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    Após rejeitá-lo duas vezes, Estados Unidos aprovam 'viagra feminino'

    DO 'NEW YORK TIMES'

    18/08/2015 20h41

    Allen G. Breed/Associated Press
    Paciente mostra a pílula Addyi, produzida pela Sprout, tida como uma espécie de 'Viagra' feminino
    Paciente mostra a pílula Addyi, produzida pela Sprout, tida como uma espécie de 'Viagra' feminino

    O primeiro medicamento para aumentar o apetite sexual feminino foi aprovado nesta terça-feira (18) pela FDA, a agência americana responsável.

    A droga se chama Addyi e é produzida pela farmacêutica Sprout. Na verdade, em tese se trata do primeiro medicamento para aprimorar a libido em ambos os sexos, embora todo o projeto tenha sido desenvolvido visando as mulheres. O Viagra e outros remédios masculinos servem para criar ereções, não para aumentar o desejo.

    "É o maior inovação para a vida sexual feminina desde a pílula anticoncepcional", afirmou Sally Grennberg, diretora da Liga Nacional dos Consumidores.

    Especialistas, porém, dizem que a flibanserina não é livre de riscos, que incluem diminuição da pressão arterial, desmaios, sonolência, náuseas e tonturas.

    Excitação feminina

    Anteriormente, a FDA havia rejeitado por duas vezes a droga, em 2010 e 2013. Grupos feministas vinham acusado a FDA de retardar a aprovação do medicamento por machismo. Segundo as ativistas, remédios para homens eram aprovados com mais facilidade.

    A farmacêutica Sprout pagou parte dos custos que entidades que participaram do lobby, como o National Council of Women's Organizations (grupo que congrega várias associações de mulheres), o Black Women's Health Imperative (voltado para a saúde de mulheres negras), a Association of Reproductive Health Professionals (associação de profissionais que atuam na saúde reprodutiva) e a própria liga de consumidores.

    No outro lado, alguns médicos afirmam agora que o ativismo fez o órgão ficar acuado e que a aprovação negligencia os efeitos colaterais da droga.

    Um grupo de cientistas, liderados por médicos da Georgetown University Medical Center, organizou um abaixo-assinado com mais de cem assinaturas dizendo que "tal campanha relações públicas financiada por uma farmacêutica é algo sem precedentes e injustificável".

    A Associação Holandesa de Sexologia protestou em carta à FDA dizendo que a droga parte do pressuposto errôneo de que a falta de desejo sexual é uma anormalidade, quando ele pode ser mero fruto da falta de estímulo adequado.

    Uma questão importante é que o medicamento não deve ser utilizado por mulheres que bebem álcool, porque isso aumenta o risco de desmaios. Leonore Tiefer, da New York University School of Medicine, afirmou que isso vai causar problemas. É absurdo acreditar que mulheres jovens tomando Addyi vão se abster de beber, afirmou, também em carta à FDA.

    EFICÁCIA

    A eficácia do medicamento segue polêmica. Um dos testes clínicos mostrou que as mulheres que estavam tomando o medicamento relataram 4,4 "experiências sexuais satisfatórias" por mês, contra 3,7 de um grupo de mulheres tomando placebo (ou seja, pílulas sem princípio ativo, com o objetivo de comparação) e 2,7 antes do estudo começar.

    A decisão do FDA não foi uma surpresa, porém, já que um comitê de especialistas já tinha recomendado a aprovação da droga. Por causa das preocupações de que o medicamento seria utilizado de maneira pouco criteriosa pelos pacientes, a farmacêutica se comprometeu a não fazer anúncios publicitários na TV e no rádio por 18 meses após a aprovação.

    O preço do Addyi ainda não está definido. Pacientes deverão tomá-lo todas as noites e é preciso esperar algumas semanas de uso antes de surtir efeito. As vendas nos Estados Unidos devem começar em outubro.

    O uso só foi aprovado para mulheres antes da menopausa -ou seja, o uso por mulheres após a menopausa ou mesmo por homens ainda tem de ser melhor testado e, se ocorrer, se dará fora das recomendações da FDA.

    'Viagra feminino'

    Especialistas no setor farmacêutico falam que provavelmente a Sprout vai se preocupar primeiro em aprovar o uso em mulheres que já tiveram a menopausa e em vender o produto em mercados de outros países. O possível uso por homens ficará para depois disso.

    O medicamento funciona alterando o equilíbrio de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina no cérebro da paciente. Ele foi desenvolvido originalmente como um antidepressivo pela Boehringer Ingelheim. A empresa vendeu a fórmula para a farmacêutica Sprout logo após a negativa dos consultores da FDA em 2010.

    PERGUNTAS E RESPOSTAS

    1- O que é?

    A flibanserina é um medicamento para tratar a falta de desejo sexual de mulheres em idade pré-menopausa com uma redução persistente e inexplicável da libido. A droga foi desenvolvida originalmente para ser um novo tipo de antidepressivo

    2- Como ela funciona?

    Tomada diariamente, ela atua sobre substâncias do cérebro ligadas ao humor e ao apetite

    3- É igual ao Viagra?

    É diferente e possui outro mecanismo de ação. O Viagra é utilizado para tratar a disfunção erétil causada por uma redução do aporte sanguíneo para o pênis

    4- A droga está aprovada?

    A FDA (agência americana) acaba de aprovar sua venda nos EUA do medicamento, após ter analisado a eficácia e a segurança da droga

    5- Tem no Brasil?

    Antes da droga chegar às farmácias do país, a fabricante deve pedir aprovação para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Depois de aprovada, a droga poderá ser comercializada

    Ainda não há previsão sobre quando isso deve acontecer, embora a regra geral seja que as farmacêuticas busquem rapidamente vender o seu produto em mercados estrangeiros, aumento seus lucros

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