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    Escritoras americanas defendem o fim das desculpas

    TESS FELDER
    DO "NEW YORK TIMES"

    18/07/2015 02h00

    As crianças são ensinadas a pedir desculpas às pessoas que elas machucam ou ofendem, mas muitos jovens veem nessa prática uma injustiça ocasional: "Mas eu não me sinto culpado!", protestam.

    Mesmo os adultos ainda têm dificuldades sobre quando e como dizer "desculpe".

    Para Sloane Crosley, as mulheres com frequência pedem desculpas por coisas que não são sua culpa. Para entender a razão disso, ela recorreu a um estudo na revista "Psychological Science" que relatava que as mulheres tinham "um limiar mais baixo do que representa um comportamento ofensivo".

    Ainda assim, ela não ficou convencida. "Algo incongruente acontece no comportamento das mulheres que não pode ser creditado à polidez reflexiva", escreveu no jornal "The New York Times".

    Fazendo uma refeição em um restaurante, Crosley encontrou terra em sua salada. Então, ela se desculpou ao garçom e pediu para ver novamente o cardápio. Esse raciocínio, propôs ela, é uma tentativa de chamar a atenção para o fato de que quem ouve o pedido é quem deveria realmente pedir desculpas.

    É a mesma disposição mental usada quando você pede desculpas a alguém que esbarrou em você. Infelizmente, essa tática raramente traz a consequência desejada.

    "Então deveríamos parar com isso", escreveu Crosley, porque esses pedidos de desculpas sem sentido estão "ocupando um tempo que deveria ser usado para fazer declarações lógicas, expressar opiniões e transmitir impressões exatas do que queremos".

    Laura Zigman é uma autointitulada "terrível não desculpadora". Ela tem um estilo próprio de desculpas quando não sente culpa, mesmo quando deveria sentir remorso por ser, de fato, culpada do que a acusam. Ela deixou o tanque do carro quase vazio quando seu marido precisava viajar? Sua resposta: "Desculpe-me por não ser tão obcecada pelo nível do combustível quanto você!", escreveu.

    "Esses falsos pedidos de desculpas são tão embaraçosos que eles deveriam nos revoltar por mostrar nosso comportamento infantil e nossa falta de personalidade. Antes de pronunciar um deles, deveríamos parar e imediatamente (talvez até sinceramente) manifestar vergonha e remorso", escreveu ela. No entanto, não é isso que acontece.

    Buscando uma solução, ela pediu o conselho de Marjorie Ingall, fundadora do site Sorrywatch.com. A resposta de Ingall foi "pense no pedido de desculpas como um ato de decência e coragem, porque ele o é". A melhor maneira de abordá-lo, aconselhou Ingall, é "respirar fundo e saltar, como se você estivesse mergulhando de um trampolim pela primeira vez".

    Isso não parece se aplicar a muitos namoros de hoje.

    Porque se amar significa nunca ter de pedir desculpas, então não estar apaixonado significa não ter de dizer nada. Em vez disso, você pode se apoiar na muleta do "ghosting".

    Como explicou o "NYT", "ghosting" [algo como "virar fantasma"] "significa encerrar um relacionamento romântico cortando todo contato e ignorando as tentativas de aproximação do(a) ex-parceiro(a)".

    Se alguém que você namorou ou com quem teve uma relação romântica lhe enviar uma mensagem de texto e você decidir que não quer mais ver ou falar com essa pessoa, o "ghosting" manda que você dê à pessoa o tratamento do silêncio.

    Não mais telefonemas, não mais mensagens. O silêncio falará mil palavras -mas não esta: "Desculpe".

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