.

    A incidência da doença em crianças e adolescentes de 0 a 18 anos é de até 13 casos a cada 100 mil nascimentos. Com o dinheiro, também será construído um centro de pesquisa onde ficarão armazenados pedaços da placenta da mãe e o teste do pezinho do recém-nascido. O projeto todo está orçado em R$ 90 milhões e novos aportes poderão ser feitos.

    OUTROS CASOS

    No Hospital de Câncer de Barretos, a pesquisa vai mapear características genéticas e de ocupação de pacientes detectados com algum tipo de câncer e que passaram por exames nas carretas do câncer, que são veículos adaptados que percorrem o interior do Estado para realizar exames de prevenção da doença.

    No total, serão 350 mil exames à disposição dos cientistas. "A partir disso, teremos condições de adotar medidas de prevenção e tratamento de forma mais fácil, além de identificar o agente causador do câncer nos indivíduos", afirma Rui Reis, coordenador de pesquisa em oncologia molecular do hospital.

    O diretor-geral do Hospital de Câncer e Barretos, Henrique Prata, afirmou que o valor de R$ 69,9 milhões repassado pelo Ministério Público do Trabalho foi o maior já recebido para pesquisas. "Temos o maior banco de tumores da América Latina e os valores que recebíamos para pesquisas eram medíocres."

    Além dessa pesquisa, o hospital vai construir mais uma unidade de diagnóstico e tratamento do câncer de mama em Campinas e um laboratório em Barretos. Quatro novas carretas também serão equipadas com o tomógrafo, máquina de ressonância magnética e mamógrafos.

    Em nota, a Shell informou que estudos mostraram que a contaminação ambiental não impactou a saúde de ex-trabalhadores e seus dependentes. A Basf informou que mantém seu compromisso em se posicionar com transparência e integridade em todos os aspectos relacionados a este assunto.

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