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    Sites brasileiros vendem drogas 'legais'

    CLÁUDIO GOLDBERG RABIN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    28/06/2015 02h03

    O cardápio de alucinógenos naturais é amplo na natureza –e também na internet brasileira.

    Pelos menos quatros lojas on-line colocam à disposição de qualquer pessoa cogumelos, cactos, sementes e outras ervas que contêm substâncias que alteram o estado de consciência do usuário.

    Os sites alertam que os produtos não são para o consumo humano, mas as seções de avaliação das substâncias estão repletas de comentários sobre as experiências causadas pelas drogas.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Cogumelos alucinógenos

    A legislação é ambígua: as plantas e fungos vendidos não estão na lista de proibições da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). No entanto, no texto constam as substâncias que provocam os efeitos alucinógenos.

    No caso do cogumelo Psilocybe cubensis, a substância psilocibina é proibida, mas o fungo, não. Em relação à maconha, tanto a planta (Cannabis sativa) quanto a substância (tetraidrocanabinol) estão na lista.

    "No Brasil são 150 espécies que contêm a psilocibina. É impossível para a Anvisa listar todas", diz pesquisador o Davyson Moreira, do laboratório de Toxicologia da Farmanguinhos/Fiocruz.

    O advogado criminalista Ivan Pareta diz que a venda pode ser enquadrada como tráfico de drogas caso o produto possua as substâncias proibidas pela Anvisa.

    Contudo, como muitas das lojas on-line vendem os esporos ("sementes") para o cultivo caseiro e eles não possuem a psilocibina, existe uma brecha legal para este tipo de comércio, diz o advogado.

    "Também não conheço casos de punição legal por ingestão de cogumelo. O cultivo individual não tem jurisprudência", diz Henrique Carneiro, professor de história da USP e membro do núcleo de estudos interdisciplinares sobre psicoativos.

    Produtos naturais que alteram o estado normal de consciência, como a ayahuasca, costumam ser usados em rituais. "Mas a pessoa que compra pelo site não tem informações sobre o produto. Os riscos são maiores", diz Moreira.

    "Vender qualquer substância sem saber o que é pode causar problemas. Estamos falando de coisas que não sabemos muito bem que efeitos causam", diz Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas.

    Embora os produtos não causem dependência física, essas drogas agem sobre o cérebro e podem disparar um gatilho da esquizofrenia em pessoas que têm a doença no histórico familiar. "É o cara que não voltou da viagem depois de tomar", diz Moreira.

    Duas pessoas que usaram os produtos disseram à Folha que compraram kits de cultivo caseiro e outras substâncias nos sites.

    "Eles entregam na sua casa pelo correio", conta o músico F.K., 26 anos, que cultivava o cogumelo Psilocybe. "Eu e um amigo uma vez fizemos um suco do cogumelo e fomos ao cinema. A gente ria até dos créditos", conta. Ele também experimentou sálvia, mas teve uma "bad trip".

    Já o pesquisador Pedro (pseudônimo) comprou pela internet um cacto em pó que contém mescalina, sálvia e sementes de planta Argyreia nervosa, com a qual teve uma reação alérgica. "Vendem em pó e você mistura com água. Tudo fica meio caleidoscópico."

    OUTRO LADO

    O site Jardim Xamânico afirma que nenhum dos produtos está na lista da Anvisa e que nunca teve problemas. "Não recomendamos o consumo, mas o usuário faz o que quiser". O responsável pelo site Floresta de Luz disse por e-mail que vende apenas produtos in natura. "A sociedade olha para essas coisas como se fossem drogas, o que é para nós um insulto. Recebemos a missão de disponibilizar essas ferramentas para os espíritos encarnados urbanos."

    Natureza Divina e Amazônia Botânica foram contatados e não responderam.

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