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    Exercícios para a garganta podem ajudar a reduzir ronco, mostra estudo

    GABRIELA MALTA
    DE SÃO PAULO

    21/08/2015 14h00

    Pesquisadores do Laboratório do Sono do Incor (Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP) desenvolveram uma técnica de tratamento do ronco que pode até torná-lo quase imperceptível.

    A técnica consiste em exercícios que já eram usados por fonoaudiólogos no tratamento de pacientes com os músculos de cabeça, do pescoço e da língua comprometidos –por causa de uma cirurgia, por exemplo.

    São seis exercícios que fortalecem os músculos envolvidos no aparecimento do ronco e da apneia do sono. Basicamente eles envolvem movimentos da língua –como empurrá-la contra o céu da boca e deslizá-la para trás–, do céu da boca e dos músculos da bochecha.

    A Escala do Ronco

    Um dos exercícios é feito durante a alimentação, quando o paciente deve alternar com qual lado da boca irá mastigar. Outro é deglutir apoiando a língua no palato (céu da boca).

    Os pesquisadores do Incor decidiram, então, aplicar tais exercícios na medicina do sono, em pacientes cuja queixa principal era o ronco.

    Foram 39 pacientes, diagnosticados com apneia leve ou moderada ou apenas com ronco primário –ligado ao afrouxamento dos músculos da região da garganta, com idade entre 20 e 65 anos, de ambos os sexos, que foram divididos em dois grupos: o grupo terapia e o grupo placebo.

    Os pacientes do grupo terapia fizeram os seis os exercícios por três meses, todos os dias. Os pacientes do grupo placebo fizeram outros exercícios, para respiração nasal –incapazes de surtir efeitos na musculatura envolvida na produção do ronco e da apneia.

    Os participantes eram acompanhados por fonoaudiólogos, que passavam os exercícios em consulta semanal, e depois praticavam em casa, três vezes por dia, "como uma tarefa", conta Vanessa Ieto, fonoaudióloga do Incor e autora da pesquisa.

    A prática dos exercícios não eliminou completamente o ronco, mas 70% dos participantes apresentaram redução do volume do ronco, e 35% tiveram redução do número de episódios de ronco durante a noite.

    A medição do ronco foi feita por polissonografia, exame que mede uma série de parâmetros fisiológicos durante o sono, e por um gravador, para registrar o número total de roncos por noite. Os pacientes e seus companheiro de quarto também responderam a questionários sobre ronco e qualidade do sono.

    BRIGA NO QUARTO

    O ronco é o ruído provocado pela passagem do ar nas vias aéreas superiores, quando essa passagem está mais estreita, e esse estreitamento pode acontecer por causa de uma obstrução física na passagem, como amídalas e adenoides (conhecida como carne esponjosa) hiperinfladas; alterações anatômicas (como desvio de septo ou queixo retraído), e causas pontuais como posição na cama –dormir de barriga para cima aumenta a possibilidade de roncar–, consumo de bebida alcoólica e uso de medicamentos sedativos, que promovem relaxamento da musculatura.

    Karime Xavier/Folhapress
    Francisco Loureiro, 49, que foi diagnosticado com ronco e participou da pesquisa do Incor
    Francisco Loureiro, 49, que foi diagnosticado com ronco e participou da pesquisa do Incor

    O ronco também pode acontecer devido à flacidez dos músculos da região da faringe –é o chamado ronco primário– ou estar ligado a apneia obstrutiva do sono –paradas respiratórias durante o sono.

    O estudo do Incor estudou o efeitos dos exercícios musculares em pacientes que tinham ronco primário ou apneia do sono de leve até moderada.

    "Entendemos que se o ronco acontece por outros motivos que não a apneia ou a flacidez dos músculos, o paciente deve primeiro tratar esses problemas e, depois, se o ronco persistir, pode tentar os exercícios", diz Vanessa.

    "É importante dizer que os exercícios não são indicados para qualquer um. É preciso obter o diagnóstico correto do ronco, e o acompanhamento do fonoaudiólogo, para que se tenha certeza de que os exercícios estão sendo feitos corretamente", afirma Geraldo Lorenzi Filho, presidente da Associação Brasileira do Sono e coordenador da pesquisa do Incor.

    O último estudo epidemiológico do sono na cidade de São Paulo, realizado em 2007 com 1042 pessoas, apontou que 33% da população sofria com apneia.

    NÃO É PARA TODOS

    Luciane de Mello Fujita, pneumologista e médica do sono da ABS e do Instituto do Sono, diz que já utiliza exercícios de fonoaudiologia no consultório, mas que os exercícios não são indicados para todos os pacientes.

    "O paciente obeso que ronca, por exemplo, não vai melhorar com esses exercícios. Eles são indicados para pacientes que têm flacidez musculatura da garganta ou apneia que não responderam bem aos tratamento convencionais", diz.

    É o caso da assistente social Marisa Cury, 56, que faz os exercícios há três meses. Ela tem asma e foi diagnosticada com apneia do sono. Ela conta que procurou tratamento médico porque acordava cansada e sentia muito sono ao longo do dia.

    "O tratamento que me indicaram foi o CPAP [máscara que abre as vias aéreas por meio de um fluxo de ar], mas eu não queria usar. Fiquei desconfiada de dormir com uma máquina ligada na tomada."

    Diante da recusa em fazer o tratamento, então, ela foi selecionada para participar da pesquisa do Incor.

    "Melhorei bastante. Meu marido conta que eu melhorei e percebo que consigo dormir uma noite inteira. Agora que eu ronco só de vez em quando e ele também consegue dormir a noite toda", diz.

    Karime Xavier/Folhapress
    Francisco Loureiro, 49, pratica exercícios fonoaudiológicos para tratar ronco
    Francisco Loureiro, 49, pratica exercícios fonoaudiológicos para tratar ronco

    A indicação é que os exercícios sejam feitos três vezes ao dia, por oito minutos. Os pesquisadores contam que aconselham os pacientes a praticarem os exercícios durante atividades cotidianas, como garantia de que não vão abandonar o tratamento.

    "É uma alternativa interessante, mas é complicado garantir que o paciente vá praticar os exercícios todos os dias" diz Luciano Ribeiro, neurologista e médico do sono da ABS.

    O gerente de restaurante Francisco Loureiro, 49, está em tratamento no Incor há dois anos e diz que faz os exercícios todos os dias.

    "Como trabalho de noite, acabo não fazendo as três vezes recomendadas, mas pelo menos de manhã e de tarde eu faço. Prefiro fazer os exercícios do que voltar a roncar", diz.

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