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    Mais resistente, 'supergonorreia' deixa autoridades em alerta

    MARIANA VERSOLATO
    ENVIADA ESPECIAL A COPENHAGUE

    24/10/2015 02h02

    O medo de uma tal de supergonorreia tem deixado autoridades de saúde do mundo todo de cabelo em pé.

    A bactéria causadora da doença, antes considerada um tanto boba e inofensiva, já mostra sinais de resistência aos antibióticos disponíveis e fez acender um sinal de alerta em vários países, incluindo o Brasil.

    Desde 2008, o número de casos de gonorreia na Europa cresceu 79%, segundo relatório recente do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças. Nos EUA, os casos aumentaram 8,2% entre 2009 e 2013.

    Com mais bactérias circulando por aí e, portanto, mais antibióticos sendo usados contra elas, aumenta a pressão seletiva para que sobrem apenas as mais resistentes, lembra Ralcyon Teixeira, supervisor do pronto-socorro do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, em São Paulo. O uso indevido de antibióticos também contribui.

    Neste ano, a Inglaterra registrou um surto de gonorreia resistente ao antibiótico azitromicina no norte do país, segundo a Associação Britância de Saúde Sexual e HIV. Japão, França e Espanha registraram nos últimos anos casos de gonorreia resistente ao medicamento padrão, a ceftriaxona. E estudo publicado na revista "New England Journal of Medicine" relatou uma nova cepa de bactéria resistente na Austrália.

    Nos EUA, pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças já estão até sequenciando o DNA da bactéria para fazer testes que digam rapidamente se a infecção do paciente é resistente a essa ou aquela droga.

    "A gonorreia sem tratamento é inevitável, só uma questão de tempo", disse Colm O'Mahony, consultor de medicina geniturinária no Countess of Chester Hospital (Inglaterra), em palestra no Congresso Europeu de Dermatologia, em Copenhague. "E a indústria não está interessada em desenvolver novos antibióticos."

    De fato, o investimento em antibióticos, de forma geral, tem caído. Em 2008, 8 das 15 grandes farmacêuticas haviam abandonado seus programas de descoberta de antibióticos e duas delas tinham feito cortes nessa área na década passada, segundo a Organização Mundial da Saúde.

    Isso porque as pesquisas são caras e a resistência bacteriana pode diminuir o tempo de vida das drogas. Antibióticos são usados por pouco tempo, ao contrário de remédios para doenças crônicas, e ainda há remédios genéricos que conseguem tratar a maioria das infecções.

    Infográfico: Supergonorreia

    SP, RIO E MINAS

    No Brasil, um novo protocolo de tratamento, lançado pelo governo há duas semanas, passou a contraindicar o uso do antibiótico ciprofloxacina (até então o tratamento padrão, de dose única e oral) contra a gonorreia nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

    Estudos nesse locais demonstraram a circulação de cepas de gonococos resistentes ao medicamento. A recomendação agora é usar uma droga injetável mais nova, chamada ceftriaxona.

    Segundo Adele Benzaken, diretora adjunta do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, o governo já iniciou um estudo nacional, em duas capitais por região, para verificar se há cepas resistentes também em outros Estados.

    Há ainda um projeto de notificar os casos de gonorreia em homens –nas mulheres, em geral a doença é assintomática–, o que permitirá estimar se os casos têm crescido ou aumentado no país. Hoje, não há esses dados.

    Quem trabalha em pronto-socorro, porém, percebe um aumento de casos na prática –não só de gonorreia, mas também das outras infecções sexualmente transmissíveis.

    "A impressão é que as pessoas estão se protegendo menos. Estamos na era do sexo sem camisinha", diz Ralcyon Teixeira, do Emilio Ribas. "Em grande parte é por causa da impressão de que a Aids virou 'apenas' uma doença crônica, mas sabemos que não é assim. E outras doenças, como a gonorreia, continuam por aí."

    A jornalista viajou a convite da Novartis

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