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    Uso de maconha sintética é detectado no Brasil; veja

    GABRIEL ALVES
    DOUGLAS LAMBERT
    CARLOS CECCONELLO
    DE SÃO PAULO

    18/06/2015 02h03

    Um novo estudo, o Global Drug Survey 2015, detectou pela primeira vez que a versão sintética da maconha vem sendo usada no Brasil. No país, o levantamento é coordenado pela Unifesp.

    Os efeitos provocados pela droga são semelhantes aos da maconha convencional –como alteração de percepção–, porém mais intensos. A versão sintética causa ainda reações como convulsões e 30 vezes mais internações.

    William Mur/Editoria de Arte/Folhapress
    maconha

    A nova droga é basicamente uma planta qualquer borrifada com versões sintéticas da molécula THC, princípio ativo da maconha. Com isso, a proibição à maconha pôde ser burlada em países como Hungria, Polônia e Nova Zelândia. Nesses locais, a maconha sintética era vendida legalmente até junho de 2014.

    Como há muitos fornecedores no mercado, não é possível saber quais moléculas exatamente estão presentes nem em qual quantidade. Isso, na opinião de Adam Winstock, pesquisador do King's College London, no Reino Unido e diretor do Global Drug Survey, impediria qualquer uso seguro da droga.

    Segundo Ivan Braun, médico assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, a maconha sintética pode ainda ter concentrações muito maiores de canabinol, a principal substância ativa e causadora de dependência da maconha, além de outras drogas.

    O levantamento foi feito com 102 mil pessoas de todo o mundo, incluindo mais de 5.500 brasileiros que responderam a perguntas relacionadas a hábitos de vida, incluindo o uso de drogas –legais ou ilegais.

    A pesquisa não pode ser encarada como um retrato da população do Brasil ou do mundo, visto que os participantes da pesquisa são em média mais jovens e escolarizados e têm acesso à internet. Por outro lado, ela é capaz de revelar tendências no uso de drogas.

    No caso da maconha sintética, 1,8% dos brasileiros que responderam à pesquisa afirmaram ter usado a droga no último ano. Já 3,3% afirmaram ter usado a droga ao menos uma vez na vida.

    Pessoas que fumaram a droga relatam uma experiência desagradável."É horrível, parece uma erva podre, estragada. Até o aspecto é estranho, é meio preto e não verde", diz a estudante de psicologia Alice Reis, 21. Ela conta que comprou a droga na Nova Zelândia há cinco anos durante uma viagem de intercâmbio, pensando que, por ser um produto vendido legalmente, seria seguro.

    Ela, que trabalha com redução de danos, relata também ter usado a droga no Brasil no ano passado. "As pessoas buscam a droga porque é de fácil acesso. Dá para comprar em sites na internet. Quem quer consegue", afirma.

    Para Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra e pesquisador da Unifesp, a maconha sintética surgiu por conta da proibição das drogas. "Toda medida proibicionista leva a novas modalidades de uso das drogas, muitas vezes mais perigosas", afirma.

    Editoria de Arte/Folhapress
    maconha

    Ele considera a maconha natural uma droga segura. "Se você levar em conta o número de pessoas que usam maconha e os problemas decorrentes, a porcentagem é muito pequena, mesmo em comparação ao uso de drogas lícitas, como álcool e tabaco."

    No entanto, na opinião de Clarice Madruga, pesquisadora da Unifesp que coordenou o levantamento no Brasil, a erva continua tendo efeitos graves por influenciar a formação do cérebro.

    "O impacto cognitivo é extremamente grande no uso precoce. Para quem é jovem, o uso acarreta perda de memória e uma baixa cognitiva permanente", diz.

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